tag:blogger.com,1999:blog-2340193993965221167.post821367094737105794..comments2023-04-28T12:56:24.344-03:00Comments on Canto da Amazônia: A MORTE DO PIRULITEIROfernando cantohttp://www.blogger.com/profile/05101183861371503760noreply@blogger.comBlogger1125tag:blogger.com,1999:blog-2340193993965221167.post-29986863841415034952010-12-27T17:47:11.945-03:002010-12-27T17:47:11.945-03:00Ao contrário da grande maioria das pessoas, não co...Ao contrário da grande maioria das pessoas, não costumo tomar o mêsde dezembro como sinônimo e festa e espaço temporal para o divertimento incessante. Sua atmosfera, de longe, para mim é lúgubre, cinzenta, fria, meio que sepulcral. Não sei por que, desde a infância tem sido assim, via de regra, a cada ciclo anual, deparo-me com um tempo de tristeza que, longe de incomodar, me faz um bem tremendo, trazendo chances inestimáveis de reflexões e condimentos interessantes de auto-estima. Algumas perdas contribúiram para esse estado, sem dúvida, mas, uma em particular marcou-me até hoje e, creio, para o resto da vida: a da criança (menina) morta pela própria madrasta, cujo nome era - ou é - Laudicéia. Foi na primeira metade do anos 1970, turbulento por si só por conta do famigerado Garrastazu Médici e seus "anos de chumbo", devia ter meus quatro ou cinco anos e a pequena e provinciana Macapá mais parecia um sítio composto de algumas dezenas de quarteirões com a nossa casa de "duas moradas" no final do Jacareacanga/Jesus de Nazaré. Uma mulher vil, tragada pelo ciúme e pelo ódio, assassinou cruelmente a enteada por conta - assim tentavam justificar minha mãe, avó e tias -do apego que o marido tinha pela filha e que a ela não era dispensado. Pensando curar suas mágoas e ressentimentos, viu no crime a saída para resgatar a atenção do esposo e premeditadamente levou a criança à beira - hoje centro comercial e tentou matá-la jogando-a no rua do canal, próxima à antiga Doca da Fortaleza. Como um transeunte viu a criança debatendo-se pela vida, salvou-a da morte, a dita interviu dizendo ao bom homem que a criança era sua filha e agradecendo o nobre gesto levou-a consigo para um lugar ermo afogou a criança num daqueles lagos da Rodovia do Pacoval, alí próximo ao Jandiá, ao Cidade Nova, num lugar que também era con hecido como "Gadelha", sei lá o porquê. Descoberto o crime e a autoria, Laudicéia ou Laudicéa - em nada importa a grafia, passou a ser um nome incômodo em toda a minha vida a partir de então. Sinônimo de crueldade e assassinato, associei ao Médici e todos os autores de crimes hediondos. Pasmem: era capaz de, mesmo depois de adulto, associar tal palavra a tudo o que não prestava e media até mesmo o caráter da pessoa pelo nome. Laudicéia/JudasGarrastazu/Fleury (membros de uma corja repugnante de assassinos covardes cujas encarnações precedentes atiraram pedras na cruz w e preferiram mil vezes Barrabaz ao próprio salvador do mundo. E a criança? A saudade do pai, parentes e pessoas de bem que, como o Fernando Canto e sua vizinhança se compadeceram pela triste fim do pequenino vendedor de pirulitos? Todo mundo sofre um pouco ou muito. Algumas pessoas, contudo, guardam essas lembranças amargas e o espectro dessas mortes passam a acompanhá-las pelo resto da vida, com maior impacto nas quando se aproximam e ocorrem as datas de cada sinistro. A propósito: não lembro se o crime ocorreu no final do ano,não tenho como consultar minha mãe agora, somente mais tarde, mas é fato que aprendemos com tais episódios, refletimos, julgamos condenando ou absolvemos de conformidade com a aquiescência do nosso caráter e com a jurisprudência do nosso censo e sob o beneplácito de nosso arcabouço moral, de nosso domínio intelectual e todo o peso das crenças advindas de nossa religiosidade.Célio Alícionoreply@blogger.com