segunda-feira, 6 de setembro de 2010

SER SOLIDÁRIO

Publicado no jornal “A Gazeta” de domingo 06/09/10

andreia_ Ao sair de casa na manhã de quinta-feira da semana passada a jornalista Andréia Freitas se viu numa situação inusitada. Na esquina de sua casa um casal de velhos pedia socorro aos passantes porque a senhora passava mal. Ela se prontificou em ajudar, colocou os dois no carro e foi direto para o Hospital de Emergência. No caminho a mulher se debatia e o velho rezava. Desesperada de tentar chegar a tempo e salvar a vida da mulher, Andréia tentou furar sinais, solicitando espaço aos motoristas, mostrando a urgência de ultrapassá-los, tendo os faróis e o pisca - alerta ligados. Contudo, os motoristas não a deixavam passar, o que notadamente contribuía para o atraso de sua missão inesperada àquela hora da manhã.

A duras penas chegou ao hospital gritando para que socorressem a senhora, até que alguém veio e a levou em uma cadeira de rodas. Como tinha que dar seu expediente no trabalho, voltou mais tarde ao hospital, onde lhe informaram que senhora já havia chegado morta, após fulminante infarto que ela não percebera no trajeto.

Mesmo tentando se controlar do estresse pelo qual passara, a jornalista chegou a passar mal com a notícia, pois esperava ter salvado a mulher. Então um misto de tristeza e impotência lhe abateu.

Esta história verdadeira nos faz pensar na solidariedade de poucos herois anônimos urbanos, ao mesmo tempo em que olhamos Macapá hoje praticamente assemelhada aos grandes centros, onde a desconfiança e a falta de urbanidade se alastram como produtos do individualismo, da competição e do medo.

Embora pequena, nossa cidade começa a ter características urbanas, não apenas pela violência nas ruas, como gangues, trânsitos e assaltos, mas por essa ausência de olhar o “outro” como olhávamos até há pouco tempo. Éramos talvez uma família pronta para ajudar os mais necessitados e aqueles que vinham de longe em busca de um lugar melhor para viver. Pelo prestígio de cada chefe de família trabalhador se podia conseguir emprego aos que chegavam “com uma mão na frente e outra atrás”. Dávamos esmolas conhecendo a realidade do pedinte e ninguém acreditava em lendas importadas de outros centros urbanos, como as que diziam serem os mendigos pessoas ricas que investiam seu dinheiro – produto da caridade alheia – em compras de casas e carros. Todo mundo conhecia o seu Chico Mocó e a Cega do Morro do Sapo, lá do Laguinho, que nem sempre pediam dinheiro, mas mantimentos para suas famílias, já que eram notórios deficientes físicos e não podiam exercer plenamente atividades rentáveis. Mas isso não era importante. O importante era ficar bem com a sua consciência solidária, certamente avivada pelos preceitos religiosos que faziam as pessoas ficarem mais felizes e cumpridoras de seus deveres espirituais e morais

Talvez eu esteja sendo um pouco romântico ou mesmo saudosista ao enfocar este tema. Porém, não tenho a menor vergonha de dizer, sim, que fui ajudado por amigos nas horas mais difíceis, que fui solidarizado e defendido em situações de agressões espúrias e infundadas e que sou grato a muitos, anônimos ou não, que me levantaram quando vacilei na caminhada. Embora particularize uma história, vejo que a solidariedade não sumiu totalmente da nossa vida. Observo sucessivas campanhas realizadas por instituições sérias; admiro aquelas que poderão realizar o sonho de muitos (ainda que suscitadas possíveis irregularidades fiscais na Internet), e acompanho atentamente entidades locais que tem satisfação em ajudar aqueles que necessitam.

Mas o medo, a violência e o individualismo geram conseqüências atrozes, pois, se de um lado o ser humano torna-se mais egoísta, em função do status quo que alcança, de outro se percebe o crescimento da miséria humana, da anomia e do sofrimento. Infelizmente alguns só se dispõem a minimizar os problemas desde que seja on line, repassando dinheiro para uma conta, sem ter que ver a miséria humana na sua frente.

Ainda bem que ainda existem pessoas solidárias como a Andréia.

2 comentários:

  1. Raro e louvável gesto de solidariedade da colega jornalista Andréia.
    daniel de andrade simões

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  2. I always motivated by you, your opinion and attitude, again, appreciate for this nice post.

    - Norman

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