quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

FARROZ,UM AMIGO DE INFÂNCIA

Por Tito Melo
Ainda guardo comigo lembranças dos tempos do Morro do Sapo, dos moleques de pés descalços trilhando as ruas piçarrentas e empoeiradas,com suas baladeiras enfiadas em seus calçòes de cáqui ou brim,perseguindo as rolinhas que vinham mariscar nos imensos quintais com árvores frutíferas que atraíam,também,periquitos, pipiras,bem-te-vis,suís e outros passarinhos que coloriam a paisagem de nossa infãncia.

Era um tempo de sonhos e descobertas,de fascínio e crenças,de alegrias e dificuldades, mas, sobretudo, de encantamento,de contato próximo com a natureza e da livre forma de pensar,sentir e agir,alheios às amarras que hoje tolhem a liberdade do encontro.

Macapá ainda era uma pequena cidade, traçada por ruas estreitas,de casas simples cobertas, em sua maioria,de palha,entrecortada por pequenos lagos,igarapés e área de frágeis pontes por onde transitavam seus moradores e trabalhadores humildes em direção à Doca da Fortaleza.

Foi nesse cenário que conheci um menino dentuço recém chegado de Óbidos,de estatura franzina e sotaque do interior,fascinado pelo grande rio que banha Macapá,maravilhado com os barcos que ancoravam próximos à Fortaleza, enfeitados com bandeirinhas multicores,recebendo os sussurros da brisa que tangia segredos e estórias de iaras,sereias e botos encantados.

Os longos quintais de nossas casas próximos um do outro, foram palco de nossas travessuras e brincadeiras,prolongadas pelas investidas sorrateiras às hortas do japonês,onde frutas e hortaliças eram surrupiadas pela molecada que invadia às escondidas para se deliciar com as frutas e hortaliças que nos saciavam depois de longas caminhadas e investidas pelos sítios que completavam aquele mundo verde.

Constantemente nos encontrávamos na ladeira do Morro do Sapo, onde seu pai Tonico possuía uma mercearia e lá comprávamos donzela,pirulitos,bazuca,foguetinhos e bombas para estourar nas festas juninas, e na volta da escola era de praxe vir chutando lata, espirrando água dos buracos empoçados, chupando picolé no Bar Teco-Teco, azucrinando, também,o Manjuba e o Camarão Frito, além de irritar Seu Gama, jogando pedras no taperebazeiro que ficava dentro de sua propriedade, por onde deslizavam as águas de um córrego cheio de matupiris, carás-barbelos, uéas, pratinhas e sanguessugas.

Também adorávamos colecionar figurinhas do Rin Tin Tin e de jogadores de futebol,tomar banho no Pacoval,soltar pipas,morcegar os caminhões que subiam com dificuldade a ladeira ‘lngreme do Morro do Sapo,inclusive o Violino,”brechar”por debaixo do assoalho do Clube 7 de Setembro as dançarinas de largas saias que íam se divertir ao som dos Sonoros Caçula,exibindo seus passes de merengue,boleros e twiste.

Nos finais de semana costumava ver Farroz vestindo seu uniforme de lobinho e,aos domingos, aguardando as sessões de matinê na porta do Cine Macapá, Cine Territorial e Barraco dos Padres,a fim de assistir as comédias da Atlântida e os filmes da Metro- Goldwyn- Mayer para dar preciosas gargalhadas com as piadas de Ankito,Grande Otelo,Oscarito,Zé Trindade e Costinha e torcer pelos mocinhos e cowboys que exterminavam os peles- vermelhas comandados por Touro Sentado,além dos seriados de Durango Kid,Falcào Negro e Buck Jones,onde era comum também encontrar o Luís Jorge (Pinguim) trocando revistas em quadrinhos de Roy Rogers,Tarzan, Fantasma, Zorro, Buffalo Bill, Rock Lane, Batman, entre outros personagens e super-heróis que fertilizaram nossos sonhos juvenis.

Ainda na fase juvenil,Farroz gostava de jogar uma pelada nas ruas piçarrentas, onde a molecada à tardinha se encontrava para dar “dibras”, chapéus, bicudas e xagões e para o costumaz bate-papo com Bolinha, Bossa Nova, Vevé, Puíca, Zeca Doido, Mamânico, Pneu,Au-Au, Zeca do Sinval, Vilhô, Tutano, Lulu, Pelhudo, Doidelo, Charuto e muitos outros amigos de infância que compunham nosso círculo de amizades,todos de família humilde como a nossa, mas que comungavam dos mesmos sonhos,tristezas e alegrias.

São recordações que o tempo não apagou e que continuam a acompanhar nossa trajetória existencial eivada de saudades dos tempos que podíamos sonhar ouvindo as pererecas e sapos-cururus coaxando ao cair da tarde.

Um comentário:

  1. - Adorei!!
    - Sou paraense e este final de semana que passou conversando com um ilustre macapaense veio a lembrança do Morro do Sapo.
    - Adorei saber de historias de la e papear sobre personagens de la.
    - Gostaria de ter mais informações sobre o Morro que encantou e encanta os pensamentos mais saudosos de Fernando , Bispo, Rui e varios outros personegens das guerras de baladeiras com ligas de camaras de ar de caminhão ou de pula-pula.
    - Fabio de Oliveira.

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