Pediram-me para fazer uma poesia em homenagem às Mães. Eu
questionei comigo mesmo: - Mas por quê? Se a Mãe é a própria poesia.
Incontestável, única e abrangente, que brota do fundo do peito desde quando eu
morava em seu líquido amniótico. E naquela casa coberta de pele eu ouvia todos
os dias, todas as horas e minutos o bater irregular do seu coração, em tempos
de sustos e alegrias em que cuidou de mim, até eu nascer.
Por quê? Continuei pensando, se era poético viver naquele
licoroso lar longe das angústias que experimentaria no futuro. Por quê? Se logo
à primeira hora, chorando com os olhos feridos de luz, o segundo gesto de abrir
a boca foi para absorver as proteínas, a lactose e as gorduras do seu leite
mágico que entoou o canto da minha vida, apoiado que estava nas sólidas colunas
dos seus braços.
Minha mãe, Maria da Saúde, em tela de Olivar Cunha (1988) |
A poesia seguiu seu curso com o implacável tempo crescendo em
nossa realidade, dentro da nossa família. E você, Mãe, me embalava para conter
o choro e a dor da minha estreia, e me abraçava e me ensinava a ler o mundo que
a cada dia mudava de paisagem pelas ruas, pelos quintais e pelas praças
desenhadas pelos homens, com seus esquadros e lápis filosóficos.
Sempre que a voz do pai severo estrondava pela casa, à vista
das birras, manhas e coisas que errado fiz, em vez da repressão, a sua mão
carinhosa em meus cabelos protegiam meus sonhos e impunham limites para dizer
das coisas que viriam. Certamente era para que a decepção fosse menor que a dor
de tê-la brusca nos fracassos e para que a alegria fosse humilde nas vitórias.
Você parecia saber, mais do que muitos, do significado da abertura do compasso
e da retidão da régua.
Um dia a sua presença virou mais que uma lembrança. Uma
memória realizada em poesia onde o leite derramado pela sua candura brilha pela
Via-Láctea enfeitando o céu do Arquiteto do Universo.
Por isso, nesta homenagem simples a todas as Mães, afirmo que
Mães não morrem nunca. Mães viram estrelas, iluminam nossas sendas pela vida,quando
perdidos estamos no escuro de nossas agonias.
Mães não morrem nunca, pois deixaram em nossos corações
sementes primordiais para uma nova colheita. Mães se transformam em imortal
poesia, em palavras e gestos de amor. Elas acendem as lembranças e nos ofertam,
onde estiverem, o cálice de vinho para brindarmos à evolução justa e perfeita
em busca do sol harmonioso do Criador.
Obrigado, Mãe. Do teu filho radiante de amor e de saudade.
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