sexta-feira, 13 de setembro de 2013

POETA LUIZ JORGE FERREIRA


Eis aí um poema memorial do grande Luís Jorge Ferreira, exilado por vontade própria na selva de cimento de São Paulo há muitos anos. Ferreira se caracteriza por dar lubricidade ao lúdico de sua infância, por estender o que recorda a uma atualidade fulminante, o que enleva sua generosidade poética, dando a ela um halo autenticamente pessoal.

 
       APELO 1

 
       O charme de Zaide, era sair debaixo, sem haver terminado.

       Longe:- Zumbando o Marabaixo.

       Sem perder o charme,sem zunir,sem zombar,sem dar um gemido.

       Isto ela fez com o primeiro - Pai de Coló.

       Repetiu com o segundo - Pai de Ângela.

       Bisou com o terceiro - Pai de Bebeçudo.Com o pai de Álvaro, Angélica, Avulu, Fernando, Biló ,

       Zé Maria, Paulo Rodolfo, Cecílio, Quele, Padoca, Lele, e os que mudaram com ela para rua da Olaria.

       Ali colocou a lua em tigela de barro, e os gemidos e assovios, os pôs a secar.

       Os de ninar os dependurou na crista do vento, os de beber retirou suas línguas,

       e as esticou entre o Equador e o Trópico de Câncer.

       Os de chorar, amarrou suas lágrimas com Puraquês e os acendeu as vésperas de lua.

       Os de ir. Para eles, varreu a porta da casa com sopros e sussurros.

       Os porquês dos quereres e maldizeres, deixou no escuro da memória.

       Os de escrever poemas e os de se apaixonar,estes,ela fez sinal com as digitais

       sobre os olhos sempre ávidos e avulsos.

       Os de voltar, para eles, ela limpou um quarto escuro, sem limites entre o passado e o presente.

       Espalhou, Duendes,encontro banais,espanto, canções,perfumes e lembranças, situações cotidianas,

       frases levianas, psius e silêncios, botou de repentes e alguns ...te amo.

        Os de subir a Av. Ernestino Borges, para eles ela confundiu o Norte Magnético,com telas de tv,

       teclas de computador, e a cicatriz de várias pegadas sem rumo.

       Os que gastaram pouco o tempo, os prematuros, os imaturos e quase mudos, os que subiram a ladeira,

       com as mãos no bolso, os de terno escuro, os amantes do muro, os que sentavam no tronco ao lado da Igreja,

       os de queixa, os de pranto, os de reza, os de pressa, os de bulir com pica paus e percevejos, os do retrato, os escoteiros,

       os de cerveja, os do Pacoval, os do Araxá, os do Curral das Éguas, as mulheres éguas. Os de eu, e os que foram tu,

       e as que foram, e os que foram, e os que são...

 
       O charme de Zaide, era sair do poema, antes do término como um Inverno, largando chuva na vidraça,

       barulho nas telhas e pausa para mexer no quarto escuro, com os gatos de porcelana e as bailarinas de louça.

       Tudo isso na primeira estrofe.

       - Que é esta na qual estou vivo,

       Para os vivos, ela preparou um aviso.

       Para os vivos !

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