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Tenho o
hábito de reler livros que apreciei um dia, mas que à época não sorvi direito a
totalidade de seus escritos. Hoje, ao imergir nas profundezas de um livro
publicado pelas editoras Paka-Tatu e RGB, em 2004, o “Cidade das Águas”, louvo
os textos dos autores Ronaldo Franco e Alfredo Garcia, ambos paraenses. Numa
soberba homenagem à Belém e sua chuva, os poetas realizam uma espécie de
libação memorial à Cidade das Mangueiras, despindo-a de máscaras e conduzindo a
observação imprescindível nos detalhes, a matéria-prima que os poetas
transformam em literatura. Em “Cantos sobre a Cidade das Águas” há a estrofe: “Não é o som do rio que ouço/ mas o caminhar
do vento/ Pelas sombras/ Mapeando as entranhas/ Do verso/ Indo ao mais longe/
Da memória”. São poemas sobre poemas como o 15º, onde se evocam fantasmas num
tempo suspenso no arranha-céu da lembrança, pois: “Os sopros da memória/ Rascunham versos/ Nos caminhos do vento/ E este
abre a janela/ Dos casarões/ Onde ainda valsam/ Pelos corredores/ senhores de
pincenê/ Senhoras farfalhando/ Alegres/ e se pode ouvir/ Risos às escâncaras/ E
volteios delicados/ Ao som/ De Voice of
Spring.” Ronaldo Franco ainda nos brinda com poemas como “Esse Ruy é minha
rua” e com a crônica “Procura-se”, quando vivifica e tange o desejo [do]
brasileiro em tradução livre do poeta: “Nádegas
brasileiras. A nossa pátria abunda. Nádegas japonesas, nunca! Nádegas
comunistas convocam posseiros. Viva as nádegas de Raimundas!”
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Depois
vem Alfredo Garcia, poeta respeitável e prosador aguçado com seu “Barca
Barroca: Contos do Ver-O-Peso”, onde “O Profeta em Delírio no Ver-O-Peso”
explicou: “Porque será só como uma só
noite infinda. Assim será, oh sim, quando vier o que está escrito. Porque não
haverá este rio, esta calmaria de cidade dormitando pelas ruas da tarde, assim
como ora veem. Muitos e muitos rios, um grande desassossego brotará de todos os
lados.”
“Cidade das
Águas” antes de ser apenas um livro plural, é uma reunião de textos de
qualidade. Cada verso, cada frase aborda o habitat desses poetas que absorvem,
espremem e põem ao coarador literário um pano memorial eivado de crítica e de
ternura pela cidade de Belém.
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