quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Macapá Cheia de Prosa e Verso

Fernando Canto.

“Adelantado de Nueva Andaluzia.

Tu sabias, mano que esse foi o primeiro nome oficial às terras do nosso Amapá?

CarlosV01

 

Em 1544 o Rei da Espanha, Carlos V, concedeu a Francisco Orellana este lugar, mas o grande navegador não chegou a assumi-lo por ter naufragado quando para cá se dirigia.

Desde Pinzon que os espanhóis e os portugueses disputavam acirradamente nossas terras em virtude do Tratado das Tordesilhas.

Depois vieram os holandeses, os ingleses e os franceses.

Depois portugueses, índios e negros, nossos avós, garantiram nossos destinos conquistando definitivamente a foz do rio Amazonas rechaçando com atos de heroísmo os flibusteiros e marinheiros europeus.

E nós, como povo, temos nossa História. Brava História.

mendonça furtado

Por isso, compadre, que um dia, na antiga Província dos Tucujus, chegou o governador Francisco Xavier de Mendonça Furtado para fundar neste local a então Vila de São José de Macapá.

Era o dia 4 de Fevereiro de 1758.

Daí em diante esta cidade cresceu e se fez bonita.

E em maio de 1944 Macapá foi transformada em capital do Território Federal do Amapá, criado um ano antes.

pioneiros

Foram chegando os pioneiros.

Cada qual com seu trabalho e sua coragem. Saga e valentia.

 

Só mesmo homens e mulheres dispostos a trabalhar poderiam modificar aquele quadro triste de doença, analfabetismo e miséria. Nossos pais e avós, todos juntos, reuniram suas forças para trabalhar por esta terra. O sentimento de amor e de progresso era superior ao esmorecimento e ao pessimismo.Tudo foi modificando-se.

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Chegou o primeiro carro e o primeiro avião.

O primeiro campo de aviação foi construído e foi para o ar o primeiro programa na velha e querida Rádio Difusora de Macapá, uma das pioneiras do Brasil.

Instalou-se a primeira usina de luz, o primeiro hospital.

Égua! O Caixa de Cebola foi o nosso primeiro ônibus. Depois veio o Gavião Malvado... Tudo tinha nome ou apelido.

Havia a “Turma do Buraco” que arborizava Macapá...

Em Macapá faziam sátira com a música “Cidade Maravilhosa” e cantavam assim: “Cidade Maravilhosa/ Cheia de catabil...”

Pois sim, essas pessoas que a cantavam, assim o faziam porque não tinham a visão do futuro.

Macapá tinha o horizonte aberto para receber as mãos dos homens trabalhadores que chegavam de todas as paragens.

E juntos, com os que aqui já se encontravam - mineiros, cariocas, nordestinos, gaúchos - todos trabalhavam e pensavam em progresso. E como na lenda da cigarra e da formiga uns cantavam, mas a maioria trabalhava.

E esta cidade, mano, foi crescendo ao som do Marabaixo que a preta velha cantava na Quarta-Feira da Murta pelas ruas do Laguinho e da antiga Favela.

marabaixo

“Passei pelo lírio roxo

Cinco folhinha apanhei

Cinco sentido qu’eu tinha

Todos os cinco lá deixei”.

Todo um sentimento poético abraçava a cidade. E Macapá estava linda sob o sol.

Aliás, a luz sempre simbolizou a vida.

O sol beija o rio na maior parte do ano. E ao nascer todos os dias ele traz para nós a esperança de dias melhores e mais mansos.

Horizonte

Sabe, mano, enquanto soubermos discernir o bom do ruim faremos deste lugar a razão de nossa felicidade, pois ela permanecerá acesa nos nossos lares.

Devemos ainda aprender a amar nosso chão e nosso céu de sonhos. Temos tudo para ir adiante, assim como nosso primeiro nome, lembras?

Adelante, adiante, para a frente.

É importante sermos otimistas e ter os pés neste solo. Batalhar e trabalhar para fazer desta terra um mundo de coisas boas.

Sim, um mundo moldado com as mãos e com a respeitável inteligência de nossos irmãos.

Tu já fizestes uma viagem, não foi? Sem querer tu pensaste em alguns detalhes e fostes e voltaste.

Assim como tu, nossos dirigentes também pensam, planejam e realizam obras que nossos filhos vão falar com orgulho e seus corações também falarão através de um grande sorriso em suas bocas.

É preciso continuar planejando para atender aos anseios de nossos irmãos carentes.

É preciso combater os malefícios e pensar no bem-estar geral. É preciso, compadre, é preciso trabalhar.

E nós estamos trabalhando prá viver e se for preciso até morrer por este lugar.

Adiante, adelante, adelantado.

Bem ali, no mais tardar das esperanças tu construirás o teu tempo.

Nem que seja sobre a folha que cairá de uma árvore sob o impacto da chuva.

Olha, mano, deves ter a certeza que o rio corre para um único destino: o mar.

E nesta linda cidade paira a luz sobre nossas cabeças.

Então, iluminados, devemos homenageá-la.

rio amazonas fort_georgia
lua

 

Já viste o rio amazonas deitado no seu leito. Já viste a importância da Fortaleza de São José. Já viste também os namorados apreciando o rio parir uma lua gordinha lá no Quebra-Mar.

Então tu sabes, mano, como é linda e hospitaleira a nossa cidade, né? Pois é.

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O Marco Zero do Equador passa aqui pertinho, separando o mundo em dois hemisférios. Já notaste que vem tanta gente aqui pra visitá-lo?

Tem uns turistas louros, morenos, pretos e amarelos que só tiram fotografias com as pernas abertas dizendo que estão no meio do mundo.

Sabes por quê? Ora, Macapá é importante...

Mas tu sabes o que significa a palavra Macapá? Não?

Macapá é uma variação de Macapaba, que quer dizer, na língua dos índios, estância das macabas, o lugar de abundância de bacaba.

Bacaba é uma fruta boa e gostosa, né?

Apesar de gordurosa ela alimenta muito a gente e o seu vinho ainda tem aparência de café com leite.

É assim como o açaí, o nosso petróleo comestível que a gente compra um litro na amassadeira do Ramiro e dá de pau na hora do almoço. Temos tanta fruta que tu nem imaginas...

Temos cupuaçú, graviola, bacuri, jenipapo, uxi, pupunha, camapu, ingá, chega a dar água na boca.

Mas, compadre, Macapá é uma linda morena.

Vês que de manhã aquele solzão bate no Amazonas que chega até encandear a gente.

Macapá é uma cidade segura. Aqui o rio nunca transbordou.

E quando o sol vai embora, mano, nós ficamos com a certeza que ele voltará.

E assim como nós acreditamos nisso, nós acreditamos no futuro e no trabalho de nossos irmãos” (Fernando Canto)

Na essência da poesia a Macapá o que vamos encontrar é a alma do povo. O povo que sonha, ama e constrói.

Neste poema, cada dia reescrevemos um verso apaixonado. Uma declaração de amor à nossa cidade, que mesmo se tornando uma capital diferente daqueles dias de Adelantado, não aceitou perder sua alma, nem endurecer seu coração.

Nota do Editor: Esta arrumação de história, prosa e poesia do escritor Fernando Canto serviu para ilustrar cartazes e folhetos distribuídos há algum tempo por iniciativa do então secretário de Planejamento, Antero Dias Lopes. A tiragem foi limitada de modo que não muita gente teve acesso a essa tirada do Fernando. publicando o trabalho, a A Província dá oportunidade a milhares de leitores enxergarem Macapá por um lado diferente, saboroso.

Jornal do Amapá – N°148 Pág.12, 2° Caderno. A Província do Pará – Belém, Domingo, 17 e Segunda-Feira, 18 de abril de 1988

Editor: Hélio Penafort.

Um comentário:

  1. Aí! Fernando. Não conhecia este texto. Muito "exuberante". Gostei, todos gostamos. Parabéns. Continuas assim desde que o conhecí quando das bandas que passastes com Jomasan, Tito, Lucien, outros, lá nos campos do laguinho e dos poemas e escritos que tens criado. Fantástico. Obrigado pos ser igualmente amapaense. Do seu fã DINIZ BOTELHO (http://dinizbotelho.blogspot.com/)

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