quarta-feira, 5 de junho de 2013

DOIS POETAS AMAPAENSES QUE CONHECI E ADMIREI.

ISNARD BRANDÃO LIMA FILHO (*)


Chegou a Macapá em 1949; o primeiro poema apareceu aos 12 anos, no Amapá Jornal, através do poeta Alcy Araújo. Em 1968 publicou Rosa para a Madrugada, livro de estreia, que teve duas edições esgotadas em poucos dias. Descobriu, estimulou e abriu roteiro para muitos talentos artísticos da terra de Julião Ramos.

MÍSTICO

Estou feliz Senhor, no dia de hoje,
Alimentado, forrado, amanhecido...
Parece que estou feliz.

No meio do areal deixei a caravana,
E vim, trazendo no rosto a bruteza do Simum,
Nos olhos a secura dos viajores cansados,
Nas mãos o orvalho quente do deserto.

Não sou um peregrino a caminho da Meca:
O túmulo de Moisés foi profanado,
Levaram as urnas, as vestes
E o grão de ouro batido nunca existiu
(era esmeralda),
Mas terás dentro de mim, um servo, meu Senhor,
Há trigo, cevada e mirra.
Usarás como dono daquilo que é teu.

E se a porta não abrir no dia em que chegares
Sabe: minha resposta é pobre e sem valor o ato.
Saberás: estarei dormindo, embrionário ainda,
O sono das terríveis noites seculares,
À espera da Tua luz, do Teu amor, dos Cravos
E da Cruz...

ARTHUR NERY MARINHO (*)
Nasceu em Chaves, norte da Ilha do Marajó-PA, a 27 de setembro de 1923. Foi diretor da Imprensa Oficial do Território e do jornal “Amapá”. Escreveu em vários jornais e revistas que circulam na Amazônia. Figura na antologia “Modernos Poetas do Amapá” e nas enciclopédias “Brasil e Brasileiros de Hoje” e “Grande Enciclopédia da Amazônia”.

PRAÇA ANTIGA

Velha praça, velha praça
Tenho saudade de ti.
Não da bonita que estás
Mas da que eu conheci;

A praça do tio Joãozinho
E do seu Naftali.
O primeiro era Picanço
E o segundo Bermegui.

A praça do João Arthur,
Também a praça do Abraão
A praça que foi outrora
Da cidade o coração.

A praça que se jogava
Todo o dia o futebol,
Esporte que só findava
Quando já dormia o sol.

Parece que isso foi ontem,
Mas tanto tempo passou.
O que deixou de existir,
Minha saudade gravou.

Vejo a barraca da Santa,
Vejo ali o ABC.
Há muito já não existem,
Mas minha saudade os vê.

Da igreja o velho coreto
Eu avisto, neste ensejo.
Do mestre Oscar vejo a banda
E lá na banda eu me vejo.

Eu considero um castigo
Não apagar da lembrança
O que me foi alegria
E agora é desesperança.

Velha praça, velha praça,
Renovastes e linda estás.
Não tens, porém, a poesia
Do que ficou para trás.

(*) Extraído do Suplemento Cultural “Tipiti”/Diário Oficial do Estado do Amapá – Setembro de 1991 – Ano I, Nº I.

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