quinta-feira, 30 de setembro de 2010

É BIG! É BIG!

rosamoutinho

A artista plástica Rosa Moutinho, que esteve em Macapá com sua exposição “Diversidades” no início de setembro, aniversaria hoje. A ela desejo muitas felicidades e muito sucesso.

É BIG! É BIG!

Andréia Freitas

Parabéns e muitas felicidades para a jornalista Andréia Freitas, colunista do jornal “A Gazeta”, que aniversaria hoje.

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

domingo, 26 de setembro de 2010

O PODER DO TAMBOR

Publicado no jornal “A Gazeta” de domingo, 26.09.10

DSC01762 Não é de hoje que vejo - e ouço – algumas associações de sincretismo entre o catolicismo e os ritos de origem africanos no Amapá como o Candomblé e o Tambor de Mina. Nunes Pereira, uma das raras referências etnográficas do folclore amapaense, disse em seu livro “O Sahiré e o Marabaixo” (Fundação Joaquim Nabuco, Recife, 1989, pág. 101/115), que quando esteve no Laguinho e no Curiaú em 1949, observou que os tambores utilizados não exerciam claramente sobre os negros o poder transfigurador que os instrumentos de percussão têm na África ou do tipo usado nos terreiros Mina-Gêge de São Luís do Maranhão. Mesmo assim registrou os mais estranhos e emocionantes movimentos de dançarinos no Marabaixo.

Pedro Observou que (aos negros) “Nem lhes faltaram, nas máscaras luzidias de suor, o fulgor das pupilas e nos ritus dos lábios carnudos, a expressão dramática, que a posse do Guia, Santo ou Vodum, lhe transmite, e a expressão sensual, que nasce dos sentidos, açulados pelas libações e pelos contactos dos corpos em festa”... Mais adiante ele viu “saltos elásticos de alguns jovens, tais os dos bailarinos acrobatas, ou negaças fulminantes de capoeiras” que lhe reafirmavam um justo conceito, não de antropólogo, mas “de um viajante fascinado”.

060620104214 Nunes Pereira ficou mesmo encantado com a dança dos negros e mestiços que aos poucos se avolumava no salão sob o comando do Mestre Julião Ramos. E informa que se “nos lembramos das atitudes místicas dos Voduns Mina-Gêge, erguendo os braços para o alto ou baixando-os para abrir mãos que se diriam afagar a terra, também nos lembramos dos passos do frevo pernambucano e das marchinhas do carnaval carioca”. Sua descrição da dança arremata que “Mestre Julião, de súbito, como se fosse envolvido pela fascinação daquele ritmo e daquelas atitudes, entrou a substituir um dos tocadores das ‘caixas’, arrebatando-lhe o instrumento. E, então, pela expressão de sua voz e pela segurança de seus toques, a dança atingiu o seu Pathos. E nela fomos envolvidos também”.

Dizendo isso, suponho que ele tenha mergulhado na “mucura”, a bebida alcoólica muito utilizada no Marabaixo, pois nenhum antropólogo é de ferro.

050420092930 Ele ainda tentou atrair as negras velhas para conversas sobre terreiros, sobre Mães de Santo e Vodus, mas elas se esquivaram discretamente, entretanto sem poder negar que tudo isso lhes era familiar.

Certa vez eu presenciei uma incorporação sob os tambores do Marabaixo, porém imediatamente retiraram o “cavalo” (uma mulher) do recinto, não dando chance para perguntas.

Sobre esse assunto fui informado de outro caso, provocado por uma bebida possivelmente alucinógena preparada com cachaça e a casca macerada do caimbé branco, árvore abundante no cerrado das cercanias de Macapá.

momentos (30) No Haiti, sincreticamente São Tiago é associado a Ogum, o deus daomeano, com seu ar feroz, barba hirsuta e espada erguida. Em Cuba Ogum se equipara a São Pedro por levar em suas mãos as chaves do céu que são de ferro e a Santiago dos castelhanos, que, a cavalo, os ajudava na guerra matando mouros. No Brasil durante as cerimônias, os “adosu” por eles possuídos assumem uma expressão feroz e durante as danças empunham uma espada e executam a mímica da guerra e dos combates. Segundo Pierre Verger, a assistência grita, saudando: “Ogum ye”. Seus adeptos, muito numerosos, usam colares de cores azuis-escuras e braceletes de ferro. Na Bahia ele é assimilado a Santo Antônio e no Rio de Janeiro a São Jorge, que é outra personagem, ou figura da Festa de São Tiago de Mazagão Velho.

Não é de hoje, repito, que essas coisas estão ligadas ao Marabaixo. Mesmo que se diga que seus principais ritos sejam de origem católica, a ancestralidade comanda o inconsciente coletivo. E o toque do tambor é muito poderoso. Inderê, Olô!

Imagens do acervo pessoal de Fernando Canto.

sábado, 25 de setembro de 2010

AUDITÓRIO LOTADO PARA O DEBATE ENTRE OS CANDIDATOS AO SENADO NA UNIFAP

Por Marinalva Oliveira

Na última quarta-feira, dia 22 de setembro, SINDUFAP, SINSTAUFAP e DCE realizaram um debate com os candidatos ao Senado Federal.

Docentes, técnicos-administrativos, estudantes, além da administração da UNIFAP, trabalhadores terceirizados de vigilância e limpeza e comunidade externa compareceram ao debate.

O auditório multiuso da UNIFAP, um dos maiores do estado, ficou pequeno, com pessoas nos assentos, em pé e sentadas nos corredores.

Apesar de todos os assessores comparecerem na reunião preparatória e confirmarem presença de seus candidatos na manhã do debate, só três se fizeram presentes: Randolfe Rodrigues, Papaléo Paes e Prof. Marcos. Minutos antes do evento, Capiberibe e Cláudio Vigilante justificaram a ausência.

A metodologia definida previa temas focados no ensino superior público e amplos intervalos para as respostas dos candidatos. Abordar os temas REUNI, Financiamento para a Educação Superior e Política de Assistência Estudantil possibilitou à comunidade acadêmica avaliar o conhecimento dos candidatos sobre a Universidade brasileira e, em especial, sobre a UNIFAP.

O debate reafirmou a necessidade de discussões constantes sobre temas como esses com a participação dos parlamentares, haja vista que a atual política do governo conduz à mercantilização da educação, ausência de financiamento para o ensino superior público, além de precarização do trabalho de docentes e técnicos-administrativos que resulta na redução da qualidade do conhecimento e evasão de profissionais para outros órgãos públicos em busca de melhores salários.

É lamentável que candidatos compareçam aos debates televisionados, mas se façam ausentes no debate com os movimentos sociais e os integrantes da Universidade Federal do Amapá que abriga milhares de estudantes e é a maior universidade pública do estado.

Aos futuros pleiteantes, fica a informação de que dois candidatos foram considerados pela comunidade acadêmica como os mais bem preparados para debaterem os temas postos.

Assim, conquistaram a platéia unifapiana enquanto os ausentes perderam votos, pois o sentimento geral era de que se o político não se faz presente como candidato, será ausente após eleito.

SINDUFAP, SINSTAUFAP e DCE

CRONIQUETAS DE NUEVA ANDALUZIA

Publicado no Caderno de Cultura do Jornal Correio do Amapá em 12/09/10

TU A MINHA ESPERA

Enzo Rubio (*)

Tu não sabes o que a açucena é além de flor? Ela é a cena do amor que eu ainda trago em mim, ao te ver como num palco de sonhos, dourado de luz com efeitos especiais.

Dia desses, rompido em flor de dança, quebrado de partidas e cheganças, de odores e suores, aportei neste porto que zelas a me esperar, que eu sei. Não adianta me dizer que desconheces o destino, posto que ele já estava traçado em tuas mãos de cigana desconfiada.

Grunhi um desabafo quase silencioso sobre os camburões de ferro que flutuavam neste trapiche, agradeci a Deus e me encolhi diante da tua figura de mulher. Foi então que me dei conta que o coração batia duplamente: tocava um ritmo caribenho por ter te encontrado como a flor que és e, num sentido contrário, o velho Tum Tum Tum desritmado se extasiava, pleno, na quintessência que só a paixão traz, desordenada e incompreensível, quando bombeava excessivamente o líquido vital.

Foi assim que eu me fiz de peixe, e com as mãos se transformando em nadadeiras, coloquei teu anzol na minha boca.

(*) Enzo Rubio é poeta bissexto. E tem dois livros de poemas e um de pequenos contos e crônicas para publicar. Muito cedo veio para o Brasil com os pais. Mas seu espírito aventureiro o fez parar em plena Amazônia, onde ficou embasbacado diante da generosidade da natureza. Morou em Belém e finalmente veio para o Amapá, onde se casou com uma índia da Nação Karipuna, tendo com ela um casal de filhos. Atualmente é agricultor na localidade de Coração.

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

COLUNA CANTO DA AMAZÔNIA

Publicada no jornal “A Gazeta” de 24.09.10

PATRIMÔNIO IMATERIAL

hist_pag68 Até dia 28 de outubro estão abertas as inscrições para o concurso “Conheça e Avalie seu Patrimônio Imaterial”, aberto a universitários com idade entre 18 e 26 anos, cursando qualquer área ligada ao patrimônio imaterial.

Os ensaios têm os seguintes temas: a) Arte Kusiwa – Pintura Corporal e Arte Gráfica Wajãpi (AP); b)Samba de Roda do Recôncavo baioano; c) Matrizes do Samba do Rio de janeiro: Partido Alto,Samba de Terreiro e Samba Enredo. Prêmios de R$ 1.500,00. Inf: ul.concurso@yahoo.co.br .

Foto: Pintura corporal utilizando urucum. Imagem diponível em: www.raulmendesilva.pro.br)

ROMARIA FLUVIAL

rio amazonas. Depois de um certo período sem acontecer, ocorre no dia 09 de outubro, sábado, a partir das 14h00, com saída do porto Souzamar em Santana, a saída do Círio Fluvial em homenagem à Nossa Senhora de Nazaré.

Em 2001, por iniciativa de “O Liberal Amapá”, então dirigido pelo jornalista Rubens Onetti, e com o apoio da Prefeitura Municipal de Macapá, foi realizada a primeira procissão fluvial desse porte, que saiu do porto da Marinha Mercante até o trapiche Eliezer Levy, com grande número de embarcações.

Foto: Rio Amazonas, palco da romaria fluvial do Círio de Nazará, no Amapá.

CÍRIO DE MACAPÁ

cirio de nazaré 2010 macapá Este ano espera-se um público de aproximadamente 150 mil fiéis na procissão do Círio de Nazaré, no dia 10.10.10. Pelo menos é essa a expectativa da Diocese, que comemora a 76ª festa em louvor à Virgem padroeira da Amazônia.

O pároco da Igreja de São José, Pe. Aldenor, já encomendou um CD com músicas para serem vendidas como lembrança. O trabalho traz a assinatura do maestro Manoel Cordeiro.

Imagem disponíivel em: www.juventudedesaojose.blogspot.com

PIRATÃO

1141269655 A Liga das Escolas de Samba do Amapá recebeu proposta dos Piratas da Batucada para que ela aceite o seu retorno ao desfile de carnaval do ano que vem, feita pelo presidente da junta governativa.

Depois de ter sido desclassificado do carnaval e desligado da LIESA, por infringir o regulamento, o Piratão quer voltar. Mas corre de boca em boca a contraproposta que as outras associadas só deixarão que isso aconteça se ele abrir o desfile do grupo de acesso em 2011. Imagem disponíivel em: www.clivercampos.zip.net

BELOCA

Não sei de que faleceu o amigo Beloca, fundador do Grêmio Recreativo Império de Samba Solidariedade, o Jacaré do bairro Jesus de Nazaré. Só sei que esse nefasto acontecimento deixou-me triste, pois trabalhamos juntos na SEPLAN, por muito tempo e, juntos, chegamos a sair muitas vezes vitoriosos nos Estilizados.

A população do antigo Jacareacanga prestou sua homenagem a esse velho guerreiro do carnaval, que foi irmão do também saudoso Luís do Apito e tio do nosso Mestre de Bateria dos Boêmios, Carlinhos Bababá. Uma família de bambas. Suba em paz, meu amigo.

BUSCA DE EXCELÊNCIA

O SEBRAE sediará o 1º Seminário Regional em Busca de Excelência a ser realizado n a sede do órgão no dia 28 de setembro.

O evento é uma ação conjunta com a Fundação Nacional de Qualidade - FNQ, reconhecida internacionalmente no processo de disseminação do modelo de excelência em gestão e pela contribuição para a competitividade das organizações brasileiras ao processo de transformação que elas vivenciam. Inf: www.sebrae.com.br ou pelo fone 3312-2832.

INDICADORES INSTITUCIONAIS

Marlene de Araujo_ Muito bom o curso “Desenvolvimento de Indicadores Institucionais” ministrado pela professora Msc. Marlene de Araújo, da Embrapa de Brasília, para servidores da UNIFAP.

Ela trabalha com modelos de Gestão Estratégica usando o método Balanced Scorecard- BSC, criado pelos americanos Robert Kaplan e David Norton e utilizado em organizações internacionais, nacionais, públicas e privadas para provocar mudanças estratégicas nas organizações. O método também trabalha a implementação de sistemas estratégicos voltados para a obtenção de resultados, a satisfação de clientes e a medição da performance corporativa.

EMBELEZADOR

Zé Ramos foi fazer um serviço em Laranjal do Jari. No final de semana aceitou o convite de um amigo para visitar a zona do baixo meretrício. Ao chegar lá, foi logo reclamando: - Mas aqui só tem mulher escr..., quer dizer..., feia pra caramba! Seu amigo disse: -Calma, Zé, vai tomando aí que tudo muda. Mais tarde já com bastante espumosa no gogó, Zé Ramos disse: - Bom, elas não são assim, tããão feias.

Depois de duas grades de “embelezador” (jeito de chamar cerveja naquela cidade), Zé Ramos não se conteve e falou para a primeira mulher que vira no lupanar: - Égua da mulher linda! É contigo que eu vou.

ZUNIDOR

luinha Equinócio com lua cheia ontem: prato cheio para os adoradores do sol e da lua no Marco Zero do Equador.

alvaro da cunha_desenho de Herivelto O poeta Álvaro da Cunha escreveu: “A lua minguante do Amapá/ É maior que a lua cheia/ de qualquer outro lugar”

Abertas as inscrições para o 1º ERECO – Encontro Regional Norte de Estudantes de Economia e Meio Ambiente com o tema “Desafios para o Ecodesenvolvimento da Amazônia Brasileira, de 25 a 29 de 10, pela Universidade Federal do Amazonas, em Manaus. In: www.erecomanaus.com.be 

Tem candidato ecológico por aí, chorando lágrimas de crocodilo. Os outros estão prometendo mundos e fundos para a cultura, mas é tudo a mesma coisa de sempre. Eleitos, dão o cargo para um deputado e nem se responsabilizam mais por nada. E a cultura ó, só no toba!

Dia 30 é a data limite para a entrega das letras dos sambas enredos na LIESA.

Hoje ocorre a final do Festival SESI de Música, com 18 candidatos ao prêmio.

O Centro de Atendimento ao Surdo-CAS, realiza uma caminhada que traz como tema “o surdo e suas conquistas”, nesta segunda-feira, 26.

Inderê! Volto zunindo na sexta!

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Dudé Viana, o “andarilho da canções”

Por Renato Flecha

Dude_viana O cantor e compositor potiguar, Dudé Viana, realizou ontem (18), no Centro de Cultura Franco Amapaense, o show “Papo show – Isso só acontece comigo!”. Durante a apresentação, que durou cerca de 1h e 30 minuitos, o artista tocou e cantarolou canções de sua autoria, tipicamente nordestinas. O diferencial da apresentação foi a irreverência de Dudé, que, entre uma música e outra, contou histórias sobre situações inusitadas que lhe aconteceram ao longo dos 38 anos de carreira, tudo com muito bom humor. O objetivo do evento foi difundir a cultura musical e o entretenimento dos cidadãos macapaenses. A entrada da apresentação foi gratuita.

Segundo o compositor, que está na capital amapaense visitando familiares, seu show é uma espécie de monólogo sobre suas experiências. Conforme o músico, a idéia do “Papo Show” surgiu em 2007, depois que o artista se apresentou em Brasília (DF), em novembro de 2007, onde realizou um “talk show”, a pedido de jornalistas que admiram o seu trabalho.

Dudé já tocou nas principais capitais do Brasil, entre elas o Rio Grande do Norte, Bahia, Rio de Janeiro, São Paulo, Curitiba e em Belo Horizonte. Também realizou shows internacionais, no Paraguai, Chile e Argentina. O músico iniciou sua carreira em 1972. Durante sua trajetória, gravou cinco discos, dois vinis e três CDs, além de duas coletâneas.

Por causa de suas melodias, Dedé recebeu o título de "Cidadão Fluminense", da Câmara de Vereadores do Rio de Janeiro, junto com o cantor Martinho da Vila. No alto dos seus 60 anos, o artista manteve, durante seu show, o público em contato com as boas vibrações de seu violão e sua voz.

Conforme Viana, que recebeu o apelido de “andarilho das canções”, musicará uma letra de Marabaixo, composta por seu primo, o servidor público Paulo Gurgel. Dudé, que canta e encanta, além de compositor, cantor e instrumentista, é um poeta em aprimoramento constante, um artista sedento pela cultura musical dos locais que visita e se apresenta. Ah, ia esquecendo, o homem é uma simpatia, fala manso e tem um papo muito agradável. É muito bom conhecer gente talentosa e boa praça.

“Minhas músicas são nordestinas na essência, mas, em minhas andanças, observei a musicalidade de cada cidade por onde passei, sorvendo cultura. Tanto é que, tenho composições em homenagem a cada uma delas e com o Amapá não será diferente. Pois o meio do mundo é merece. Musicarei uma letra de Marabaixo, com um toque do nordeste, uma forma de interação musical e, consequentemdente, cultural. Esta canção entrará no meu próximo CD, que se chamará “O andarilho das canções”, assinalou o artista.

Publicado no Caderno BATUQUE do jornal Correio do Amapá (www.correiodoamapa.com) de domingo, 19/09

domingo, 19 de setembro de 2010

ROBERTO CARLOS DE SANTANA, MEU LOUCO FAVORITO

Publicado no jornal “A Gateza” de domingo, 19.09.10.

loucura Não sei bem em que jornal eu li sobre um maluco que morava numa praia do Rio de Janeiro, mas quem o deixou comigo foi meu amigo RT na volta de uma viagem à cidade maravilhosa. O texto o descrevia como um homem corpulento, negro e barbudo, que fumava maconha, mas que não incomodava ninguém. Cumprimentava a todos e fazia parte da paisagem urbana de Ipanema. Todo mundo o conhecia no bairro e o autor do artigo falava em uma espécie de reencontro com ele depois de muitos anos que passou fora do Brasil.

Em Macapá conheci algumas dessas pessoas alienadas, praticamente abandonadas por suas famílias. E foi exatamente na minha adolescência, quando era estudante do ginásio. Na saída das aulas os mais velhos instigavam os mais novos a fazerem chacotas com elas e apelidá-las quando passavam em frente ao colégio.

Nunca esqueci a “Onça”, que possivelmente não era louca, mas viciada na cachaça. Quando convidada fazia espetáculos sensuais, levantava a saia rodada e dançava Marabaixo, sem se desvencilhar da garrafa de “Pitú equilibrava na cabeça, rebolando, para o delírio da turma, que a aplaudia sem parar, rindo e gritando com aquelas vozes de fedelhos em mudança, quase bivocais.

Ainda posso ver o “Cientista” lá pelas bandas do Mercado Central trajando seu paletó azul claro e um calção sujo e descolorido. A barba rala, as feições indígenas e o olhar sereno. Vez por outra procurava alguma coisa embaixo de uma ficha de refrigerante ou em uma pequena poça d’água, como se tivesse perdido algo muito valioso. À vezes anotava (ou fazia que anotava) alguma coisa em um papel de embrulho, daí as pessoas acharem que eram importantes fórmulas de um cientista, vindas em um “insigth”, um estalo de idéia. Eu o vi também trajando o pijama de interno do Hospital Geral, de onde fugia de uma ala reservada aos doentes mentais.

Quase decrépito, mas imponente, calvo e meio gordinho era o famoso “Pororoca”. Para mim é inesquecível a cena que vi dele descendo a ladeira da Eliezer Levy, no bairro do Trem, no sol quente do meio dia, bem embaixinho da linha do equador, quando os raios do sol pareciam rachar os telhados das casas e estalar a piçarra. Lá vinha ele, rindo à toa, descalço, de cueca branca e um imenso couro de jiboia enrolado no peito. Um figuraço!

Creio que todos os frequentadores do bar Xodó chegaram a conhecer o “Rubilota”, um senhor de aparência forte, que andava invariavelmente sem camisa, que pedia um cigarro e ia embora. Mas de repente surtava e começava a gritar pornofonias das mais cabeludas possíveis. Quando ficava violento era preciso chamar a polícia, mas com um bom reforço, pois ele era durão.

Quem sempre aparecia pela Beira-Rio era o Zé, cearense e empresário de sucesso, mas que enlouqueceu, dizem, de paixão. Ele me conhecia, e sempre que me via nos bares ia me cumprimentar ou pedir um cigarro. Os garçons tentavam expulsá-lo do ambiente porque andava sujo e com o pijama do hospital, de onde fugia igual ao seu colega “Cientista”. Porém eu não deixava que o escorraçassem.

Havia um cara que eu conheci ainda sem problemas psiquiátricos. Ele tocava violão e cantava na Praça Veiga Cabral, ali na parada das kombis que faziam linha para Santana. Estudava, salvo engano, no Colégio Comercial do Amapá. Anos depois eu o encontrei pelo centro da cidade cantando sozinho pela rua as músicas seu ídolo: era o Roberto Carlos de Santana.

O pessoal da sacanagem do Xodó chegava a pagar R$1,00 para ele cantar o “Nego Gato” no ouvido de algum freguês desprevenido. O RC de Santana chegava por traz da vítima (normalmente um amigo que não sabia da onda da turma) e dava um berro que até o Rei da Jovem Guarda se espantaria. Cantava “Eu sou o nego gato de arrepiar...” em alto e bom som e em seguida saía correndo com medo da porrada até a intervenção dos gozadores que morriam de rir.

Esse era o meu maluco predileto. Não sei por onde ele anda, se morreu como a maioria dos aqui citados, se ainda recebe uma grana para cantar o “Nego Gato” ou se ainda canta acreditando que é o Roberto Carlos, lá em Santana. O interessante é que as pessoas sempre têm uma explicação para a causa da desgraça alheia. Dizem que todos eles tiveram desilusões amorosas, que foram vítimas de traições, e por isso surtaram, e assim viveram e assim alguns morreram. Mas com certeza viveram bem, imersos no seu mundo, sem se importarem com que os “normais” pensassem a seu respeito, sem se indignarem com os acontecimentos inescrupulosos dos políticos indignos, estes sim, os deficientes mentais que precisam ser recolhidos definitivamente da sociedade.

(Imagem disponível em: www.lucyinthesky-lg.blogspot.com)

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

COLUNA CANTO DA AMAZÔNIA

Poblicada no jornal “A Gazeta” de sexta-feira, 18.09.10

DEBATE

unifap_jan08 (29) Será no dia 22 o debate que a Universidade Federal do Amapá realizará com os candidatos ao senado federal.

Depois do fiasco do convite aos candidatos a governo, que só um confirmou, nossos pretensos senadores vão dizer por que querem ir à Brasília e o que poderão fazer pela UNIFAP.

Na realidade são poucos os parlamentares que ajudam a instituição com emendas – recursos indispensáveis para o seu crescimento, daí a necessidade deles apresentarem seus projetos à comunidade universitária, que decerto poderá votar naqueles que conseguirem convencê-la. O evento vai ocorrer às 19 horas, no auditório multiuso do campus marco zero do Equador. A promoção é do SINDUFAP, SINSTAUFAP e DCE.

O VOTO

voto não tem preço Um candidato a deputado me disse, meio frustrado, que chegou a ver por diversas vezes lideranças comunitárias estimulando os eleitores a venderem seus votos.

Essa prática parece que não acaba nunca, mesmo com a fiscalização dos responsáveis pelas eleições. As chamadas lideranças - sejam de movimentos sociais ou de associações de moradores acham que os candidatos são todos endinheirados e, ao invés de conscientizarem em seus associados em votarem com consciência, pedem às pessoas que peguem nem que seja uma “casquinha” pelo voto, afinal, dizem, é tempo de ganhar algum que depois só em dois anos. (Imagem disponível em: www.sem-100tido.blogspot.com)

SORRISO DO LAGARTO

images_lagarto Aqui na Amazônia raramente alguém diz lagarto. Mesmo pessoas esclarecidas dizem mesmo é “largato”, que fica mais fácil de pronunciar e de se comunicar.

Então quando vejo na televisão uns candidatos “só sorrisos” me lembro do livro do João Ubaldo, que foi transformado em minissérie de TV. Eles riem de quê? E para quem?

Certamente essa “forçação de barra” faz parte da orientação dos marqueteiros que transformam certos candidatos ao inverso do esperado por eles. Alguns não conseguem ficar sorrindo mais de dois segundos e assim se traem. Viram verdadeiras aberrações de imagens, com seus sorrisos jurássicos. (Imagem disponível em: www.flickriver.com)

NATHAL

Nathal Villar_show Esse Nathal com “h” deitou e rolou com o lançamento do seu CD “Fantasias”, no sábado passado, no Malocão do SESI. Muita gente foi prestigiar o artista que está com o trabalho fonográfico de música pop mais importante dos últimos anos no Amapá.

Nathal Villar apresentou o conhecido cantor paraense Alcyr Guimarães no show que também teve a participação dos cantores Osmar Júnior, Amadeu Cavalcanti e Marcelo Dias.

CAMPEONATO AMAPAENSE

estadio_zerao_1-apA crise no futebol amapaense é geral. A possível participação de apenas cinco times no campeonato com certeza vai tirar mais ainda o brilho do nosso futebol “profissional”.

Disseram que o campeão São José e o Ypiranga não participariam do torneio. Mas ainda resta uma lâmina de esperança. O problema é a ausência dos mecenas de sempre, que injetavam recursos para as despesas (altas despesas, diga-se) e que agora retiraram qualquer patrocínio. (Imagem disponível em: www.blig.ig.com.br

ABACAXI

HPIM2878 Outro dependente da grana do Governo estadual é o Festival do Abacaxi, principal evento turístico do município de Porto Grande, na região do Araguari.

Por falta desse abençoado incentivo oficial, a tradicional festa interiorana, que ganhou mais fama depois que o Jornal Nacional no Ar passou por lá e elogiou a diversidade de produtos do abacaxi, corre o risco de não acontecer pela primeira vez em mais de 15 anos. Dizem, entretanto, que o prefeito tem um plano B para a festa que aconteceria neste fim de semana, mas que pode ser adiado. O escândalo da prisão do governador gerou um efeito dominó em todas as áreas: do esporte ao turismo, da cultura a produção, todos extremamente dependentes do poder público. Um verdadeiro abacaxi com casca e tudo que ninguém quer mais engolir. (Imagem disponível em: www.acciolytk.blogspot.com)

MOVIMENTO EM AÇÃO

heraldo almeida O Programa Movimento em Ação, apresentado diariamente na rádio equatorial pelo radialista Heraldo Almeida, vai voltar no dia 4 de outubro, segunda-feira, um dia depois da eleição.

Heraldo foi obrigado a sair do ar possivelmente por motivos políticos, já que sua postura como apresentador vinha causando ciuminhos e incomodando candidatos conservadores.

Mesmo frustrado e sabedor das intervenções junto à diretoria da emissora, seu prestígio cresceu pela serenidade com que enfrentou o episódio e como vem aguardando a situação. De longe ele ainda é o arauto da cultura amapaense e defensor da nossa arte.

ZUNIDOR

Bibas, Delgado, Fernando Canto e Tavares Muito legal a festa dos 28 anos do bar do Abreu. Gente que eu não via há mais de 10 anos apareceu por lá para matar as saudades dos velhos tempos. Tudo abstêmio. “Oh tempora, oh mores!” Oh sóbrios astrais!

O conjunto resistente “Os Cometas” se apresenta – agora pra valer – na sede do Trem desportivo Clube, com um baile-show no dia 13 de novembro, depois de superados uns probleminhas e ajustada a data.

Depois vou comentar aqui o livro “Catalinas e Casarões” do escritor Ademar Amaral.

rui guilherme Vem aí o Concurso de Contos da Associação dos Magistrados. Juiz Guilherme no comando.

antena_rádio A Rádio Câmara vai ser retransmitida das instalações da Radio Universitária para todo o Estado do Amapá.

Acesse o blog “Canto da Amazônia”: www.fernando-canto.blogspot.com 

Inderê! Volto zunindo na sexta.

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

VInte e quaTro cARAS

24_caras Vinte e quatro ladrões deidéisalheias, vinte e quatro Karaikos sem identidade, vinte e quatro alimárias, vinte e quatro fedegosos, vinte e quatro desativos, vinte e quatro legistijolos, vinte e quatro esbugalhados, vinte e quatro moscamortas, vinte e quatro sanguessugas, vinte e quatro harpias, vinte e quatro térmitas, vinte e quatro algoterríveis, vinte e quatro dãoecomis, vinte e quatro manganeses, vinte e quatro poluídos, vinte e quatro deolhonodinheiro, vinte e quatro aves de rapina, vinte e quatro cabrassafados, vinte e quatro esconjurados, vinte e quatro trajanotraidores, vinte e quatro povoenganadores, vinte e quatro zangarrilhos, vinte e quatro ligeiros, vinte e quatro enviados do Fute e uns três ou quatro separados do veneno.

Vinte e quatro pinguinsebosos, vinte e quatro festativos, vinte e quatro silvériosdosreis, vinte e quatro ferrabrases, vinte e quatro alucinados, vinte e quatro curupiras, vinte e quatro bestas do apocalipse, vinte e quatro pseudoretardados, vinte e quatro vampiros da floresta, vinte e quatro carcinomas metastásicos, vinte e quatro xixilados, vinte e quatro decadentes e uns dois ou três que ainda tem olhos.

Vinte e quatro bobovelhos, vinte e quatro morcegos hematófagos, vinte e quatro reiscaldeira, vinte e quatro bailesdemáscas, vinte e quatro ratosdeesgoto, vinte e quatro judas, vinte e quatro traíras, vinte e quatro solipsos, vinte e quatro surucucus, vinte e quatro lacraus, vinte e quatro pretensos nababos, vinte e quatro pantagruélicos, vinte e quatro onívoros, vinte e quatro lambe-sacos-e bigodes, vinte e quatro pantófagos, vinte e quatro pinóquios, vinte e quatro febres quartãs, vinte e quatro cleptomaníacos, vinte e quatro xerimbados, vinte e quatro blefadores, vinte e quatro assimdeolho, vinte e quatro oxiúros, vinte e quatro cabas-de-igreja, vinte e quatro nanicos anatematizados e um ou dois votovencidos

Publicado no livro Equino-Cio, Textuário do Meio do Mundo. Fernando Canto. Ed. Paka-Tatu. Belém, 2004.

terça-feira, 14 de setembro de 2010

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

JABUTI NÃO SOBE EM ÁRVORE

Publicado no jornal “A Gazeta” de domingo, 12/09/10

paulo lopes Paulinho Lopes, piloto dos bons, já guiou políticos e jornalistas por sobre a imensidão da selva amazônica, sob o azul do céu amapaense. É daqueles profissionais da aviação que também já passaram por muitas situações de perigo embaixo de trovoadas e turbulências, na calma, levando passageiros e aeronaves a seu destino.

Sempre que posso encontro com o dito cujo no bar do Abreu. Conversar com ele é desopilar o fígado, pois o seu repertório de piadas e citações e tão grande e renovado que ninguém agüenta. Toda vez tem alguma coisa nova para contar, isso quando ele não inventa suas próprias anedotas tirando sarro dos freqüentadores que ficam do lado de dentro do balcão do bar. O baterista “Bolachinha” é o seu foco predileto, juntamente com a sua famosa acompanhante “batgirl”. Expressões como “Tá tudo escorrendo bem?”, “Teu borga” já fazem parte do “dialeto” ali falado, no qual as frases fesceninas ou mesmo consideradas chulas fazem parte de um repertório que até dicionarista vai lá beber na fonte.

A assistência ri das frases mais eloqüentes e das mais óbvias. Ele conta, por exemplo, que um migrante chamado Ivan Macaco convidou o Mapíngua para ir trabalhar em Caiena: “- Bora pra Caiena, rapaz, que lá o dinheiro tá correndo solto.” E o Mapíngua respondeu: “ – Tu é doido, é? Se aqui em Macapá que ele tá parado eu não consigo pegar ele, imagina lá em Caiena...” O repertório do homem tão grande que a gente se esquece de muitas histórias.

Ele eventualmente filosofa ao dizer assim: “Dá a razão para quem não tem, porque quem tem não precisa”. É uma forma de “equilibrar a balança”, diz o mestre. Por outro lado traz novidades do seu amigo, o professor João Maria Barros, que conceitua cultura como “tudo aquilo que você consegue lembrar depois de esquecer tudo aquilo que aprendeu”. Paulinho faz releituras e intertextualidades de expressões muito usadas por estas plagas como “Meu nome não é osso para andar em boca de cachorro”, e as remete para “nem milho para andar em bico de galinha” ou “nem ração para andar em boca de porco”

Mas é nos apelidos puxados pela sua memória que a assistência ri e informa outros bem engraçados. Para todos há uma história singular como os magrinhos que ficaram marcados pela alcunha de “Carapanã de Cueca”, “Filé de Gia”, “Filé de Borboleta”. Os mais feios são apelidados de “Sapo Virado do Avesso” ,“Caranguejo de Ganho”, porque são baixinhos e magros, “Cabelo de Boneca Velha”, “Bibelô de Funerária”. “Abelha”, “Pavulagem” e “Rolha de Poço Artesiano”, são interessantes, assim como os impagáveis “Diabo Assado” e “Tamaquaré no Choco”.

Logicamente que sob uma análise mais acurada esses apelidos denotam preconceito, e até discriminação e racismo. Mas como no ambiente de bar o que é sociológico não se mensura por categoria social ou freqüência estatística nessas horas, e sim pela alegria contagiosa que uma boa piada tem, os clientes riem e se congratulam aumentando o rol do anedotário que os homens criam para viverem mais alegres.

No bar o tempo passa rápido quando um bom contador de histórias como o Paulinho Piloto energiza o ambiente. E ali tem contadores como o Bira e o Aníbal Sérgio que entram na roda e nos tornam também possuidores desse élan que move a vida amapaense. Por isso mesmo o Paulinho conta até fábulas para que possamos meditar criticamente sobre a política local, como esta: “Dois compadres conversavam lá no rio Maruanum. O primeiro pergunta meio espantado. – Mas como o jabuti tá ali, compadre, se jabuti não sobe em árvore? O segundo responde. - Das duas uma: ou ele foi pra lá com a força da maré ou colocaram ele lá.” ( Do livro Adoradores do Sol – Novo Textuário do Meio do Mundo. Scortecci, São Paulo, 2010).

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

A TORRE E O DRAGÃO DA CONTEMPORANEIDADE

torres Texto de Fernando Canto publicado em “O Liberal Amapá” – Edição de 07.10.2001, incluido no livro “Adoradores do Sol”, Ed. Scortecci, 2010.

“Quando o Terror chegar (e ninguém nega que ele chegará)/ degradando, exaltando/ quando a terra tremer/ e as montanhas se desmoronarem/ convertidas em pó disperso,/ então serás três grupos – Companheiros da Direita, Companheiros da Esquerda e os Vencedores (“Alcorão”. LVI, 1-55).

Por certo os prédios do World Trade Center não foram inspirados nos zigurates mesopotâmicos, que por sua vez inspiraram a torre de Babel. Os zigurates eram construções que simbolizavam a pretensão dos homens em igualar-se aos deuses, e que se imaginavam capazes de subir ao céu por meios materiais. Algumas dessas construções chegavam a cem metros de altura, elevando-se em até sete patamares cada vez mais estreitos. Elas facilitariam tanto a descida dos deuses à terra como a subida dos homens ao Céu. O simbolismo do zigurate tem relação com a montanha onde o peregrino que nela sobe busca a purificação espiritual gradual até encontrar a luz.

A torre de Babel foi construída com betume e tijolo cozido, mas apesar da aparente fragilidade sua fundação prolongava-se solo adentro, representando ainda a união de três “mundos”: Céu, Terra e Mundo Subterrâneo. Babel é a “Porta do Céu”, talvez a maior entre as tantas torres que dominavam as cidades babilônicas. Como eram sinais de politeísmo foram condenadas pelo monoteísmo hebraico. E foi Jeová, que a partir daí acabou com a uniformidade universal da língua dos homens, para confundi-los e dispersa-los no espaço, formando o caos da comunicação entre eles.

A Nova Iorque cosmopolita que abrigava o World Trade Center absorvia diariamente milhões de frases em centenas de idiomas, embora nas famosas torres gêmeas a linguagem prevalecedora tenha sido sempre a dos computadores vorazes, a do dinheiro e a do poder.

Nessa ótica, Babel existia na modernidade substituindo a necessidade de buscar o divino pela procura do poder incomensurável, aquele que decide a vida de milhões de seres humanos do planeta, no simples digitar de códigos num teclado de computador.

Os tristes episódios que marcaram a vida americana pelo terrorismo em 11 de setembro não só representam uma assumida “morte” simbólica do capitalismo e do poder bélico universal, como também apontam para uma espécie de tentativa de “frear” ações heréticas do ocidente em que tentam “igualar-se” a Deus, quando o homem ocidental constrói para a infinitude do Céu.

Como cada moeda tem duas faces, o outro lado da destruição das torres é a arma que a destruiu: o avião. Para Jung, nos sonhos dos homens contemporâneos os aviões substituem os animais fabulosos e os monstros dos tempos remotos. O avião pode ser o Pégaso, o cavalo alado dos mitos gregos que está relacionado à água e cuja significação simbólica leva em conta no seu eixo interpretativo ser “a nuvem portadora da fonte fecunda”.

O avião, ao decolar (no sonho), conduz ao êxtase, à “la petite mort”, antiga expressão coloquial que as mulheres usavam para o “orgasmo total”. Entre tantos aspectos analíticos, digamos, bastante complexos, o avião elevando-se também se assemelha ao comportamento da vida, sua aventura iniciática, tendo ou não carga ou combustível e mesmo ao chocar-se com outro avião ou obstáculo.. Nesse caso a análise revela tendências opostas ou choque de contrários. É Dialética, é ideologia povoando o inconsciente e o significado do “sonho”, registrado na memória histórica dos homens.

O avião, por pertencer ao domínio do ar, pertence ao domínio das idéias, do espírito e do pensamento. Quem nele vai pertence a Terra (Matéria) e quer se lançar em sonho ao Céu (Espírito). Ele tem a força materializada no elemento ar.

O avião é um dragão.O dragão é o guardião dos tesouros ocultos.Como símbolo do mal e das tendências demoníacas identifica-se com a serpente. Na realidade é um símbolo ambivalente. Para a doutrina hindu ele é o Princípio. Produz o soma, que é a bebida da imortalidade. Para os chineses os dragões voadores são Montaria de Imortais, eles os elevam até o Céu. É, ainda, associado ao raio (cospe fogo) e à fertilidade (traz a chuva), trata das funções e ritmos da vida que garantem ordem e prosperidade. Enquanto relâmpago simboliza o espírito e o esclarecimento da inteligência: é a fonte da verdade. Quando é raio desencadeado representa a cólera de Deus, a punição, o castigo, a autoridade ultrajada: é o justiceiro.

Obviamente que o fato ocorrido nos EUA. proporcionou uma grande soma de interpretações. Não é demais juntar a elas mais uma informação para se somar aos motivos gerais que moveram os suicidas na destruição do WTC e do Pentágono. É bem verdade que o mundo ainda está atônito com o acontecimento. Quem sabe um dragão não está imbricado nessa história, posto que faz parte de todas as culturas e religiões conhecidas, aparecendo das mais variadas formas, inclusive no materialismo dialético, simbolizando a luta de classes.

A torre foi destruída, mas o dragão é feito do elemento ar. Pode ressurgir. Do mesmo modo a nação atingida e suas aliadas também ousarão quando vestirem a armadura e a lança de São Jorge na eterna luta do bem contra o mal.

COLUNA CANTO DA AMAZÔNIA

Publicada no jornal “A Gazeta” de sexta-feira 10.09.10

POSSE ADIADA

emanoele barbosa A posse do reitor reeleito da UNIFAP, professor José Carlos Tavares que estava prevista para hoje no auditório multiuso foi adiada.

De acordo com as informações da chefe de gabinete da reitoria, Emanuelle Barbosa, ele será empossado pelo Ministro da Educação Fernando Haddad, em Brasília, no dia 16, com a presença do vice-presidente José Alencar.

ANIVERSÁRIO DE BAR

fernando_bibas_nonato leal Está tudo pronto para as comemorações do 28º ano de fundação do Bar do Abreu, que ocorrerá amanhã na Avenida FAB. Muitos artistas vão se apresentar no show que terá atrações bastante diversificadas, desde música pop, passando pelo pagode e o brega.

Centenas de clientes perseguem o bar itinerante. Desde que começou no canto da Cobal, no Laguinho, em 1982 tem um “chama” que atrai artistas, vagabundos, estudantes e intelectuais. Muitos deles, eméritos poetas, escritores e jornalistas, passaram pelo balcão mais conhecido da cidade, como Hélio Pennafort, Alcy Araújo, Isnard Brandão de Lima, Pedro Silveira, Jorge Hernany.

ONZE DE SETEMBRO

onze_andandonagraca.blogspot.com Eu estava em um banco naquele dia 11 de setembro de 2001 quando vi na televisão as cenas horríveis de destruição. Um dia inesquecível para o mundo, uma lição de que os terroristas podem tudo. Quase três mil mortos e um país indignado e ensandecido pelo terror. Longe dali milhões de telespectadores tentavam acompanhar o noticiário para entender o que estava acontecendo.

Quem tinha parentes por lá não conseguia se comunicar. Tudo parecia estar desconectado. Aviões não pousavam nem decolavam, telefones não funcionavam. Lembro da apreensão que tive e que só pude me comunicar dias depois com uma filha que morava perto de Washington, onde um avião caiu sobre o Pentágono.

BOLSAS DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA

Logo Congresso de Iniciação Científica O Departamento de Pesquisa da PROPESPG da UNIFAP vai conceder 50 bolsas de pesquisa para alunos de graduação da instituição.

A seleção é anual e elas vão valer por um período de um ano, de agosto de 2010 a julho de 2011. Das 50 bolsas, 20 são oriundas do CNPq, 20 da UNIFAP e 10 são ofertadas pela Secretaria Estadual de Ciência e Tecnologia. O valor da bolsa é de R$360, 00. No fim do período o aluno apresenta um relatório da pesquisa que realizou sob a orientação de um professor de seu curso.

CONGRESSO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA

Terminam dia 16 as inscrições ao Edital de Submissão de Resumos para o “1º Congresso Amapaense de Iniciação Científica da UEAP, UNIFAP, IEPA e EMBRAPA, 5ª Mostra de TCC’s e 1ª Exposição de Pesquisa Científica”. O objetivo é divulgar as pesquisas dos alunos e pesquisadores bem como proporcionar a integração entre a comunidade acadêmica das IES e de pesquisa do Amapá.

Quem quiser se inscrever deve procurar o edital no DPq (dpq@unifap.br). O evento vai acontecer este ano na UNIFAP de 05 a 08 de outubro e os resumos deverão ser de resultados de pesquisa com participação de alunos de IC, TCC’s ou resultados de trabalhos de pesquisadores, inéditos ou publicados em eventos fora do Estado.

UNAMAZ

Vice-presidente eleito da Associação das Universidades da Amazônia Continental – UNAMAZ, que tem sua sede atual em Lima, o reitor José Carlos Tavares vai trazer o encontro anual da instituição para Macapá em fevereiro de 2011.

Entre seus projetos Tavares tem o Programa de Mobilidade Acadêmica para a Amazônia dentro da UNAMAZ, que prevê a concessão de 380 bolsas para docentes, para o período de 2011-2020, a ser financiado pela Univérsia, apoiado pelo banco Santander.

LÍNGUA DO ZÉ

Zé Ramos só lembrou a consulta no dentista perto da hora marcada na quarta-feira passada.

Para tirar o bafo do marafo tomado no feriado da véspera – 7 de setembro -, depois do desfile no sambódromo, comprou uns chicletes no Calçadão do Waldir minutos antes de ir ao homem do boticão.

Durante o tratamento o dentista perguntou várias vezes se ele era eleitor do Waldez, se era patriota, se tinha visto o Brasil na Copa, se gostava de beber, de forma insistente. O Zé desconversou enquanto podia achando que o doutor quisesse mudar seu voto. Quando foi embora, ansioso para ver a obturação, olhou no espelho retrovisor e se deparou com a sua língua toda azul, azulzinha do chiclete que comprara no Waldir.

ZUNIDOR

natal vilar ingresso_blog Amanhã Nathal Villar faz o lançamento do seu CD “Fantasia”. Vai ser no Malocão do SESC a partir das 21h00. O disco traz músicas de excelente qualidade. Sucesso!

A USP oferece Mestrado em Nutrição em Saúde Pública. If: www.fsp.usp.br/posgraduacao

j ney O radialista J. Ney continua sendo um dos maiores divulgadores da música produzida no Amapá. Tem razão quando cobra novas produções dos grupos e cantores locais.

caminhão entalado Um caminhão ficou entalado na alvineira da frente da igreja de São Benedito, no Laguinho. Uma barbeiragem que quase leva junto com os galhos a imagem do santo que reside num esquife de vidro.

Até segunda, 13, estão abertas as inscrições do edital do Programa Nacional do Patrimônio Imaterial, do MINC. Inf: dpi@iphan.go.br 

concentração_desfile setembro Quase 20 mil pessoas assistiram ao desfile cívico do dia Sete de Setembro no Sambódromo.

Inderê! Volto Zunindo na sexta.

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

SER SOLIDÁRIO

Publicado no jornal “A Gazeta” de domingo 06/09/10

andreia_ Ao sair de casa na manhã de quinta-feira da semana passada a jornalista Andréia Freitas se viu numa situação inusitada. Na esquina de sua casa um casal de velhos pedia socorro aos passantes porque a senhora passava mal. Ela se prontificou em ajudar, colocou os dois no carro e foi direto para o Hospital de Emergência. No caminho a mulher se debatia e o velho rezava. Desesperada de tentar chegar a tempo e salvar a vida da mulher, Andréia tentou furar sinais, solicitando espaço aos motoristas, mostrando a urgência de ultrapassá-los, tendo os faróis e o pisca - alerta ligados. Contudo, os motoristas não a deixavam passar, o que notadamente contribuía para o atraso de sua missão inesperada àquela hora da manhã.

A duras penas chegou ao hospital gritando para que socorressem a senhora, até que alguém veio e a levou em uma cadeira de rodas. Como tinha que dar seu expediente no trabalho, voltou mais tarde ao hospital, onde lhe informaram que senhora já havia chegado morta, após fulminante infarto que ela não percebera no trajeto.

Mesmo tentando se controlar do estresse pelo qual passara, a jornalista chegou a passar mal com a notícia, pois esperava ter salvado a mulher. Então um misto de tristeza e impotência lhe abateu.

Esta história verdadeira nos faz pensar na solidariedade de poucos herois anônimos urbanos, ao mesmo tempo em que olhamos Macapá hoje praticamente assemelhada aos grandes centros, onde a desconfiança e a falta de urbanidade se alastram como produtos do individualismo, da competição e do medo.

Embora pequena, nossa cidade começa a ter características urbanas, não apenas pela violência nas ruas, como gangues, trânsitos e assaltos, mas por essa ausência de olhar o “outro” como olhávamos até há pouco tempo. Éramos talvez uma família pronta para ajudar os mais necessitados e aqueles que vinham de longe em busca de um lugar melhor para viver. Pelo prestígio de cada chefe de família trabalhador se podia conseguir emprego aos que chegavam “com uma mão na frente e outra atrás”. Dávamos esmolas conhecendo a realidade do pedinte e ninguém acreditava em lendas importadas de outros centros urbanos, como as que diziam serem os mendigos pessoas ricas que investiam seu dinheiro – produto da caridade alheia – em compras de casas e carros. Todo mundo conhecia o seu Chico Mocó e a Cega do Morro do Sapo, lá do Laguinho, que nem sempre pediam dinheiro, mas mantimentos para suas famílias, já que eram notórios deficientes físicos e não podiam exercer plenamente atividades rentáveis. Mas isso não era importante. O importante era ficar bem com a sua consciência solidária, certamente avivada pelos preceitos religiosos que faziam as pessoas ficarem mais felizes e cumpridoras de seus deveres espirituais e morais

Talvez eu esteja sendo um pouco romântico ou mesmo saudosista ao enfocar este tema. Porém, não tenho a menor vergonha de dizer, sim, que fui ajudado por amigos nas horas mais difíceis, que fui solidarizado e defendido em situações de agressões espúrias e infundadas e que sou grato a muitos, anônimos ou não, que me levantaram quando vacilei na caminhada. Embora particularize uma história, vejo que a solidariedade não sumiu totalmente da nossa vida. Observo sucessivas campanhas realizadas por instituições sérias; admiro aquelas que poderão realizar o sonho de muitos (ainda que suscitadas possíveis irregularidades fiscais na Internet), e acompanho atentamente entidades locais que tem satisfação em ajudar aqueles que necessitam.

Mas o medo, a violência e o individualismo geram conseqüências atrozes, pois, se de um lado o ser humano torna-se mais egoísta, em função do status quo que alcança, de outro se percebe o crescimento da miséria humana, da anomia e do sofrimento. Infelizmente alguns só se dispõem a minimizar os problemas desde que seja on line, repassando dinheiro para uma conta, sem ter que ver a miséria humana na sua frente.

Ainda bem que ainda existem pessoas solidárias como a Andréia.

COLUNA CANTO DA AMAZÔNIA

Publicada no jornal “A Gazeta” de sexta-feira 03.09.10

ESTUDANTES DE LETRAS

Encerra amanhã o 1º Encontro Amapaense de Estudantes de Letras que vem sendo realizado no auditório da Universidade Estadual do Amapá.

O evento reúne estudantes de diversas faculdades de letras de Macapá e discute as “perspectivas para o ensino da língua e da literatura”. Na programação está um importante seminário sobre a literatura colonial da Amazônia que será coordenado pelo Prof. Dr. Yurgel Caldas, da UNIFAP, que também palestrará sobre o assunto.

BAR ATO

dinho_araujo O ator e dramaturgo Dinho Araújo apresenta no dia 23 de setembro no Teatro das Bacabeiras a peça teatral “Bar Ato”, onde faz reflexões poéticas a um lugar em que desabafa e bebe.

Dinho é o autor do monólogo “O Ralho”, sucesso de público entre 2003 e 2008. A peça enfoca o problema do idoso, também uma espécie de desabafo das novas gerações sobre a velhice e vice-versa. No dia 28 ela será reapresentada no mesmo Teatro.

CANJAS

As sextas-feiras culturais do Bar do Abreu têm revelado talentos musicais até então guardados a sete chaves dentro do armário.

Depois que o Mário Belém faz o seu show sempre deixa um espaço livre para quem quer dar a sua canja. Então, incentivada por amigos (Major e Tadeu), a engenheira do INCRA Terezinha Aguiar, que é doutora em Direito Ambiental, largou a voz, surpreendendo até mesmo seus colegas de trabalho, com um vasto e bem selecionado repertório, sobretudo de músicas nordestinas, na semana passada. Hoje parece que teremos repeteco. Vamos lá para ver.

BOLACHINHA

bolachinha Finalmente descobriram o porquê do apelido do Bolachinha. Reza a lenda que o apelido mesmo era do pai dele, o seu Wilsom. Chamavam para ele na ICOMI, onde trabalhava, de “Bolacha Mijada”, porque costumava urinar nos sacos de bolacha do seu Sakagushi, em Santana. Quando seus amigos viram o Wildson em sua companhia, foi inevitável a herança da alcunha. No início Bolachinha virava o diabo, mas depois... amansou.

FILHA MOÇA

cleverson_ Cleverson Baía informa á coluna o nascimento de sua filha Clívia, ocorrido no dia 25 passado, no hospital São Camilo.

Dizem que mandou mensagem para o Oiapoque, onde mora sua mãe, pelas ondas da Rádio Difusora no programa “Alô, Alô Amazônia”, com a clássica expressão “tanto a parturiente como a recém-nascida passam bem”.

A mãe, Érica, feliz da vida, curte a filha enquanto o cantor-compositor prepara o lançamento do seu primeiro CD solo.

ZUNIDOR

De 14 a 16 de setembro ocorrerá o 1º ECOSS – Seminário de Sociologia da Saúde e Ecologia Humana, na UFSC. Inf: www.1ecoss.com.br 

Frases do Dinho Araújo: “Nem o Nolasco me salvou”. “Neto é o filho com açúcar”. Bacana!

A Associação Brasileira de Estudos Regionais e Urbanos realiza de 18 a 10 de setembro o VIII Encontro Nacional Enaber, em Juiz de Fora – MG.Inf: www.estudosregionais.org.br 

É hoje á noite a abertura da vernissage da artista plástica Rosa Moutinho no salão de eventos do Monumento Marco Zero do Equador. Serão 62 telas expostas até dia 09.

Ocorre em Belém, entre 13 e 17 deste mês o XVI Congresso Brasileiro de Meteorologia, com o tema “A Amazônia e o Clima Global”. Inf: www.ebmet2010.com/ 

Comemorando o ano internacional da biodiversidade, o Ministério da Ciência e Tecnologia promove a Semana Nacional de Ciência e Tecnologia, de 18 a 24 de outubro. Inf: http://semanact.mct.gov.br .

O Romero Serrano não pôde caminhar na Zagury. Justificou dizendo: “- Deixei meu sapato-esporte pra secar atrás da geladeira”. Essa nova!

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

A ROSA NO MEIO DO MUNDO

Por Edson Berbary

edson_berbary Agosto passou, setembro chegou. Com ele, a exposição dos quadros de Rosa Moutinho, a menina que saiu de Mazagão ainda na fase de peraltices, mas que voltou, há um tempo, para cá e volta, de quando em vez, porque não sabe viver apenas aquém do Equador. Desta vez, agora, é para mostrar o resultado de seu talento, aquele mesmo que ficou tanto tempo adormecido e, de repente, explodiu tal a pororoca no Araçagi, em formas, motivos e cores.

Como são diversificadas as formas a serem mostradas em “Diversidades”, a exposição que a menina de Mazagão deseja mostrar aos seus conterrâneos amapaenses, especialmente àqueles que gostam das artes. Quem for ao Marco Zero, no período de 3 a 9 de setembro, vai gostar de ver as 63 obras brotadas do talento desta criatura-gente, mulher-menina, amapaense-paraense, amazônida-amazonas.

Verá telas de bom gosto, com motivos variando de coisas da terra a formas geométricas, todas com leveza e cheias de graça, coloridas e rica e criativamente decoradas. Um colírio para os olhos, um registro de amor à região que lhe serviu de berço. Ninguém se arrependerá de admirar como o trabalho de superposição de materiais encima das telas, artisticamente bem-feitos, pôde dar margem a viagens mirabolantes, tais quais as lendas e as fantasias deste mundão dominado pelo caudaloso império das águas sob o comando do Amazonas.

Chama a atenção de quem lá for o toque ora singelo, diáfano e delicado, mas também o firme, diversificado e agressivo, que Rosa Moutinho emprega em suas telas. Faz jus às suas origens. Ela está no meio do mundo e, por isso, ora pisa o hemisfério sul, ora o norte. Neste vai e vem, Rosa ganhou o mundo.

Hoje está exatamente no meio dele.

__________________

Edson Berbary é crítico de arte, jornalista  e servidor aposentado da UFPA.

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

De tão azul, sangra

Ray Cunha

AZUL DE DOER

Praça Zagury , anoitecendo.

O sabiá da minha quadra começa sua armadilha de amor às 4h30. Acordo, às 5 horas, com seu canto. Ligo o abajour do criado mudo, visto-me, ponho um casaco e vou ao banheiro. Depois vou para a cozinha e preparo café Três Corações, gourmet. Bebo três xícaras de fumegante arábica com leite em pó, pãezinhos com manteiga ou doces. Faço minhas orações. São 6 horas. Os pássaros fazem algazarra na fria manhã de inverno tropical de altitude.

Ao sair de casa dou de cara com nova rosa no meu jardim. É uma pequena rosa amarela que se banha, sem prestar atenção a mim, ao sol redentor. Namoro-a. Ela continua seu banho, alheia ao mundo. As rosas são assim mesmo, só se importam com o sol. Mas eu gostaria de continuar perto dela apenas para a amar. Contudo, só beija-flores, borboletas e, claro, o sol e a brisa a tocam as rosas. E também mulheres que amam.

Parece que Deus arrumou a manhã para mim. As mangueiras estão grávidas e no ar pairam risos de crianças e tênues cheiros que lembram mulher com Chanel número 5 e mar. Certa vez, sentou-se ao meu lado, no ônibus, uma menina. Teria 14 anos. Tinha o encanto que todas as meninas têm. Perguntou-me onde ficava tal lugar – queria descer ali. Sosseguei-a. Disse-lhe que a avisaria quando ela deveria descer. Passado um pouco, ela cochilou e encostou a cabeça no meu ombro. Olhei-a. Dormia como uma criança. Procurei não me mexer até o ponto em que ela deveria descer. Acordei-a. Ela despertou sorrindo, agradeceu e se foi. Tinha a indiferença das rosas, mas, como as rosas, deixou um rastro tênue de cheiros.

Depois do trabalho, de volta a casa, paro no Big Bar, na 311 Sul, e peço uma Bohemia. Sabe-me enevoada. O rio da tarde murmura. A tarde se evola, se dilui. Os flocos negros da noite começam a cair. O sol se põe e os sons da tarde vão dando lugar à noite. Uma mulher passa na calçada. É uma linda mulher, que enobrece mais ainda os murmúrios do anoitecer.

Lembro-me, de repente, do Walmir Botelho, que me ensinou a transitar nas esquinas tumultuadas das redações dos jornais. O Walmir Botelho é diretor de redação de O Liberal de Belém do Pará. Quando vou a Belém, tomo meu banho noturno bebendo Cerpinha, e depois continuo bebendo Cerpinha e vendo a cidade, lá embaixo, da janela do hotel. Em Goiânia, bebo Brahma; no Rio de Janeiro, chopp da Brahma; em Manaus, Antarctica. Bebi durante 40 anos e deixei de beber para valer em 2008, mas uma vez ou outra bebo vinho ou Bohemia, ou Cerpinha.

Vou para casa. Em casa, olho para a pilha dos livros que estou lendo. O primeiro deles é Da Minha Janela – Crônicas da política brasileira (LGE Editora, Brasília, 2010), do jornalista André Gustavo Stumpf. Vou resenhá-lo. Também preciso ler História Desagradáveis, de Gladstone Machado de Menezes (LGE Editora, Brasília, 2010). Estou lendo em casa A Bíblia de Jerusalém, que me foi recomendada por Erwin Von-Rommel, autor de 100 Segredos (Zennex Publishing, São Paulo, 2003). À noite, na cama, leio a Verdade da Vida, volume 3 (Seicho-No-Ie do Brasil, 1962), de Masaharu Taniguchi. Quando vou para o trabalho, leio O livro dos espíritos (Instituto de Difusão Espírita, São Paulo, 1984), de Allan Kardec.

Coloquei ainda na pilha O Pequeno Príncipe (Agir, Rio de Janeiro, 1987), de Saint Exupéry. Li-o há muito tempo. Depois o li novamente, agora para minha filha, Iasmim, quando minha princesinha era um bebê. Lembro-me dos grandes olhos negros da Iasmim pousados em mim enquanto lia o livro, e nas ilustrações. Foi aí que comecei a chamar para minha princesinha de “meu bem”. E também foi Exupéry que me despertou para as coisas que não vemos com os olhos físicos, mas apenas com o coração.

Ao chegar em casa, vejo que chegaram dois volumes pelos Correios. Abro-os. Um é para eu entregar para o Joy Edson (José Edson dos Santos); o outro é para mim. Trata-se de Adoradores do Sol – Novo textuário do meio do mundo (Scortecci, São Paulo, 2010), de Fernando Canto. Fernando Canto é o escritor que melhor representa Macapá, a cidade que fica na esquina do maior rio do mundo, o Amazonas, com a Linha Imaginária do Equador. Macapá fica no mundo das águas, a meio caminho do Caribe e da Hileia. Vou mergulhar no texto de Fernando Canto, pois estou há muito tempo em Brasília.

A noite lá fora é azul escuro, tão azul que sangra.

Brasília, 23 de agosto de 2010