Para Alba Carvalho, com carinho, nesta aventura epistemológica no meio do mundo, este estudo de sociopoesia reflexiva.
I
Des/vendar tua terra, teus sonhos, Amapá
Des/vendar teus olhos, teus textos não escritos
Des/velar tua alma circunscrita sobre um rio de prantos
Que se espraia para a foz e lava sortilégios no oceano
II
Na terra o
sol repuxa a sombra do arquipélagoE explode sobre o manto da tua dimensão aquática
Em festa de bailados sem fim
III
O teu estado
é o de ausente nas necessidades, AmapáEssas que emergem quando o tempo lento das tuas tardes
Flanam no teu dorso como a vida descaindo à chuva nos barrancos
E re/velam teus segredos:
A construção de pedra ainda esmaecida na paisagem
E o ofício de viver uma inócua pedagogia da espera
IV
Desgarrar das
guelras, relatar os mistérios das entranhasDesfibrar as teias, manusear teares
Para fabricar tecidos de ouro e aço e de cores rutilantes
Como as mãos habilidosas de Penélope
Até a volta do heroi na hora exata
V
Quando és só
tu és nada, AmapáNada te adianta se ao calor não refrigeres
E se ao frio não acenderes a teus filhos
O fogo do amor e da paixão que de ti tantos esperam
VI
Quando és só
equinócio, AmapáParece não temeres
O jogo equidistante dos solstícios
Nem a força das vozes nos quadrantes
Onde estão os mitos, a fé e os gritos
Vindos lá do fundo da floresta
Em busca de respostas que as saciem
VII
Só verás
pulsar em ti a substânciaQuando a enigmática estrutura do teu corpo
Abrir-se ao vento e à mansidão da tessitura
Espelhada ao sol do equador
VIII
Tu só
sentirás a rupturaAo ouvir a voz gestante das ciências
E o anseio ainda latente no clamor de homens e mulheres
Sem os receios dos silêncios obscuros
Sem o medo de arder velhas memórias
Sem a escória a deformar os teus caminhos
E os passos do teu povo em agonia
IX
Terás,
assim, a urdidura do algodão e da lãPor aqueles que te tocam com ternura
Do meio-dia à meia-noite em tempo de contrários
Até que as sombras sejam luzes transparentes
Para que surjas radiante após a cerração
X
Mas
dobrarás, decerto, as pontas da Rosa dos VentosPara o coração, num círculo de luz:
Um gesto a agradecer eternamente
XI
Verás,
então, que desvendar-se é por o lume sobre a menteÉ libertar-se já do que te oprime
É trazer o mar de volta para os Andes
É revolver a vida em ondas inquietas
De um novo rio que surge para sempre
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