quarta-feira, 22 de maio de 2013

MACAPÁ

Texto de Ray Cunha
Foto de Juvenal Canto.


Amo muitas cidades. Cada uma delas marcou meu coração. Há, contudo, uma que me ilumina, pois é como uma mulher que desejamos por muito tempo e que de repente está diante de nós, nua, aos primeiros raios do sol de julho. Macapá emerge da boca do rio Amazonas avançando na Linha Imaginária do Equador, e quando a cidade nos engole, mergulhamos num mundo prenhe de jasmineiros que choram nas noites tórridas, merengue, a poesia azul da Alcinéa Maria Cavalcante, a casa do Fernando Canto, que recende ao Caribe de Gabriel García Márquez, mulheres cheirando a Chanel número 5 e maresia, o embalar de uma rede no rio da tarde, mapará com pirão de açaí, tacacá, Cerpinha. Quando entro neste santuário, dispo-me de todas as feridas, e oferto rosas, pedras preciosas e luz, toda a minha riqueza, aos que eu amo, e te chamo, Macapá, de querida! Sempre me perco em ti, e sempre de propósito, numa vertigem da qual só me recupero em Brasília, dias depois. As viagens que fazemos no coração são vertiginosas demais para a pobre física terrena. A casa da minha infância, cada palavra que garimpei em madrugadas eternas, cada gota de álcool com que encharquei meus nervos, cada mulher que amei nos meus trêmulos primeiros versos, cada busca do éter, nas noites alagadas de aguardente, os jardins da casa da Leila, no Igarapé das Mulheres, o Elesbão, a casa da Myrta Graciete, a casa do poeta Isnard Brandão Lima Filho, na Rua Mário Cruz, o Macapá Hotel, o Trapiche Eliezer Levy, estão para sempre no meu coração, que enterrei na Rua Iracema Carvão Nunes.

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