Às vezes a gente passa despercebido de datas importantes. Datas, fatos, pessoas que marcaram a nossa vida, e que foram decisivas na nossa trajetória. No ano passado, andando na zona sul da cidade, fui me dar conta do nome das escolas daqueles bairros. Era Dia do Professor.
Vi nitidamente nessas escolas, as figuras de queridos mestres que tive desde o curso primário no Barão do Rio Branco. Lembrei da figura austera e terrível da professora Cecília Pinto de Azevedo Costa, jogando sem titubear a sua pesada régua de acapu nos alunos mal comportados e barulhentos, aqueles do final da sala. Lembro dos castigos aplicados a quem não cumprisse com as obrigações impostas. Esses, coitados, estavam condenados a escreverem cem vezes uma frase correspondente à infração ou a ficarem sozinhos até depois do meio dia com uma fome danada. Ela possuía a anuência dos pais e eles achavam aquele método de aprendizagem muito correto. Recordo que fui rebaixado da segunda para a primeira série primária, por não saber "de cor" as operações matemáticas, apesar de já ler e escrever bem melhor que meus colegas. Tive que enfrentá-la também na primeira série e no ano seguinte na segunda. Então aprendi os conteúdos dos programas e a respeitá-la pelo resto da vida.
Na Avenida Diógenes Silva está a escola estadual Professora Lenir, grande e ilustre mestra, de quem tive o prazer de ser aluno no Ginásio de Macapá. Era a maior amiga dos estudantes e profunda conhecedora da História, além de líder que brigava por qualquer um, impondo o seu espírito de justiça quando um aluno era suspenso ou cometia algo além das regras estabelecidas. Ela organizava as festas e atividades cívicas da escola e estava sempre pronta a ajudar quem precisasse. Uma professora inesquecível.
Passando pela Claudomiro de Moraes a gente encontra a escola "Mário Quirino", homenagem ao professor de português do curso de Contabilidade do Colégio Comercial do Amapá – CCA. Era o mais conservador dos professores que tive. Militarista escrachado e homem rígido no ensino da língua, não admitia jamais cometer um erro. Por isso cheguei a pagar caro ao lhe dizer que falara uma cacofonia, justamente quando ministrava assunto sobre vícios de linguagem. Por causa disso, e sabedor da minha detenção durante o caricato episódio do "Engasga-engasga" em maio de 1973, tentou me expulsar, mesmo sabendo que não poderia. Não havia prova de minha participação e eu estudava o último ano. Contornada a situação, após a intervenção dos professores Edson Correia e Elza Brandão, passei "arrastando". Mas nem por isso deixei de reverenciá-lo com um professor de qualidade.
O cientista Reinaldo Damasceno ensinava no Instituto de Educação do Amapá – IETA, quando ali fiz apenas o primeiro ano do curso pedagógico. Foi um dos mais homens mais cultos do seu tempo em Macapá. Era brincalhão, mas ensinava com seriedade e competência. Realizava suas pesquisas biológicas no Museu Costa Lima, que criou. Não tive o prazer de ter sido aluno da professora Aracy Mont'Alverne. Fui amigo e admirador da poetisa e cheguei a escrever o prefácio do seu livro "Luzes Para a Madrugada". A professora Aracy foi uma das mais proeminentes mestras amapaenses. Mais adiante, na Rua Claudomiro, está a justa homenagem ao professor Irineu da Gama Paes, um dos primeiros mestres da educação física do Território, que ministrava suas aulas na Praça do Barão.
E assim como tantas homenagens que fizeram a eles, fica também a minha, eivada de boas lembranças, essas que os tornaram arautos da boa educação do seu tempo e de inesquecíveis ensinamentos, úteis para a vida toda.
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