Eu me lembro muito bem os dias e meses seguidos ao dia 26
de Abril de 1986. Quando o acidente nuclear de Chernobyl começou, eu tinha 23
anos e morava na Bavária. Os ventos trouxeram as nuvens cheias de elementos
radioativos do acidente nuclear, como césio-137, para mais de 3 mil quilômetros
até a minha cidade Munique, onde eu trabalhava numa empresa farmacêutica. As
chuvas radioativas caíram em cima de nossas cabeças, em cima de jardins de
infância, em cima das caixas de areia para crianças brincarem e em cima dos
campos de futebol. De um dia para outro foi proibido brincar fora de casa.
As caixas de areia, os campos de futebol lindos de grama
verde, tudo foi radioativo e podendo criar câncer ou outras doenças ligas à
radioatividade. Esta chuva também afetou as plantações de legumes, de milho e
as pastagens das vacas.
Até meses depois da chuva, a Bavária, bem como partes da
Áustria, Itália, França e Inglaterra produziram milhares de litros de leite
radioativos. O que fazer com este lixo radioativo líquido? Esta foi uma grande
questão política. Finalmente foram criados fábricas especiais na Bavária e
outros lugares da Europa radioativa para diminuir este lixo. O que fizeram foi,
na realidade, tirar a água do leite e criar um concentrado, leite em pó altamente
radioativo, que finalmente foi exportado ilegalmente para países da África e
América Latina. Este leite também foi vendido para o Brasil. Um ato altamente
criminoso.
Quantas pessoas, quantas crianças brasileiras morreram ou
contraíram câncer por terem sido alimentadas com leite em pó radioativo da
Europa? Cem, mil, 100 mil? Ninguém sabe e ninguém foi condenado!
A minha experiência pessoal com Chernobuyl foi um dos
pontos porque quase 25 anos depois, em 2010/2011, eu resolvi criar junto com a
socióloga Marcia Gomes de Oliveira o "Uranium Film Festival, o festival de
filmes sobre energia nuclear. Acidentes nucleares como Chernobyl ou, como
alguns anos antes, nos EUA em Harrisburg e agora em Fukushima não possam ser
esquecidos. Porque os efeitos afetam milhares de pessoas e muita terra por um
tempo indeterminado.
O festival vai exibir este ano 2 filmes
sobre o assunto Chernobyl, 3 filmes sobre o acidente nuclear em Fukushima,
sendo dois deles estréia mundial no festival. Cerca de 50 filmes de 20 países serão
exibidos neste encontro que acontece na Cinemateca do Museu de Arte
Contemporânea do Rio de Janeiro, cujo pré-lançamento ocorre dia 26 de abril na
Vila Olímpica da Vila Isabel.
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