Poema de Luiz Jorge Ferreira
Após
arrumar o Fado, as Photos, e a Música de Chico Buarque,
Na
estante ao lado.
Mamãe
deita para morrer.
Eu fui
buscar o mar, puxando-o pela janela apodrecida da sala.
E o
coloquei ao seu lado. O cheiro de peixe pregou-se em nós.
Depois de
cirandar entre Ursa Maior e Plutão.
Quero
dizer Av Ernestino Borges e Odilardo Silva.
Mamãe finge
que um dia afogou os igarapés na poça d’água do quintal.
Onde o
cheiro dos cajus embriaga o sol. E lá criou os particípios passados para que
ninguém a visse soletrar S.a.u.d.a.d.e.
Havia um
barulho de flores no cio.E o mês de Abril partindo a galope.
Hoje
durmo nu sob o Equador
Corro
anão sob o céu de Macapá.
Onde
ruminar com os potros, sorri minh’alma.
Quero
juntar-me aos tuiras e tuins. Um mar tolo foge pelo ontem.
Ao longe
a chuva chicoteia nos telhados.
Em mim o
que chicoteia eu engulo, com saliva e afim.
À noite,
a noite molha minha pele negra com coisas da noite, sob a luz vesga da lua.
Ela uma
tola que se acocora com Cora Coralina.
E se
intimida com o Português de Pessoa.
Sabe que
o mar é um punhado de água com sal.
E conta
para as gaivotas que contam para minha mãe que grita.
-A
bombordo com o sol.
Amargo
até o ultimo mel dou nó nos nós.
Corro
para o por do sol cego como um pássaro cego em um vôo cego.
Minha mãe
salga o olhar no mar simplesmente só.
Os olhos
dos gatos que sobem sobre os escuros, a espiam.
Enquanto
cansada, cheira o mar que eu trouxe, ainda sujo de areia.
Ela
conversa com sereias, e outros, outros.
Eu sou
para ela a canoa talhada em ossos que ela fala que deixou na orla das horas, lá
atrás.
Fadigado
por outros tantos anos tantos.
Ouço
pisadas, espaçadas, do tempo, na areia de outrora.
São 18:45
e chove.
Como se
fosse a única coisa tão próxima.
Réquiem...
2012, Osasco, tanto de tanto de 2008.
Sétimo
Dia.
O rastro
que o mar deixou espalhado atraiu as estrelas translúcidas.
E os cães
abandonados.
Eu fechei
as mãos com força e o sangue voltou ao coração como se de lá nunca houvesse
saído.
(*) Publicado no Informativo da Sociedade Brasileira de
Médicos Escritores, de São Paulo, em 28.08.2012.
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