sexta-feira, 13 de setembro de 2013

SEPARAÇÃO

Affonso Romano de Sant’Anna
 
Desmontar a casa
E o amor. Despregar
Os sentimentos
Das paredes e lençóis.
Recolher as cortinas
Após a tempestade das conversas.

O amor não resistiu às balas, pragas, flores
E corpos de intermeio

Empilhar livros, quadros,
Discos e remorsos.
Esperar o infernal
Juízo final do desamor.

Vizinhos se assustam de manhã
Ante os destroços junto à porta:
Pareciam se amar tanto!

Houve um tempo:
Uma casa de campo,
Fotos em Veneza,
Um tempo em que sorridente
O amor aglutinava festas e jantares.

Amou-se um certo modo de despir-se,
De pentear-se.
Amou-se um sorriso e um certo
Modo de botar a mesa. Amou-se
Um certo modo de amar.

No entanto o amor bate em retirada
Com suas roupas amassadas, trocas de insultos
Malas desesperadas, soluços embargados.

Faltou amor no amor?
Gastou-se o amor no amor?
Fartou-se o amor?

No quarto dos filhos
Outra derrota à vista:
Bonecos e brinquedos pendem
Numa colagem de afetos natimortos.

O amor ruiu e tem pressa de ir embora
Envergonhado.

Erguerá outra casa o amor?
Escolherá objetos, morará na praia?
Viajará na neve e na neblina?

Tonto, perplexo, sem rumo
Um corpo sai porta afora
Com pedaços de passado na cabeça
E um impreciso futuro.
No peito o coração pesa
Mais que uma mala de chumbo.


 

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