(John Ashbery)
Para Antônio Corrêa
Neto e Odilardo Lima
1
Não é muito
acreditar que os animais trafegam
à
noite
atropelando- se entre machado e foice
os campos de abandono outrora uma cidade
Não é muito, juro, não é muito
pensar em seus tropéis alucinantes
em orgias de noites galopantes
aqui neste lugar
Ora,
este lugar:
sem
muros, se quadrantes
cheios
de virtude, não obstante
o
ranço
o
medo
o
sonho
o
cenho franzido de quebranto
2
Vento, vento, vento, vindo leste vindo
para todos que bem-vindos vieram adicionar
o sonho menos lúgubre do autóctone
(um rastro apagado em chuvas do futuro)
por engano, triste engano, cedo o sonho
feneceu
num ato
Ali estão os autores da devassa
emantados de judas
coroados de silvérios
com fama e glória
em trono de raízes
(a escória a desafiar o revertério)
Atadas em cordas de envira
embotadas em óculos de asfalto
tremendo e sem olfato
em caminhões de lixo e podridão
a roer chiclete da sola dos sapatos
3
Um odor de naftalina cobre a quadratura da
Terra
As mesmas roupas de antanho vestem corpos
abrasíveis
repelem os mesmos insetos que teimam em
sobreviver
será
capaz de tirar
o
cheiro de traque antigo
que
se impregna no ar
Talvez
pensando na morte
ou
na sorte de quem viveu
é
que tenhamos no norte
a
luz brilhando no breu
FEDEU,
MORREU!
4
Aonde tu vais, assim, rapaz
Tão bonito, impecável dentro desse fato
Conquistar a moça do Laguinho com um
extrato
Ou na mansão dos nobres pro jornal tirar
retrato?
Onde vais, antigo companheiro de pelada?
Amesenda - te, conversa, toma uma gelada
Diz- me dos sonhos planejados no infortúnio
Quando transformar o mundo e a nossa terra
Era o delírio nas repúblicas, nos bares
Era o desejo vital das noites de plenilúnio
- Barco e esmo navegando pelos mares
Aproxima - te, parente, não tenhas medo de mim
Não há ninguém a meu lado, mostra- me teu latim
Quero olhar fundo em teus olhos
Quero ver se existe o brilho
Do anseio equatorial
Quero ver se teu sentido só transparece no
fundo
Se a pregnância da história mundiou a tua vida
5
Dagorinha me contaram
que te dão um anelzinho
(nada dizes a ninguém)
que licitas teu destino
a troco de um vintém
que teu critério de escolha
mudou para o “anambu”
que uma vez uma galinha
bonita, toda pedrez
botou um ovo de ouro
para tua corja de três
cair no poço, entretanto
com água pelo pescoço
é apenas besta discurso
de quem não tem o do almoço.
Onde o velho sonho, onde?
Dirás:
Fedeu, morreu!
Onde o futuro acariciado, onde?
Dirás:
Fedeu, morreu!
Onde a miséria acaba, onde?
Dirás:
Fedeu, morreu!
Onde a ordem do destino, onde?
Dirás:
Fedeu, morreu!
C
H
I
N
O M
E U U
U E
B L T
U G I
O !!!
O O Z
MORREUCOMOCANGULA
SEMCEROLNALINHAZERO
Nunca mais dirás: - Sou mero!
- Pira paz, pobreza não quero mais!
E pedes- me que cale, fale baixo...
Não, amigo (primeirão desde menino),
a segredos desse tipo eu me levanto
não te abicoro, te patrulho ou te espanto
Mas rebento minha dor goela afora:
- CALA-A-BOCA JÁ MORREU!
- CALA-A-BOCA JÁ MORREU!
Quem manda nela sou eu!
- Vai, trajano, minhas mãos tremem com a
vergonha de Cabral.
7
Dos Congós ao Curiaú
o silêncio é como espuma
que absorve tudo
Exceto
a angústia
Como pedra
o silêncio paira
nos bairros santificados
Como barro
o
silêncio plasma
Os rostos inesquecíveis
Como fulcro
o
silêncio apóia
a retida/coletiva ira
8
Do Oiapoque ao Cajari
Tumucumaque é a Cobra Adormecida
que impinge a sonolência temerária
Cruzar dos arquipélagos do leste até o Jari
é misturar à terra a água, os pés e a vontade
de expulsar a noite e a dor para o ocidente
e ver o pôr-do-sol da cor do sangue
existente apenas no
desejo:
E vem
pereba/mijacão
pano branco/erisipela
dor- na- pente/lombricóide
febre amarela/escoliose
frieira/barriga d’água
caída fica a espinhela
caganeira/filariose
esquentamento/coruba
Rondam os anofelinos
(- Aonde encontro quinino?)
Mãe Preta puxe a esquinência
dê chá pra constipação
papeira, tosse/ guariba
acabe com a panemeira
com banho de vendecaá
9
Não há remédio eficiente
nos postos do interior
(o único é o ataúde
que leva a saúde e a vida
só deixa saudade e dor
Na certa um velho malino
há de ensinar, meu menino
que água inglesa e bromil
biotônico, óleo de
fígado
de bacalhau e o escambau
curam a dor do Brasil
com elixir paregórico
permanganato/potássio
de dr. Ross: - ora, pílulas
- Viva este povo viril!
Sobrevive- se no espanto
com andiroba e mastruz
sobrevive -se ao quebranto
com a mãe-do-corpo e o encanto
10
De Heráclito o mesmo rio
passa em marés lançantes
- Insisto que sou DIÁTICO
me separando
das águas
sorvendo cachaça e sal
(estilo de vida é sopro
que acaba com o temporal)
Chuva, chuva, chuva apaga
Rastros que nascem sempre
Inacabáveis raízes
Indizíveis cicatrizes
Portanto, assim sou: cratera
O que me resta é um buraco
lar de um extinto minério
casa de fera acuada
circunscrita no espaço
Ah, olhar dentro a
olhar fera
Olhos de terra a
olhar pouco
Olhos do fundo a
olhar
torto
OLHAR MORTO/Um aborto
11
Bala balou pipira
Manga-rosa do quintal
São Benedito castiga
meninos que fazem o mal
Mas bem ali jaz um
morto:
é um lúbrico jarana
voluntário do infortúnio
da sina de seus irmãos
pelo soldo da cruzada
pela saldo na carteira
pelo saco do patrão
Perguntaremos: - Meu nego
Onde o sonho de Ivo Torres
de Álvaro, Janary, de Maricota, João?
Onde o onirismo louco
do Silva, do Araújo, do Lima e da Raimundinha?
Lá na
beira do trapiche
sonâmbulo,
liso e leso
um
bêbado evoca os entes
das
águas do Rio- mar
- GALA-SECA NA CABEÇA!
- GALA-SECA NA CABEÇA!
Na primeira de copas
te mando pra caixa-pregos!
12
No Igarapé das Mulheres
Na ponta do cabo Orange
Carvão ou Sete Mangueiras
um sáurio-siáudio anuncia
a vinda dos guantes-mores
para algum discurso insosso
cuspido em boca-de -ferro
(palavras oxidadas em velha inauguração)
- Um oxímoro, presumo, no correr da narração
Lá no Banco da Amizade
na rua General Rondon
Sacaca ralhou com um mano
que ousou lhe desrespeitar:
- Alguns caem numa poça
Outros no precipício
Todos têm o seu fim
Mas poucos têm um princípio!
13
Não é muito acreditar
(Não basta crer no que é crível!)
no que se enceta na história
no destrinchar do nó górdio
que existe no labirinto
das ruas de nossa memória
Pois que o teor de uma agulha
é aço que tece a teia
juntada a cada manhã
É tarde clara, é Setembro
do pino equinocial
É fogo que cliva a pedra
não é de gelo este afã
Maio / 92
FEDEU MORREU!
E outros poemas Incontidos
Fernando Canto
Para Euton Ramos, que ligou a partida no devaneio de uma mesa
de bar.
“Construo, com os ossos do mundo,
uma armadilha; aprenderás, aqui, que
o
brilho é vil; aprenderás a mastigar o
teu coração, tu mesmo”
(Ferreira Gullar)
FEDEU,MORREU!-BONITO!BELO!E VIGOROSO.
ResponderExcluirMAS SEU MOÇO COMO CANTA ESTE 'CABOCLO'
CANTA COMO SE EM VEZ DE HUM FOSSE OITO.
EU QUE MOREI NA ESQUINA DA ODILARDO SILVA, E FUI VIZINHO DO ODILARDO,O OUTRO.
ESTOU BATENTO PALMAS.NÃO COM AS MÃOS, MAS COM A ALMA.
FERNANDO.MUITOS PARABENS. .LUIZ JORGE.
FEDEU,MORREU!-BONITO!BELO!E VIGOROSO.
ResponderExcluirMAS SEU MOÇO COMO CANTA ESTE 'CABOCLO'
CANTA COMO SE EM VEZ DE HUM FOSSE OITO.
EU QUE MOREI NA ESQUINA DA ODILARDO SILVA, E FUI VIZINHO DO ODILARDO,O OUTRO.
ESTOU BATENTO PALMAS.NÃO COM AS MÃOS, MAS COM A ALMA.
FERNANDO.MUITOS PARABENS. .LUIZ JORGE.
BONITO!BELO!E VIGOROSO!
ResponderExcluirMAS SEU MOÇO COMO CANTA ESTE'CABOCLO'
CANTA COMO SE EM VEZ DE HUM, FOSSE OITO.
EU QUE MOREI NA ESQUINA DA ODILARDO SILVA.
E FUI VIZINHO DO ODILARDO,O OUTRO.
ESTOU BATENDO PALMAS,NÃO COM AS MÃOS,COM A ALMA.
MUITOS PARABENS. LUIZJORGE.