Texto de Fernando Canto
PRÓLOGO
O texto abaixo foi
escrito como prefácio do livro (A Luz em Luzia) sobre a história de Dona Luzia
Lamarão que na ocasião fazia 90 anos de vida. Foi o meu saudoso amigo, o João,
seu filho, que me convidou para isso, pois a obra era dele. Atendi de pronto.
Passado um tempo, o inesquecível engenheiro João Lamarão
se foi para o Oriente Eterno e continua de lá fazendo o preito de gratidão a
sua matriarca. Mas Luzia ainda trabalha em casa, e ontem recebeu novamente o
carinho de seus familiares nas comemorações dos seus 94 anos.
Ainda hoje Sônia e eu fizemos uma visita a ela. E lá
encontramos com seus filhos Domingos, Lu, Louse e Djalma, além de alguns netos.
Por isso reproduzo aqui
este prefácio de um trabalho praticamente inédito, pois àquela altura o João Lamarão
mandou imprimir poucos exemplares de um trabalho digno de circular mais, para
mostrar a saga e a coragem de Luzia, essa mulher admirável para o seu tempo.
Parabéns Dona Luzia.
As histórias
familiares sempre deixaram em mim um certo fascínio. Elas trazem à tona
personagens reais com suas fraquezas e coragens; carregam em suas malas uma
imensurável poesia e o clamor de inúmeros romances, como a solicitar que sejam
escritos para se tornarem conhecidos e valorizados. Também trazem a presença de
heróis e a ousadia dos vencedores. Não se trata apenas da junção de pequenos
casos episódicos, mas de uma espécie de prestação de contas de vidas que
realizaram o que tinha que ser realizado pela vida a fora.
Esse foi o
caso de Dona Luzia. Sua história tão bem escrita pelo João Lamarão mostra as
dificuldades que as mulheres encontravam – e ainda encontram - pelos densos
quadrantes da floresta amazônica em busca da sobrevivência e de luz. E sob esse
saboroso título, a história de Luzia é verdadeiramente uma história de luz e de
amor. Uma história amazônica de migração, de luta e de muita fé para suplantar,
na cidade, o sonho de um mundo melhor no futuro, num tempo de incertezas do
pós-guerra, num recém-criado Território Federal, onde tudo estava por fazer.
E agora a
família Lamarão faz uma festa para comemorar os noventa anos de Dona Luzia, a
matriarca. Ela está ali contente, dizendo que nem precisava de tudo isso.
Eventualmente vou até sua casa como amigo dos seus filhos e a vejo fazendo o
almoço, oferecendo o café que acabou de fazer e até pegando no cabo da enxada
para capinar o mato que teima em crescer no seu quintal. Sempre atenciosa e
devota essa mulher vencedora de batalhas não se curva ao tempo. Passou por
agruras e a todas superou como quem voa sobre as ondas do Amazonas em imensa
baía. E ali está ela sob o sol equatorial, brilhante como seu nome e sua
história. É lúcida, é luz, é Luzia.
Vale a pena
ler esta comovente e gloriosa biografia. Um exemplo para a valorização de nossa
história recente, um exercício de resgate mnemônico. Parabéns à família
Lamarão. Parabéns Dona Luzia (Macapá, Agosto de 2008).
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