O Estado
de S. Paulo
Mesmo
após a redução das tarifas de transporte público em 12 capitais - e em metade
das cidades da Região Metropolitana de São Paulo -, novas manifestações levaram
na quinta-feira, 20, mais de 1 milhão de pessoas às ruas de 75 cidades do País.
E a violência voltou a se destacar: pela primeira vez desde o início das
manifestações, há 15 dias, uma morte foi registrada, quando um motorista
avançou sobre um manifestante em Ribeirão Preto (SP). Pelo menos outras 77
pessoas ficaram feridas - 55 no Rio.
Manifestante socorre vítima em Brasília, enquanto grupo invade o Palácio do Itamaraty, ao fundo.
|
Diante da
disseminação dos atos pelo Brasil, a presidente Dilma Rousseff
convocou para a manhã desta sexta-feira, 21, uma reunião com ministros mais
próximos, entre
eles José Eduardo Cardozo, da Justiça. Na pauta, estão o mapeamento da extensão
das manifestações e medidas emergenciais que podem ser tomadas para arrefecer o
movimento.
Durante
os protestos de quinta-feira, 20, a cena que mais chamou a atenção, foi
justamente a tentativa de invasão do Palácio do Itamaraty durante a noite, em
Brasília. A polícia tentou conter os invasores com gás, mas o prédio teve
janelas quebradas e focos externos de incêndio. Além disso, a paisagem da
Esplanada dos Ministérios foi tomada pelo gás lacrimogêneo e até a Catedral se
tornou alvo de vândalos.
Após duas
semanas de protestos, foi o ataque mais violento a um centro de poder. Antes, o
Congresso Nacional, a Assembleia Legislativa do Rio, o Palácio dos Bandeirantes
e o Edifício Matarazzo (sede da Prefeitura de São Paulo) haviam sido alvo de
protestos. Nessa quinta, com novas bandeiras para o movimento sendo discutidas
no Twitter e no Facebook e em meio às reivindicações sociais e políticas
diversas que eram ouvidas, um novo grito destacou-se: "sem partidos".
Integrantes
dessas agremiações foram proibidos de erguer bandeiras por todo o País e o PT
viu fracassar a convocação de sua "onda vermelha". Houve confronto
até entre manifestantes dos "sem partido" e os do "sem
fascismo". Mas o caráter multifacetado do movimento já preocupa
especialistas e analistas políticos, que falam em "mal-estar" da
democracia no Brasil.
Em São
Paulo, a manifestação chegou à Câmara, à Assembleia e a sede da Prefeitura, mas
sem confrontos - na Paulista, o tom de festa venceu. No entanto, as
consequências da redução de tarifa ainda eram avaliadas por Fernando Haddad
(PT), que passou o dia refazendo contas. Há pelo menos três hipóteses para
cobrir o déficit financeiro provocado pela revogação do aumento da tarifa,
incluindo adiar o bilhete único mensal. De certo, o governo municipal aponta
que o ritmo dos investimentos na cidade vai cair.
Ainda na
quinta, a Justiça de São Paulo mandou soltar os quatro estudantes do Mackenzie
e outras dez pessoas presas em flagrante e acusados de atos de vandalismo nos
protestos de terça-feira, na região da Avenida Paulista. Eles ainda vão
responder por formação de quadrilha, resistência, crime de dano, desacato e
incêndio. Já a Prefeitura vai cobrar do estudante de Arquitetura Pierre Ramon
Alves de Oliveira, de 20 anos, os danos que confessou ter causado à sede do
Executivo municipal, na tentativa de invasão, na terça-feira.
Pacote
para jovens. Está
sendo costurado no governo um pacote para a juventude. A ideia inicial é
oferecer um reforço ao programa Ciências sem Fronteiras (bolsas no exterior),
ampliar o acesso a universidades, criar novos programas sociais para a
juventude ou turbinar alguns já existentes. Em outra frente, o governo quer
aumentar vagas de ensino técnico.
Ontem à
noite, a Secretaria-Geral da Presidência promoveu uma reunião com assessores da
Secretaria da Juventude, na qual foram avaliadas reivindicações dos
manifestantes. A reunião foi flagrada pela TV Record. Eram exibidos slides com
tópicos das reivindicações dos manifestantes e os seguintes dizeres: “Brasil
precisa mudar”, “corrupção”, “manifestações em todo o Brasil”.
PT nas
ruas. Horas
antes de convocar a reunião de emergência com ministros a presidente viu-se
obrigada a enquadrar a direção nacional do PT, que estimulou militantes a se
unirem aos protestos das ruas. Diante do clima político tenso e confuso, Dilma
irritou-se e censurou a atitude do presidente do PT, Rui Falcão, que conclamou
militantes do partido, por meio do microblog Twitter, para uma passeata
liderada pelo Movimento Passe Livre (MPL), na Avenida Paulista.
Falcão
tinha convocado petistas para as manifestações dessa quinta em comemoração à
redução nos preços das passagens de ônibus, mas recuou e retirou a hashtag
“#ondavermelha” do seu perfil do Twitter.
A
preocupação do Palácio do Planalto e de vários dirigentes petistas era com a
reação dos manifestantes, que rejeitavam a presença de partidos nos protestos.
Parte dos políticos da legenda previam que a incitação petista poderia dar
fôlego a movimentos de hostilidade contra o partido, como de fato acabou
ocorrendo.
Em outro
documento, uma nota do PT nacional, Rui Falcão revela a busca do partido por um
novo discurso político, que vai além da inclusão social tão destacada pelos
governos Lula e Dilma. Em seu primeiro parágrafo, Falcão afirma que os
movimentos “colocam na ordem do dia uma nova agenda”. O petista insiste no
ataque à mídia. “A presença de filiados do PT, com nossas cores e bandeiras,
neste e em todos os movimentos sociais, tem sido fator positivo não só para o
fortalecimento, mas, inclusive, para impedir que a mídia conservadora e a
direita possam influenciar, com suas pautas, as manifestações legítimas”, diz o
texto.
O
“convite” aos petistas no Twitter foi considerado um desastre em algumas alas
do PT. Dirigentes alertaram o ministro da Educação, Aloizio Mercadante, que tem
se credenciado como o consultor político de Dilma, sobre o risco de embate
entre petistas e manifestantes.
A
principal preocupação de parte dos dirigentes é que ao misturar o PT nas ruas
num momento de tensão o próprio partido dê munição a adversários para que
transformem parte dos protestos em atos contra o governo e Dilma, que, até o
momento, não são o alvo central.
Mas uma
ala petista acha que o partido tem direito de ir para as ruas e de fazer
manifestações, já que é considerada uma legenda de massas e de mobilizações,
com uma ampla militância e pode ter detectado a necessidade de se conectar
melhor com a sociedade. Outra ala, no entanto, acha que o PT tentar se impor em
uma manifestação apartidária pode apenas expor o partido, o governo e Dilma.
O
chamamento de Rui Falcão foi atacado pesadamente por jovens que rejeitaram a participação
do PT nas manifestações. “Piada do dia”, “somos apartidários”, “sai pra lá
aproveitadores” e “oportunismo canalha” foram algumas das críticas que se
fizeram seguir à orientação do dirigente petista.
“Eles são
contra o governo Dilma. E o PT é o governo Dilma. Ir para a rua só se for para
apanharmos”, disse o deputado Domingos Dutra (PT-MA). Vicente Paulo da Silva, o
Vicentinho (PT-SP), afirmou que teve vontade de ir para o meio da multidão.
“Não fui porque não fui chamado. Não sei se me aceitariam”, disse ele.
Oposição. A ex-senadora Marina Silva usou
metáforas para falar da intenção de partidos de irem às ruas. “Navegar o rio
depois que ele transbordou é o que todo mundo faz. Difícil é trabalhar o curso
do rio enquanto está cavando a terra.” “O PT vai dizer o quê? Esse é o maior
movimento depois das Diretas-Já. Contesta os dez anos do governo do PT. Só se
for para fazerem mea culpa”, disse o presidente do DEM, José Agripino (RN).
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Obrigado por emitir sua opinião.