Muita
gente já achou dinheiro na rua, pois muitos obviamente também já perderam. Um
bolso furado, uma troca de objetos, esquecimento e tantas outras formas de
perder já aborreceram milhares do mesmo jeito que fizeram o sorriso de outros.
Para os que perdem só resta se lamentar, porque dificilmente o achador vai
entregar o que achou a quem não sabe que perdeu. Para os que acham, resta dizer
que a sorte lhes sorriu e gastar o dinheiro na primeira oportunidade. Claro que
há casos de muito dinheiro achado, carteiras porta-cédulas recheadas que foram devolvidos
por pessoas honestas na polícia ou diretamente a seus verdadeiros donos. Alguns
achadores ganham notoriedade pelo papel cumprido como cidadãos, outros são
obrigados a devolver o que acharam pressionados pela família ou por grupos ao
qual pertencem. Mesmo assim são criticados por aqueles que sempre vão dizer que
o achador que devolve é um “otário”, um “babaca”, uma “besta”, além de outras
expressões que tentam por em dúvida o dever ético do cidadão, principalmente
pelos exemplos corporativos de impunidade que a toda hora testemunhamos no
Brasil.
Claro
que ainda convém falar, neste momento, sobre os conceitos que rondam as cabeças
da juventude brasileira, dos políticos e da população em geral que acompanhou
ou não, nas ruas das principais cidades do país, os protestos indignados. Esses
fatos foram amplamente debatidos, mas não exauridos, porque ainda falta muita
pressão popular e mudanças oriundas dela. Lógico que não podemos nos apartar
dos acontecimentos nem esquecer que votamos nos legisladores e governantes.
A
vigilância democrática não é um mero contrato de prestação de serviço
terceirizado, que acaba num prazo determinado. Mesmo que o tempo passe é
necessário orientar sistematicamente as novas gerações para que todos tenham
seus direitos constitucionais garantidos. Se o Brasil desperta, certamente
desvendará as incertezas do horizonte e procurará, pela insistência dos seus
habitantes, aproximá-lo da realidade, com olhos mais argutos e mãos mais
experientes, para evitar a corrupção que assola o país e deixa um grande
contingente populacional sob a miséria inclemente.
Olhando
o Brasil vejo que a gente quase nada faz para evitar que ele sofra prejuízo. Na
verdade, ainda que não queiramos, deixamos que os oportunistas de plantão se
aproveitem das coisas que não damos valor e os chamamos de sortudos e
inteligentes. E quem garante que os que chamam os outros de “babacas” porque
devolvem o “dinheiro achado” vão mudar seus conceitos sobre ética e moral?
Talvez seja por isso que não conseguimos matar a fome de milhões de irmãozinhos
brasileiros nem suprir a todos com remédios e serviços básicos de educação e
saúde. Parece que nos apoiamos em bengalas, perdendo dinheiro, quando pegamos o
ônibus da história que até agora ainda é visto pelo retrovisor.
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