Dino Priante |
Lembrando o acontecimento com do Prefeito de Manaus a
alguns meses passados, veio a tona minha infância, quando estudante no São
Francisco, deveria ter uns oito anos, ouvia muitas pilhérias de colegas mais
velhos, falarem que meu pai teria vindo da Itália para roubar os brasileiros.
Não dava muito bola, não entendia direito, o que os caras queriam dizer.
Pensava; meu pai é comerciante, dava um murro
danado, não éramos ricos, só não ia de tamanco de madeira para aula, mas minha
bolsa era um saco plástico, caderno feito de papel almaço, a diferença era que
eu levava merenda, pão com bife ou com ovo, que eu acabava vendendo, para comprar
petecas, já havia tomado um café com leite, aquele vendido pelo Sr. Belém, que
ainda recebia um batismo na travessia do amazonas , tinha o reré, denominação
dada a merenda escolar na época, na Escola São Francisco.
Mas fui crescendo e fui entendendo, papai falava da segunda
grande guerra, onde a Itália fazia parte do eixo, e que os italianos e alemães
que residiam em Óbidos, sofreram por essa situação, comércio saqueado, reses
roubadas e muitos xavecos. Às vezes ele se revoltava, cansei de ouvi-lo dizer:
‘Infeliz daquele que sai de sua terra para viver na terra dos outros’. Mas
papai gostava muito daqui, afinal de contas chegou com dezenove anos e viveu
sessenta e um anos, sem jamais retornar a Itália.
Sinceramente, não vejo aqui em Belém e alguns lugares desse
Pará, qualquer pilhéria contra irmãos de outros estados. Por exemplo, no
Sul do Pará, já estive em Xinguara, Redenção, Bom Jesus dos Navegantes,
Rondon do Pará, Ipixuna, Marabá, o que menos tem é paraense, parece que é ao
contrário, eles morando no Pará é que nos discriminam.
Essa discriminação dos amazonenses com os paraense é muito
antiga, em sessenta e oito quando estive pela primeira vez em Manaus, no inicio
da Zona Franca, entramos num restaurante e perguntei se tinha maniçoba, com
intuito de ouvir a reação deles, o garçom me respondeu com tom de
desprezo, que nem conhecia, então pedi uma cerpa, aí que complicou, desconhecia
totalmente e ainda fazia graça, a deles era uma tal de: XPTO. Mês passado
estive em São Paulo, em um supermercado pequeno do Bairro da Vila Clementino
estava lá nossa Cerpa em lata, fiquei até admirado, já a“hors concours”
cerpinha você encontra nos restaurantes mais chiques de Sampa.
Mas, infelizmente, nós nortistas somos discriminados nos
grandes centros do Brasil, principalmente no Sul/Sudeste. Estava conversando
com meu filho, que faz residência médica no hospital dos Servidores do Estado
de São Paulo, perguntei-lhe se tinham tirado algum “sarro”, por ele ser
paraense, aí ele me falou que uma médica, perguntou como que ele era do Canadá
(Hemisfério Norte – para gozar), e tinha um nome totalmente
europeu, ele respondeu: Meus pais são filhos de italianos e eu tenho passaporte
europeu e devo fazer especialização em Bolonha, ela calou-se e mudaram de
assunto.
Quando
ia fazer curso em São Paulo pelos Bancos que atuei, diversas perguntas idiotas,
faziam, como: Tem índio nas ruas de Belém, eu respondia; tem, os que vão daqui.
Agora
era impressionante quando chegavam aqui em Belém, ficavam deslumbrados com a
cidade, já voltavam com outra impressão. Por diversas vezes assisti
esposa de gerente quando tinha que retornar para suas cidades de origem ou
outras agências de alguma cidade, choravam, dizendo que haviam gostado muito
daqui e que iriam sentir falta de tudo isso que temos em nosso estado, mas vi
também esposa de gerente deixar o marido aqui e voltar para o Rio de Janeiro,
porque não se acostumava em Belém.
Acho
que devemos acabar com isso, afinal somos todos brasileiros. E até com
estrangeiro, visto que, os brasileiros estão fazendo o caminho de volta que
fizeram nossos ancestrais.
Países
como Espanha, França, Itália, o turismo é uma parcela considerável do
PIB(produto interno bruto), desse países.
No exterior é a mesma coisa, quando estamos em excursões,
que descobrem que somos brasileiros, ficam mais vigilantes. Estava em visita a
Biblioteca de Coimbra em Portugal, nosso guia era português, ele nos informou
que após utilizarmos os toaletes, que deveríamos formar uma fila para ter
acesso a Biblioteca, paralelamente tinha uma excursão de italianos com guia
portuguesa, não entendi o que aconteceu, essa guia portuguesa, começou a nos
xingar em italiano para seu grupo, eu entendo o idioma, entrei pesado nela em
italiano e para ficar mais fácil, mudei para português, e disse-lhes que se
éramos mal educados como ela estava definindo, com certeza foi devido aos
nossos ancestrais e nossos colonizadores que foram daqui de Portugal para o
Brasil, ela se calou e pediu desculpas.
Para brasileiro, pegar visto para entrar nos Estados
Unidos, temos que mostrar além das últimas declarações do Imposto Renda uma
serie de exigências descabidas. Afinal vamos deixar dólares, não haveria
necessidade disso. Você em São Paulo na vinte e cinco de março, o que tem de
asiáticos não é fácil, será que estão todos regularizados?
Acredito que isso irá acabar um dia, quando houver
igualdade entre os homens, que habitam esse planeta. E sem bairrismo, gostaria
que o Pará continuasse grande, unido e desenvolvendo em todos os extremos.
(Publicado no site www.chupaosso.com.br , em 23.08.2012)
Obs: Este artigo foi escrito há mais de um ano.
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