terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

CONCERTOS DE PSALTÉRIO, RABECA E VIOLA

Por Fernando Canto

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Rabeca
 
 Viola

Sempre quis saber como se divertiam os membros das comitivas nobiliárquicas que vinham para a Amazônia no século XVIII. Naturalmente que as condições estruturais e climáticas não eram lá espetaculares para se fazer festas, embora as pessoas, com seus cargos e funções, tivessem responsabilidades inerentes a eles e nem sempre pudessem comemorar algo, a não ser suas conquistas ou datas magnânimas para o Cristianismo. E era uma época em que a Igreja ainda estava atrelada ao poder dos governos europeus (com raríssimas exceções), e estes ao poder papal. Toda expedição que se prezava tinha a bordo um capelão, um padre escrivão ou mesmo padres missionários e confessores prontos para as missões as quais eram destinados.

Mas foi lendo o Compêndio das Eras da Província do Pará, de Antonio Ladislau Monteiro Baena (UFPA, Belém, 1969) que pude constatar a participação desses membros em recreações coletivas. E tem muito a ver com a história de Macapá.

Tendo que voltar ao Rio Negro em 16 de janeiro de 1758, o capitão-General Francisco Xavier de Mendonça Furtado, “porque foi avisado pelo Plenipotenciário e Primeiro Comissário Castelhano de que no ano subseqüente se havia de achar indefectivelmente com a sua Partida na Povoação de São Fernando. Nesta viagem seguido do Ouvidor Corregedor Pascoal Abranches Madeira Fernandes demandou as Aldeias missionárias pelos Jesuítas (inclusive a povoação de Macapá, que seria elevada à Vila no dia 4 de fevereiro desse ano) para praticar a Lei de 6 de junho de 1755, que lhe permitia converter em Vilas aquelas que tivessem circuito capaz deste predicamento, e em Lugares aquelas cuja população fosse menos considerável, ficando tudo sujeito à jurisdição do Ordinário. Na nomeação dessas novas Vilas e Lugares para esquivar-se de ser onomaturgo adota as denominações das que em Portugal pertencem à Coroa, Casa de Bragança, Terras do Patrimônio da Rainha, Infantado e Ordem de Cristo. Nesta extensa digressão certas pessoas do seu séqüito o recrearam com danças e concertos de psaltério, rabeca e viola, e outros prazeres da graciosa humana sociedade”.

Ninguém pode ser preciso quanto ao tipo de dança que essas pessoas executavam, mas pela tradição é possível que o “Vira”, tenha sido o canto e a dança que realizavam na época, até por ser muito popular em Portugal. ”O nome provém da coreografia onde os pares, em fileiras opostas, devem virar rapidamente evitando mostrar as costas ao companheiro”. Não se pode descartar também o “Malhão”, uma dança antiga com origens nas províncias do Norte de Portugal e muito praticada no Brasil Imperial pelos próprios portugueses. Segundo nos conta Mário de Andrade no seu Dicionário Musical Brasileiro o Malhão é semelhante à polca da dança moderna.

Mas o que dizer desses instrumentos trazido pelos colonizadores que viajavam por toda a Amazônia fundando cidades, vilas e lugares? Esse estranho nome psaltério é o mesmo saltério, “instrumento de cordas pinçadas com os dedos, da família das cítaras de mesa, cuja caixa de ressonância tem formato retangular, trapezoidal ou triangular” (M.A.). A palavra tem origem no grego “psallo”, que significa pinçar uma corda, mas o instrumento é originário do canún árabe, que por sua vez é instrumento de cordas dedilhadas, que já era conhecido na Europa desde o século XIII. Já a rabeca é um tipo de violino que se popularizou no Brasil e nos enriqueceu o vocabulário com expressões tipo “Rabecada” (reprimenda), “afinar a rebeca à custa do próximo” (censurar, criticar) e “rabequista”, que quer dizer músico medíocre ou sujeito assanhado. A viola também é um instrumento de cordas dedilhadas, semelhante ao violão, com uma caixa de ressonância em forma de oito, e um braço dividido em trastes em cuja extremidade as cordas são fixadas e afinadas por cravelhas. Essas cordas são dispostas em pares e seu número varia entre dez, doze e até quatorze, com afinações diversificadas.

Neste texto fica pendente a última parte da citação de Baena. Mas creio que os “outros prazeres da graciosa humana sociedade” devia ser o vinho, pois numa época em que navegar com velas era um suplício não havia nobre que aguentasse chegar em terra sem tomar um bom vinho do Porto (Do Livro “Adoradores do Sol”, Scortecci. São Paulo, 2010).

Imagens disponíveis em:

Psatério: http://www.funjdiaz.net

Rabeca: http://www.fandangodoparana.blogspot.com

Viola: http://www.packerplayers.blogspot.com

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