Texto publicado em nov/2007
Em julho de 2004 publiquei o livro “Eqüino Cio – Textuário do Meio do Mundo”, pela editora Paka-Tatu, com comentário crítico do professor da Unifap, e agora doutor em Letras, Yurgel Caldas. Reproduzo aqui seus escritos sem a menor obliqüidade que “O livro nos traz uma literatura transformadora, não apenas pelo caráter formal dos textos, onde muitos deles permitem entradas e saídas alternativas, mas sobretudo porque o estado líquido vai ganhando corpo, e enquanto tal experimentamos os traçados tortuosos dos rios e a típica inconstância de sua constituição. Transformação, mutação, enchente, vazante: palavras que fluem e escorrem, que lavam e levam...”
A água, como a neve para os escritores nórdicos ou a areia para os árabes, é a verdadeira condição da Amazônia: um vale espremido pela opressão geológica dos planaltos, uma planície gigantesca em formação de milhões de anos onde milhares de rios cruzam e pagam seu tributo ao maior deles, o Amazonas. Um lugar abençoado por ter 1/5 da água potável do planeta e que a cada dia ganha mais importância estratégica, uma vez que nos próximos anos 52 países, que representam cerca de 50% da população mundial, sofrerão com a escassez de água. Uma terra de proporções gigantescas, porque possui 2/3 dos recursos hídricos-energéticos do país e que o grande Rio que contemplamos todo dia, despeja 220 mil metros cúbicos de água por segundo no Oceano Atlântico, e adentra quase 500 quilômetros levando sedimentos e sais minerais que enriquecem a cadeia produtiva. Uma zona de floresta tropical inigualável que vem continuamente sofrendo devastações que mudam o seu clima e lhes comprometem no todo. São muitos os nossos problemas. E não podemos nos omitir de participar de campanhas que os minimizem e que sirvam para melhorar a vida de nossa população. Mas da mesma forma como a água serve para propagar a cólera e a dengue ela existe na vida do amazônida como uma bênção, a qualquer hora: no banho, na comida, na chuva e na lágrima.
Então, vejo que pela desgraça, começamos a nos convencer da importância da água pra valer. A chuva de granizo do Oiapoque é água dura. E não deve ter sido essa a primeira vez. Oiapoque se situa entre o mar e serras, e pertence ao platô das Guianas. È uma das maiores densidades pluviométricas do Brasil. Não vejo mistério nisso com meus olhos de leigo, mas sinto a água como condição impregnada da vida regional.
Agora a natureza nos prega uma peça geológica: um pequeno terremoto que causou pânico no centro da cidade, com pessoas correndo das repartições públicas e bancos, gritando com medo do fim do mundo. Exageros à parte o fenômeno ocorreu no mar do Caribe e foi sentido entre nós, a milhares de quilômetros de distância, insinuando também que as ondas de um abalo sísmico podem chegar até nós de uma hora para outra.
O crítico Yurgel Caldas informa ainda que “para os antigos poetas celtas, a água era o espaço e o meio de revelações proféticas, a pororoca, em suas idas e vindas, acaba assumindo {no livro} estatuto de ‘tsunami amazônico”. {Nesse texto} “Fernando aponta esses caminhos sobre as águas, não como princípio do fim ou algo meramente apocalíptico, mas enquanto ablução, isto é, como ritual de purificação (e porque não dizer transformação?) através da água”.
“Tsunami Amazônico” se reporta a um tsunami que destrói Macapá no futuro, após um choque de placas tectônicas no Atlântico, gerando um maremoto e consequentemente ondas gigantescas. Foi escrito em 2001, mas lembro aos leitores que o fenômeno ficou conhecido no Natal de 2004, quando matou mais de 300 mil pessoas na Indonésia.
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