Para Sônia, sempre.
Por querer
expressar meu pensamento sobre as coisas em meu idioma, às vezes arrebato o
próprio coração em sofridas angustiosidades e dissentimentos infaláveis.
É
o caso do amor ensolarado que sinto agora, neste mirífico momento. Um assunto
ressoante, uma prosa-cornucópia (onde abundância reina) a refratar-se sem a
culpa do inexpressável parlar.
Não
vejo como não ensopar-me de enluação nesta crônica de candura quase
irrevelável, posto que o meu amor possa entender-me ou espumar-se para sempre,
para o inevitável espanto que a declaração enseja.
Assim
eu declaro: a cobra Norato e as luzes do fogo-fátuo se expiram na noite. Teus
olhos não! Teus olhos ternuram a medida do dia, solfejam histórias e cantam
paisagens inescrutáveis para os sonostortos dos mortais.
Eu
sou o arauto deste cenário-testamento a castigar retumbantemente o couro dos
tambores; eu anuncio a sublime compreensão do “amooor” que ecoa em gargalhadas
sobre as ondas do rio. Eu declaro ainda: a pedra em sua bruta forma tem dentro
de si os elementos primordiais que suprem tua sede de amar. Balance a pedra e
sinta o gutigúti da sua oferenda. Lapide-a, pois ela provém da terra, e então
perceberá o calor do fogo da paixão libertadora e o ar morno que movimentará o
sangue pelas entranhas.
Num
átimo, um áugure qualquer (que são muitos e banais) lerá tua sorte: dirá
augúrios, claro. Um aúspice (que estão cada vez mais raros) dirá tua sina no
vôo dos louva-deuses. E te auspiciará de boas-novas e de valores inequívocos.
Ora,
dizendo isso afirmo que sou aquele que nem sabe discursar suas dores, inda que
saiba do futuro, pois habito o limiar do tempo. Eu sou a timidez em prosa e
verso, aluno de poesia, mas prenhe de pecados, porque ingiro virtudes nos bares
da noite e não sei segredar projetos inexequíveis. Não sei, juro pueril e
ludicamente (mas com toda a sinceridade de uma parlenda) pela fé da mucura,
torno a jurar pela fé do guará, torno a repetir pela fé do jabuti, que não sei
mentir ao sabor do vento dos ventiladores que me sopram fumaça de cigarro.
Descobri
que sei de ti mais do sabes da pedra em teu caminho. Sou teu (adi)vinho
incontestável, ad-mirador de tua ternura. Por isso do alto da minha velada
arrogância sei que tu também me amas.
Mas
é de ti que quero o conteúdo dessa bilha onde Ianejar e seus pareceiros se
abrigaram do fogo ardente e do dilúvio. É por ti que generalizo a farsa da
criação sem pesadelos cosmogônicos. Eu me agonizo em mistérios. Eu eternizo o
meu olhar nessa paixão. E me enleio como as borboletas que viajam ao paraíso
pelo buraco sem-fundo do fim da terra.
Por
isso eu sei que te amo.
Por
isso vago ainda em fluidos imemoriais sempre presentes, antes do esquecimento
das vitórias que juntos comemoramos.
Por
isso a ternura há de ser o mais farto elemento da imensa cornucópia de desejos
que realizamos juntos.
Muuuito sensibilizada. Palavras enroladas na garganta.
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