Recentemente a história paraense teve uma grande perda, Benedito Nunes, o Bené, deixou nossa literatura mais triste, porém sabiamente enriquecida.
Passos, sobre passos, assim caminha a humanidade e sobre os passos de Bené trilhamos um grande e belo caminho.
Caminho este regado de lirismo, onomatopéias, eufemismos... descobrir o que de fato um autor procura expressar em suas letras negras, azuis, vermelhas ou verdes é simplesmente um desafio.
Seus rabiscos são arte pura, reflexos dos rompantes de ideias que surgem como tsunamis avassaladores, que simplesmente inundam nossa imaginação e para tentar não deixar nada escapar, vale tudo para aquele momento lembrar.
E naquele íntimo, somente ele, o Autor, é capaz de sentir e compreender o que está acontecendo em sua narrativa ou com seu personagem.
Existem aqueles que dizem que somos aquilo o que as pessoas percebem, ora metidos, ora humildes, ora vilões ou simplesmente mocinhos.
Tentar capturar a essência de um autor, ainda mais quando falamos de Bené é algo que passa a transcender o lógico e o racional, tentar compreender sua essência é como olhar para um livro em braille sem saber ler uma letra sequer e mesmo assim, tentar entender.
Pode parecer engraçado, mas geralmente valorizamos e exaltamos alguém após sua perda, mas não com Bené, ainda em vida e durante muitos anos desta, ele foi reconhecido e homenageado por sua contribuição à nossa língua mãe, assim como para a literatura Brasileira.
Simplesmente chamar de imortal pode ser exuberante, prefiro me referir ao imortal ao lembrar de suas caminhadas todas as tardes, por vezes até o famoso e glorioso bosque Rodrigues Alves, ou por vezes apenas no quarteirão de sua casa na Mauriti.
Benedito nos ensinou a olhar a vida e as perspectivas por meios curiosos, nos fez perceber que existem barreiras e fronteiras além do certo e do errado, do sim e do não, compreendê-lo é tarefa árdua e tenho no meu íntimo leve pressentimento que somente na confidência do quarto ele poderia de fato se fazer entender.
Sofremos todos por falta de memória, esquecemos daqueles que fizeram no passado o suficiente para que tenhamos esse presente, não adianta querermos lembrar, precisamos fazer algo para de fato não esquecer.
Muitos contribuíram para a formação de várias gerações, inclusive a minha, e a pergunta que a cada dia se torna mais gritante é, o que vamos deixar de contribuição para os filhos, netos e sobrinhos que hoje compartilham de nosso amor? Precisamos e devemos de fato fazer algo por nós, enquanto sociedade, para que o futuro não seja apenas uma lembrança do que temos no presente.
Bené, com maestria fez sua parte. E tento, em poucas e singelas palavras, contribuir um pouquinho para que todos nós possamos um dia entender você.
Não vou terminar agradecendo, isso já o fiz e para minha alegria pessoalmente, vou terminar dizendo, o que de fato é mais importante, viver ou lembrar?
segunda-feira, 4 de abril de 2011
Viver ou lembrar?
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Lembrar, meu caro Fernando. Lembrar. Enquanto Bené viveu - assim como após a sua morte-, eu escrevi alguns textos tendo sempre o "bendito" santo na marca d água de minhas páginas em branco. Até mesmo porque não tive a oportunidade de apertar a mão dele, o que certamente tiveste e, por isso, eu o invejo.
ResponderExcluirPor falar em viver e ser esse blog pilotado por um ser inteligente e solidário,
ResponderExcluiré o mais indicado para iniciar uma campanha em defesa da cultura indígena.SANH-HÃ, CRIANÇA waiãpi suicidou aos 12 anos, era linda e inteligente, meu livro sobre o AMAPA traz ela na capa. Topas ?
Alguém teria que contar direito esta história, você é este alguém.
Que tal para começar criar inaugurar, praça, rua, avenida, escola de samba ou marabaixo, ou busto? Capi, Janete e Camilo sabem dessa história, falei com eles, nada foi dito ...Elson Martins conheceu San-Hã.
Abraços, allea jacta est
CONTE comigo,
www.saitica.blogspot.com