SAI,
CÂNCER (*)
Sai,Câncer
Desaparece,
parte, sai do mundo
Volta
à galáxia onde fermentam
Os
íncubos da vida, de que és
A
forma inversa. Vai, foge do mundo
Monstruosa
tarântula, hediondo
Caranguejo
incolor. Fétida anêmona
Carnívora!
Sai, Câncer
Furbo
anão de unhas sujas e roídas
Monstrengo
sub-reptício, glabro homúnculo
Que
empestias as brancas madrugadas
Com
teu suave ma-cheiro de necrose
Enquanto
largas sob as portas
Teus
imundos volantes genocidas.
Sai, get-out, va-t-en, hinaus mi inhen
Tu
e tua capa de matéria plástica
Tu
e tuas galochas
Tu
e tua gravata carcomida
E
torna abjeto, ao trópico
Cujo
nome roubaste. Deixa os homens em sossego
Odioso
mascate; fecha o zipe
De
tua gorda pasta que amontoa
Caranguejos,
baratas, sapos, lesmas
Movendo-se
em seu visgo, em meio a amostras
De
óleos, graxas, corantes, germicidas.
(*)
Extraído de “Sob o Trópico de Câncer”, poema de Vinícius de Moraes.
ÚLTIMAS HORAS (**)
Lavem
bem o morto
Com
bastante álcool
Depois
passem creme
Depois
passem talco
E
esfreguem extrato
Por todo o seu corpo
Porque ele urinou-se
No último esforço
(**) Poema de Vinícius
de Moraes, publicado na Folha de São Paulo em 09.12.1992
Olá,
ResponderExcluirAchei esse blog enquanto procurava conteúdos sobre Vinicius de Moraes. Muito bacana!
Abraços,
Lu Oliveira
www.luoliveiraoficial.com.br