A CHEGADA DO BANANA NO CÉU
Crônica de João Lamarão
Um
mês já havia se passado daquela noite fatídica, tempo mais do que suficiente
para que os tramites burocráticos do Purgatório se processassem normalmente,
contando é claro, com o jeitinho brasileiro, instrumento fundamental para que
qualquer processo corra rapidamente em qualquer lugar e o Banana foi autorizado
a ingressar no átrio que dá acesso a porta do Céu. O ambiente normalmente tranquilo, nesta hora
estava altamente congestionado. Filas intermináveis. Parecia mais com o pronto-socorro
durante os finais de semana do que a antessala do Paraiso.
Como
era de se esperar, a situação mexeu com os brios do Banana que esbravejou aos
quatro cantos que aquilo era uma esculhambação geral e que até ali, não havia
respeito com as almas que aguardam a redenção eterna, por isso, iria se queixar
diretamente a Ele. Deus, seu amigo íntimo, que já o salvara de poucas e boas,
de forma que a BACOL não deixaria aquilo barato.
Em um
cantinho apertado, tipo 3x4, pois o preço do aluguel no Céu está pela hora da
morte e onde foram implantadas as modernas instalações do Xodó Celestial,
várias almas disputavam uma vaga no exíguo espaço a fim de conseguirem tomar
uma cerveja geladinha enquanto aguardavam a vez de serem chamados pelo assessor
especial de São Pedro, um negro alto e forte, ar de bonachão, que pela sua
estatura sobressaia a turba, impondo respeito ao ambiente. Era nada mais, nada
menos que o Pururuca.
Numa
área reservada àqueles do regime semiaberto que podem sair e entrar no Céu a
qualquer hora, ao redor de uma mesa estrategicamente colocada, Paulão, Waldir
Carrera, Marlindo Serrano e Bode, jogavam conversa fora. Faziam conjecturas de
como estava a vida pelas bandas daqui de baixo, se haveria ou não carnaval, se
a micareta na orla seria liberada, entre outras coisas.
Pela
parte interna do balcão de mármore branco italiano, entre santinhos, velas e
terços postos a venda, o Albino muito p... da vida meio a confusão peculiar,
reconheceu nosso amigo ao longe, perdido meio a multidão e esbravejou:
- P.Q.P.,
taí o motivo da minha cuíra. Acabou o nosso sossego. Vejam quem acaba de chegar
pra me aporrinhar.
Todos
se viraram rapidamente na direção indicada. A alegria foi geral e imediatamente
uma festa foi armada para receber o novo hóspede, gerando grande confusão,
todos ávidos por notícias da terra, uma vez que por aquelas bandas não tem
televisão e nem pega celular. Sabedores de que o Banana era onipresente,
conseguia a proeza estar em vários lugares praticamente ao mesmo tempo, teria
portanto, muita informação a dar.
Passada
a euforia inicial, as coisas foram acalmando, mas ao largo, um grupo de almas
francesas xingava até em patuá, a falta de organização do ambiente, exigindo
providencias urgentes. Ao fundo, uma voz em fluente francês tentava acalmar o agitado
grupo dizendo:
Monsiers
et mademoiselles, calma, calma... Aqui as coisas são assim mesmo. Não se
preocupem que vou ajeitar tudo pra vocês. Se há necessidade de dar um jeitinho,
daremos; para isso, sou a alma certa, conheço todo mundo aqui no pedaço; tenho
até autorização do Todo Poderoso para trabalhar como lobista e, mais rápido do
que o pensam, vocês estarão rezando um terço com Senhor. Mas antes, preciso de
um adiantamentozinho pra molhar a mão do porteiro.
Ouvindo
isso e intrigado com a presença de tantos franceses, o Banana virou-se
rapidamente e deu de cara com nada mais nada menos que o Franky de Lámour que
tentava resolver a questão:
-
Franky, que bagunça é essa, cara? Aqui não é o Céu, onde tudo é mil maravilhas?
- Não,
Banana! Aqui não é o Céu, aqui é Caiena.
-
Valha-me Deus! Dancei.
Esta
é uma singela homenagem àqueles que fazem parte da história macapaense e que
partiram deixando saudades.
João
Lamarão (22/12/06)
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