E de repente tudo teve início. O Universo que conhecemos começou neste exato momento, ocorrido há aproximadamente 13,7 bilhões de anos, que chamamos de Big Bang. Espaço-tempo, energia e matéria, os alicerces do nosso universo, surgiram neste momento, dando origem ao universo em que vivemos.
ESTADO ESTACIONÁRIO VS BIG BANG: A VITÓRIA DE UM PADRE
As grandes descobertas cientificas da humanidade sempre foram fruto da
genialidade e, principalmente, da curiosidade insaciável de seus criadores. Com
o Big Bang não poderia ser diferente. A teoria científica para o início do universo
tem sua origem alguns anos após a publicação da relatividade geral. Um grupo de
equações conhecidas como equações de campo de Einstein implicavam claramente na
inexistência de um universo infinito e estático. Isso quer dizer que em algum
momento o universo teve um início e se expandia desde então. O universo não era
tão estático como se imaginava. Essa idéia, hoje bem aceita pela maioria das
pessoas, foi negada a princípio por muitos cientistas. O próprio Einstein
abominava essa idéia, e se recusava a aceitar um universo que não fosse
estático.Ironicamente, o primeiro a defender uma teoria científica para a origem do universo foi um padre católico. Georges Lemaître propôs baseado em seus estudos sobre a relatividade geral de Einstein, uma teoria onde o universo havia sido criado em algum momento. Ele percebeu que se o universo estava em expansão como afirmava a teoria da relatividade um dia ele deve ter sido realmente minúsculo. Esse ponto minúsculo do qual o universo teria se expandido foi chamado por Lemaître de átomo primordial, uma espécie de ponto infinitamente denso e quente que, ao explodir, originou o universo. Essa idéia, que é a base para a cosmologia moderna, foi a princípio recusada pelo próprio Einstein.
No meio acadêmico a teoria do átomo primordial encontrou resistências, principalmente pelo fato de seu criador ser um padre, fato que fez com que muitos cientistas a recusassem automaticamente. Outra teoria defendida por aqueles que se recusavam a aceitar o átomo primordial era conhecida como estado estacionário. Essa teoria, que começava a se tornar cada vez mais influente no meio acadêmico, afirmava que o universo foi e sempre será estático. Tal teoria foi proposta pelo astrônomo Fred Hoyle após seus estudos sobre a teoria de criação dos elementos da tabela periódica, a chamada nucleossíntese, ou seja, formação dos núcleos atômicos. Sua teoria do universo estacionário, em síntese, dizia que o universo sempre existiu, que as características do universo como densidade e temperatura sempre foram as mesmas. Mas havia um enorme problema em sua teoria. Já se sabia que o universo estava se expandindo e se a quantidade de matéria sempre foi a mesma, como afirmava a teoria de Hoyle, a densidade deveria diminuir com o tempo pois a mesma quantidade de matéria estaria diluída em espaços cada vez maiores. Hoyle “concertou” este problema introduzindo em sua teoria a idéia de que em algum lugar no universo a matéria estava sendo criada constantemente. Contudo essa nova atualização da teoria de Hoyle não foi bem aceita.
O físico russo George Gamow estudou o átomo para defender a teoria do átomo primordial. Gamow imaginou que os elementos mais leves como hidrogênio e hélio haviam sido criados no extremamente quente e denso começo do universo. Ralph Alpher, um dos alunos de Gamow, calculou que se hidrogênio e hélio tivessem sido criados no big bang deveria existir aproximadamente dez vezes mais hidrogênio do que hélio. Essa previsão foi confirmada pouco depois por observações. Assim a teoria do átomo primordial seguia ganhando seguidores.
Lemaître propôs também a teoria do calor residual. Esse calor seria resultado da explosão do big bang que poderíamos ser capazes de observar hoje. Gamow e seus alunos aprimoraram essa teoria pensando que se o universo havia sido tão quente que sua temperatura chegaria a ser trilhões e trilhões de vezes mais quente que o Sol então o universo não poderia ter esfriado totalmente ainda. Devia haver algum resquício desse calor em algum lugar.
A teoria do Big Bang
Assim como ocorre em muitas teorias complexas, o big bang possui alguns
modelos para facilitar seu estudo. Apresentarei aqui dois destes modelos. O
primeiro chama-se Modelo Padrão da Cosmologia e o segundo, seu sucessor, é
chamado de Modelo Cosmológico Inflacionário ou apenas Modelo Inflacionário.O Modelo Padrão da Cosmologia é fundado em três idéias principais: o universo se expande (como vimos anteriormente essa expansão foi confirmada por Hubble), a radiação cósmica de fundo (o resquício de energia ainda presente hoje em dia resultante do big bang) e a nucleossíntese primordial (momento onde a temperatura permitiu a formação de núcleos atômicos).
Como já vimos antes, a radiação cósmica de fundo já foi detectada por Wilson e Penzias e mais tarde por satélites como o WMAP (Wilkinson Microwave Anisotropy Probe) e o COBE (Cosmic Background Explorer). Mas o que seria exatamente essa radiação? E como isso prova alguma coisa sobre o big bang? Bem, essa radiação nada mais é do que os restos do big bang. São micro-ondas, ou seja, milhões de fótons (aproximadamente 400 milhões por metro cúbico) com uma temperatura de 2,7 graus acima do zero absoluto. Isso é fantástico porque isso é exatamente o que o Modelo Padrão da Cosmologia prevê.
A nucleossíntese primordial é fundamental para o entendimento do big bang. Durante o chamado tempo de Planck ou era de Planck (10^-43 segundos após o big bang) a temperatura do universo era de aproximadamente 10^32 graus Kelvin, 10 trilhões de trilhões de vezes mais quente que o núcleo do Sol. Com o passar do tempo, a temperatura do universo foi caindo, ele foi resfriando e assim permitiu a organização de quarks em grupos de três formando os primeiros prótons e nêutrons. Nos próximos três minutos seguintes ao início do universo a temperatura era de aproximadamente 1 bilhão de graus e isso permitiu que houvesse a formação dos primeiros núcleos atômicos com a junção dos prótons e dos nêutrons. Nesse primeiro instante, somente núcleos de hélio e hidrogênio foram formados. Isso é de fundamental importância pois ao utilizar teorias da física nuclear e da termodinâmica os físicos podem dizer exatamente a quantidade de hélio e hidrogênio formada nesse momento do universo. Os cálculos feitos apontaram para quantidades muito desiguais entre esse átomos. Aproximadamente 80% do universo era hidrogênio e 20% era hélio. Análises atuais sobre a quantidade de hidrogênio em estrelas e nebulosas confirmaram categoricamente a teoria da nucleossíntese primordial.
Apesar do Modelo Padrão da Cosmologia ser uma boa teoria ele possui um problema grave: o problema do horizonte. Os cientistas descobriram que o universo possui praticamente a mesma temperatura em todos os lugares. Como regiões separas por bilhões de quilômetros têm a mesma temperatura? A única resposta encontrada foi a de que, durante os primeiros segundo após o big bang, essas regiões estavam tão próximas que trocaram energia térmica entre si, criando esse equilíbrio térmico no universo. Mas os físicos descobriram que não é assim tão simples. A velocidade da luz marca o limite de velocidade para tudo no universo, portanto o calor não pode ser trocado com velocidade maior que esta. Então se a distância entre dois pontos do universo tivesse sido maior do que a luz pode percorrer é impossível que esses dois pontos tivessem interagido de forma a trocar energia térmica, portanto a uniformidade da temperatura não devia ocorrer. E esse é o problema do Modelo Padrão Cosmológico. Duas áreas hoje distantes trilhões de quilômetros apresentam a mesma temperatura quando na verdade não poderiam pois no início do universo não ficaram próximas o suficiente para que houvesse a troca de energia térmica. Mas em 1979, Alan Guth desvendou esse quebra-cabeça e deu origem ao Modelo Inflacionário.
Guth, encontrou uma solução para as equações de Einstein na qual o universo se expandia exponencialmente durante um breve período. Os cálculos feitos mostraram que durante o primeiro trilionésimo de trilionésimo de trilionésimo de segundo depois do big bang o universo aumentou percentualmente mais do que nos 15 bilhões de anos que se seguiram. Isso quer dizer que objetos hoje muito distantes estavam muito mais próximos pouco tempo depois do big bang o que permitiu a troca de energia térmica entre eles. Refinamentos posteriores feitos por André Linde, Paul Steinhardt e Andreas Albrecht resolveram muitos problemas do Modelo Cosmológico Padrão, o que levou a aceitação do Modelo Inflacionário.
O big bang e a teoria das supercordas
Quando os cientistas aplicaram as equações de Einstein no período entre o
big bang e a tempo de Planck descobriram algo que lhes tirou o sono. Conforme
regressamos o universo fica menor, mais quente e mais denso. Quando o tempo é
zero o tamanho do universo desaparece e a temperatura e a densidade chegam ao
infinito, algo que não deveria acontecer. Os cientistas perceberam então que
era necessário mudar de abordagem pois só relatividade não bastava, precisavam
também de mecânica quântica e assim se viram forçados a usar a teoria das
cordas.A teoria das supercordas altera o Modelo Padrão da Cosmologia de duas formas principais. Primeiro, as pesquisas recentes indicam que o universo possui um valor mínimo para seu tamanho (não é infinitamente pequeno). Segundo, a teoria das supercordas considera 11 dimensões das quais quatro são espaço-temporais. Isso altera os cálculos necessários já que somos obrigados a considerar a evolução de todas as dimensões.
As equações das supercordas são extremamente complicadas e,
infelizmente, são apenas aproximações das reais equações. Sem a posse das
equações exatas da teoria das cordas, os cientistas são obrigados a recorrer a
aproximações. Sobre o assunto Vafa disse: “O nosso trabalho põe em destaque a
nova maneira pela qual a teoria das cordas permite reestudar problemas
persistentes do modelo-padrão da cosmologia. Vemos, por exemplo, que a própria
noção de uma singularidade inicial pode ser totalmente evitada pela teoria das
cordas. Mas devido às dificuldade que impedem a execução de cálculos
inteiramente confiáveis nessas condições extremas, como o nosso nível atual de conhecimento
sobre a teoria das cordas o nosso trabalho só pode proporcionar um vislumbre
inicial da cosmologia das cordas e ainda é muito longe de dar a palavra final.”
Apesar das dificuldades parece que os cientistas encontraram
uma forma mais precisa de responder os problemas da teoria das supercordas. A
resposta aparentemente pode ser a Teoria M, criada por Witten durante a segunda
revolução das supercordas. Witten conseguiu demonstrar que alguns dos antigos
problemas podem ser evitados ao utilizar a teoria M. Algumas das mais
interessantes possibilidades da teoria M acontecem em mundos que não podemos
enxergar. Os físicos sabem que o tecido quântico é um lugar um tanto quanto
frenético. Flutuações quânticas de energia ocorrem a todo instante. Por conta
disso um vácuo perfeito não pode existir já que, mesmo com a ausência de
moléculas e átomos, o tecido quântico “cria” partículas. As flutuações de
energia fazem com que pares de partícula e anti-partícula sejam criados se
aniquilando o tempo todo. Acontece que essas flutuações, de acordo com alguns
cientistas, podem ter sido responsável pela criação do universo. É possível que
algum tipo de flutuação quântica anômala tenha criado o universo e devido ao
seu estado instável, ele se expandiu como vimos.
Contudo, estamos ainda dando os primeiros passos na busca de
uma teoria definitiva para o surgimento do universo. Os cientistas continuam
incansáveis na busca por respostas utilizando os mais avançados recursos
matemáticos da teoria das supercordas e da teoria M para, quem sabe um dia,
descobrir como foi o início do universo.
Referências:
Brian Greene (2001). O universe elegante
Kepler de Souza e Maria de Fátima (2004). Astronomia e
Astrofísica
DE FATO.PARA EXPLICAR O INEXPLICAVEL PRECISAMOS DO INEXPLICAVEL. É COM ELE QUE DEUS ESCREVE EM TODAS AS LINGUAS.EU DESEJO ESPERAR O CONTATO COM O E.Ts PARA PERGUNTAR SE TAMBEM CREEM.
ResponderExcluirPOREM A LUZ DA CIENCIA O TRABALHO É UM "PASSEIO" PELO MUNDO DAS TEORIAS SOBRE AS LEIS DA NATUREZA E O USO DA MATEMATICA AVANÇADA APLICADA A ASTROFISICA.TUDO PARA EXPLICAR O QUE SEMPRE TEM UMA NOVA INDAGAÇÃO A CAMINHO.
O INFINITO NÃO SE FINDA POIS ELE NUNCA COMEÇOU.