(*) Poemas de jovens
universitários publicados no livro homônimo pelo DCE/UFPA. Belém, 1997.
ESPELHO
AGORA
Me vesti dos teus olhos e quis
parecer deus
Eu dos rios insensatos
Dos
meses de estio
Outubro
intenso
Mas o vento que desce chorando o
golpe dos
Séculos
Não é meu
A relva multicolor não me fala
palavras
E só de tua boca saem inúmeras
cidades piscantes
Por ti cresci assustador
Penetrante em cada recôncavo
inabitado
Horas e vozes caladas para o meu
desfile
Agora mais veloz que exato
Ergo a taça em memória das coisas
passageiras
Porque te vi pela segunda vez
(Yurgel Caldas)
HORA
DO JANTAR
Eram as ruas sujas falantes
O sol-arquiteto das sombras
Reside e detona febres na
adolescência
Eram as pedras em lenço sobre o
chão
refletindo o sono dos deuses
Tocaia passeia na cheia do rosto
líquidos disparam eternos em
confusas linhas
Eram mulheres que andavam nuas
sempre olhando vitrines
escolhendo abraços e olhares
ao sol-mestre das cores
desvela o perigo
em velocidade e cansaço
Queda a chuva batismo do beijo
breve incêndio de vozes
(Yurgel Caldas)
IMPRESSÕES
DIGITAIS
Rasgo verbo
Mordo papel
Prefiro assim
Minha mão boba
Percorrendo todas as zonas
Do corpo da cada palavra
(Giselle Ribeiro)
MALADIE
E veio o outono
perpetuando seus dias
e meus temores.
No foco da minha lente
o pomar despido
e a luz pálida
acasalam-se.
Meu coração se inquieta
não quer mais cruzar montanhas
e vencer quimeras.
Arranco os botões
do meu colete de aço
e enlaço minha pele
nos fios do tempo
que me espera.
Sintam meu desarmamento:
da minha boca escorre poesia
sempre que meu coração
derrama dor.
(Giselle Ribeiro)
NÃO SABEM QUE LEVAS NAS COSTAS O
PIANO
Bebo teu corpo Waldemar
Como quem bebe bálsamo de delírio
O ístmo
Todos hão de atravessar
Desassossegaste o tempo
No remo de tua montaria
Levas contigo eu sei o mito
O grito de espasmos
O gozo da morena embuchada
Foi o boto sinhá
Tuas mãos
Teu piano
Aeroplano
O céu aguarda tua chegada
Mas eles não sabem
Que levas na bagagem
O uirapuru o pitiú de igarapés
A samaumeira que desbancou
Pras bandas de lá
O assovio da matinta perreira
A cobra grande enrolada
No canto de tua boca
A sanha cabocla de tua gente
Não sabem que levas nas costas o
piano
Há de sentar
A ao teu redor
Anjos e demônios te ouvirão
Boquiabertos
(Antônio Caxinauá Gualberto Junior)
PULMÃO
falo como se quisesse buscar das
profundezas
um íntimo abutre
das almas molhadas
falo como u homem e digo de um
beijo
a gloria das campanhas
contra gritos insentidos
a tua mão se aproxima
fraca e magra pelos flancos
são flores amarelas que são
flores
os terrenos pisoteados
e falo ainda quando não estou
aqui
na hora marcada
(Yurgel Caldas)
SOB VIRGÍLIA
“Um caráter específico do ser
é a singularidade”
por isso me finjo anjo
moro numa rua longe,
bato asas pra quem me
deseja.......
já falei pra você não se
aproximar muito,
não preciso de cães de guarda,
exibo armaduras
e meu cavalo conhece meu caminho
do gosto lúdico da solidão.
(Giselle Ribeiro)
EU TE AMO E JÁ BASTA
Um “eu te amo” e já basta.
É aquele tanto de água até a
margem do copo
(um sopro de transbordamento)
É o instante que se coloca entre
o limiar
E o início da queda.
Essa coisa que nunca escapa da
boca de gente forte
Mas que para nos – amantes – é
tão corriqueira
Quando inédita a cada respiração.
E enquanto fazemos explodir
infinitos átomos
Aquela gente não se contenta com
a beleza do nascer do dia
E constrói bombas de nêutrons
Colhendo pela rua
Os restos dos nossos beijos.
(Yurgel Caldas)
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