Eis aí um poema memorial do grande Luís Jorge Ferreira,
exilado por vontade própria na selva de cimento de São Paulo há muitos anos.
Ferreira se caracteriza por dar lubricidade ao lúdico de sua infância, por
estender o que recorda a uma atualidade fulminante, o que enleva sua
generosidade poética, dando a ela um halo autenticamente pessoal.
Longe:- Zumbando o Marabaixo.
Sem perder o charme,sem zunir,sem
zombar,sem dar um gemido.
Isto ela fez com o primeiro - Pai de
Coló.
Repetiu com o segundo - Pai de Ângela.
Bisou com o terceiro - Pai de
Bebeçudo.Com o pai de Álvaro, Angélica, Avulu, Fernando, Biló ,
Zé Maria, Paulo Rodolfo, Cecílio, Quele,
Padoca, Lele, e os que mudaram com ela para rua da Olaria.
Ali colocou a lua em tigela de barro, e
os gemidos e assovios, os pôs a secar.
Os de ninar os dependurou na crista do vento,
os de beber retirou suas línguas,
e as esticou entre o Equador e o Trópico
de Câncer.
Os de chorar, amarrou suas lágrimas com
Puraquês e os acendeu as vésperas de lua.
Os de ir. Para eles, varreu a porta da
casa com sopros e sussurros.
Os porquês dos quereres e maldizeres,
deixou no escuro da memória.
Os de escrever poemas e os de se
apaixonar,estes,ela fez sinal com as digitais
sobre os olhos sempre ávidos e avulsos.
Os de voltar, para eles, ela limpou um
quarto escuro, sem limites entre o passado e o presente.
Espalhou, Duendes,encontro
banais,espanto, canções,perfumes e lembranças, situações cotidianas,
frases levianas, psius e silêncios,
botou de repentes e alguns ...te amo.
teclas de computador, e a cicatriz de
várias pegadas sem rumo.
Os que gastaram pouco o tempo, os
prematuros, os imaturos e quase mudos, os que subiram a ladeira,
com as mãos no bolso, os de terno
escuro, os amantes do muro, os que sentavam no tronco ao lado da Igreja,
os de queixa, os de pranto, os de reza,
os de pressa, os de bulir com pica paus e percevejos, os do retrato, os escoteiros,
os de cerveja, os do Pacoval, os do
Araxá, os do Curral das Éguas, as mulheres éguas. Os de eu, e os que foram tu,
e as que foram, e os que foram, e os que
são...
barulho nas telhas e pausa para mexer no
quarto escuro, com os gatos de porcelana e as bailarinas de louça.
Tudo isso na primeira estrofe.
- Que é esta na qual estou vivo,
Para os vivos, ela preparou um aviso.
Para os vivos !
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