O INSTANTE DO BRUXO ALUMBRADO
Por Fernando Canto, escritor.
Bolero em Noite Cinza traz a emoção da dança e a virtude da luz pelas fretas das portas. São poemas ecléticos que pulverizam palavras, rebentam estruturas e reconstroem sentidos em fuga. Configura-se aqui momentos de tensão, medo, sátira anárquica, crítica social e até mesmo a pura despretensiosidade poética. São ainda trabalhos de grande generosidade estilística, pois o autor joga sua versatilidade nas entranhas do mundo através de figuras e expressões linguísticas variadas. É, sobretudo, uma forma nova de encarar o mundo e de desvirtuar a realidade que tanto sufoca. Este livro é, portanto, um instante de alumbramento.
UMA CICATRIZ INFAME NA
MEMÓRIA
Por
Menezes Y Moraes, poeta.
O poeta
consegue penetrar no pathos da condição humana, para daí traduzi-lo em poesia
marcadamente solidária, radicalmente terna. Do cotidiano mais chué ao dia mais
sublime, nos fala o poeta. Quando ele retrata a sua própria alma, nos expondo
sinceramente os subterrâneos de seu ser – como todo poeta digno desse nome -, é
a alma do seu próximo que ele desenha, intui e sugere. A alma e o corpo (amados
e sofridos) do seu próximo e a pintura da incrível existência humana são
objetos poéticos deste Bolero. Aqui dança toda a existência humana. O poeta é
um crítico implacável do mundo e da sociedade do seu tempo.
O BERRO DO VELHO JOY
Por Ray
Cunha, escritor.
Toda vez
que em Brasília digo que sou de Macapá as pessoas prestam atenção em mim como
se fosse de outro mundo. E têm razão. Macapá, que entrou na mídia nacional por
causa de José Sarney, que pulou de paraquedas na cidade e foi aplaudido pela
caboclada, é a capital do estado do Amapá, fronteira com o Caribe, extremo
norte da costa brasileira. Portanto o resto do país ninguém sabe e nem quer
saber o que se passa lá. Mas no final dos anos 60, um grupo de artistas se
reunia diariamente na casa do poeta Isnard Lima Filho. Em 72, com o nome de Joy
Edson, o velho Joy estreiava como poeta com Xarda Misturada. Mas tudo estava
levando a breca mesmo. Ele não suportava mais a ditadura dos milicos. Quem
mandava na cidade eram militares, a Polícia Federal e os filhos dos militares e
dos policiais federais. Faziam o que bem entendiam. Aí o velho Joy resolveu escafeder-se
daquela rotina enlouquecedora. Acabou com os costados em Brasília, onde tinha
parentes e havia mais oxigênio.
Pois
bem. O berro do Isnard Lima Filho era alto. Mas o velho Joy começou a berrar
alto também e hoje, ao lado do pintor Olivar Cunha, que vive em Vitória, e do
contista Fernado Canto, que vive em Belém, forma a trindade artística do Amapá.
É um dos artistas mais importantes daquelas terras mergulhadas no torpor.
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