quarta-feira, 24 de julho de 2013

A VOLTA DO BLOG CANTO DA AMAZÔNIA

            Depois de alguns dias realizando outras prioridades (das muitas que elegemos no decorrer dos acontecimentos particulares e de trabalho), estamos de volta com o Blog Canto da Amazônia, agora novamente com informações sobre a nossa vida cotidiana de Macapá. Pedimos desculpas aos nossos queridos leitores que nos acessam para se atualizar. Faremos o possível para continuar dando conta desse veículo que ainda tem muito a viajar por aí. Abs a todos.

DINHEIRO PERDIDO

Texto de Fernando Canto

 Um dia desses, quando eu passava na Avenida Santos Dumont vi um homem idoso com dificuldades para andar. Ele se apoiava em uma bengala esperando o ônibus que já se aproximava do ponto. Notei que caíra um papel do seu bolso. Pela cor parecia uma nota de vinte reais dobrada. Tentei avisá-lo antes que ele entrasse no ônibus, mas os vidros do meu carro estavam fechados, o sinal estava vermelho e havia uma grande tensão no trânsito, devido o horário. Acompanhei pelo retrovisor sua dificuldade para entrar no coletivo, e ninguém, nem sequer o ciclista que esperava para atravessar a rua, ali próximo, percebera o que eu havia visto. O sinal abriu e eu fiquei angustiado. Pensei: alguém terá a sorte de achar esse dinheiro por causa do azar do homem velho, que talvez só tivesse aquele dinheiro para almoçar ou para comprar remédio. Tive a ideia de retornar, “dando o balão” até o ponto, mas desisti em favor da minha pressa e por deduzir que àquela hora alguém já teria achado a cédula. E depois, o que eu faria com ela se a encontrasse? Como devolveria? A quem?

Muita gente já achou dinheiro na rua, pois muitos obviamente também já perderam. Um bolso furado, uma troca de objetos, esquecimento e tantas outras formas de perder já aborreceram milhares do mesmo jeito que fizeram o sorriso de outros. Para os que perdem só resta se lamentar, porque dificilmente o achador vai entregar o que achou a quem não sabe que perdeu. Para os que acham, resta dizer que a sorte lhes sorriu e gastar o dinheiro na primeira oportunidade. Claro que há casos de muito dinheiro achado, carteiras porta-cédulas recheadas que foram devolvidos por pessoas honestas na polícia ou diretamente a seus verdadeiros donos. Alguns achadores ganham notoriedade pelo papel cumprido como cidadãos, outros são obrigados a devolver o que acharam pressionados pela família ou por grupos ao qual pertencem. Mesmo assim são criticados por aqueles que sempre vão dizer que o achador que devolve é um “otário”, um “babaca”, uma “besta”, além de outras expressões que tentam por em dúvida o dever ético do cidadão, principalmente pelos exemplos corporativos de impunidade que a toda hora testemunhamos no Brasil.

Claro que ainda convém falar, neste momento, sobre os conceitos que rondam as cabeças da juventude brasileira, dos políticos e da população em geral que acompanhou ou não, nas ruas das principais cidades do país, os protestos indignados. Esses fatos foram amplamente debatidos, mas não exauridos, porque ainda falta muita pressão popular e mudanças oriundas dela. Lógico que não podemos nos apartar dos acontecimentos nem esquecer que votamos nos legisladores e governantes.                                   

A vigilância democrática não é um mero contrato de prestação de serviço terceirizado, que acaba num prazo determinado. Mesmo que o tempo passe é necessário orientar sistematicamente as novas gerações para que todos tenham seus direitos constitucionais garantidos. Se o Brasil desperta, certamente desvendará as incertezas do horizonte e procurará, pela insistência dos seus habitantes, aproximá-lo da realidade, com olhos mais argutos e mãos mais experientes, para evitar a corrupção que assola o país e deixa um grande contingente populacional sob a miséria inclemente.

Olhando o Brasil vejo que a gente quase nada faz para evitar que ele sofra prejuízo. Na verdade, ainda que não queiramos, deixamos que os oportunistas de plantão se aproveitem das coisas que não damos valor e os chamamos de sortudos e inteligentes. E quem garante que os que chamam os outros de “babacas” porque devolvem o “dinheiro achado” vão mudar seus conceitos sobre ética e moral? Talvez seja por isso que não conseguimos matar a fome de milhões de irmãozinhos brasileiros nem suprir a todos com remédios e serviços básicos de educação e saúde. Parece que nos apoiamos em bengalas, perdendo dinheiro, quando pegamos o ônibus da história que até agora ainda é visto pelo retrovisor.

MÁSCARAS DE MAZAGÃO VELHO (*)

Foto: Juvenal Canto

Texto de Fernando Canto (Uma velha homenagem à Festa de São Tiago de Mazagão Velho)

             Há alguns anos ministrei palestra para uma turma de Sociologia do Ceap sobre “Cultura e Poder”, enfocando aspectos da Festa de São Tiago de Mazagão Velho (cavalhada que relembra a lenda desse santo na guerra entre Mouros e Cristãos na África) a convite do professor Luís Alberto Guedes. Nesse dia levei uma caraça utilizada pelos “Máscaras” e pedi aos alunos que a experimentassem em seus rostos. As reações foram as mais diversas e a discussão bem participativa. Entretanto, se por trás da máscara há um mundo de significados, pela frente pode representar a face divina, a face do sol. Ela exterioriza às vezes tendências demoníacas (Teatro de Bali, máscaras carnavalescas), manifesta o aspecto satânico. Ás vezes não esconde, mas revela tendências inferiores que é preciso por a correr, porque não se utiliza uma máscara impunemente. Ela é um objeto de cerimônias rituais, como por exemplo, as máscaras funerárias, que são arquétipos imutáveis nas quais a morte se reintegra. Na China ela se destina a fixar a alma errante. Ela também preenche a função de agente regulador da circulação das energias espirituais espalhadas pelo mundo e visa controlar e dominar o mundo invisível.
            Na Festa de São Tiago ela é usada no “Baile de Máscaras” que ocorre no dia 24 de julho, e é um dos aspectos ritualísticos mais importantes, pois simboliza uma cena de regozijo à vitória que os mouros julgavam ter obtido sobre os cristãos O baile ocorre após terem oferecido comida envenenada aos cristãos, visando dar oportunidade aos que quisessem passar para seu lado. É um baile de homens onde todos estão fantasiados, mas às mulheres e crianças é proibida a participação. Eles dançam no sentido inverso ao do relógio até ao amanhecer. Ao meio-dia um personagem mascarado chamado “Bobo Velho” passa três vezes no território cristão e é apedrejado pela assistência, pois se trata de um espião mouro tentando obter informações. Na cena do “Rapto das Criancinhas Cristãs”, os “Máscaras”, dezenas de atores populares, surgem fantasiados, assustando e arrebatando olhares de medo das crianças que os assistem. 

           A máscara parece ser uma transferência de energia que tem o sentido de mutação e que transcende o drama. Já o “Baile” é uma festa dentro da festa. É uma cena de um drama em que paradoxalmente ocorre a oportunidade de se desregrar (pela ingestão do álcool). Mas é quando se subverte a realidade constituída, pois a organização social do drama tem seus apelos e sanções: se há notícia de uma outra festa na vila, os “Máscaras” vão até lá e acabam com ela. Fazem respeitar as normas da tradição e tecem críticas à realidade através de um grande boneco mascarado chamado “Judas”, que todo ano muda de nome, conforme o momento histórico e a decisão dos que o confeccionaram.
  
            O “Baile de Máscaras” é uma forma de representação do potencial subversivo das festas, não só pela crítica, mas pelo dançar constante na direção inversa ao do ponteiro do relógio, tratando-se de um embate contínuo com o tempo, quando os brincantes giram e vão se espiralando, afastando o tempo linear e vivendo a dimensão da memória, num tempo mítico, onde os acontecimentos heroicos se repetem pelos rituais.    
            Culturalmente as máscaras de Mazagão Velho podem ser vistas como um aspecto místico da festa porque traduzem o tempo, a memória e o ritual que organiza a memória, a história e a sobrevivência da sociedade. Assim a cultura da festa se efetiva porque suas crenças, gestos e valores são oriundos de um processo de criação de homens e mulheres e que são partilhados por todos, por meio de juízos de valor e símbolos.

            A utilização da máscara na Festa de São Tiago é de disfarce, de aparência e de jogo estratégico. E para entender melhor esse processo nada como pôr no rosto uma caraça, pois assim cada um assumirá também o papel que subverte e mete medo, e que também diverte, mas, sobretudo, que une e corporifica os valores culturais daquela sociedade.

(*) Do livro “Adoradores do Sol

Zunidor

Nada vem de graça/ Nem o pão nem a cachaça” (Zeca Baleiro)

 

PROPAGANDA ENGANOSA - Ainda fico pasmo com essas propagandas que passam na TV amapaense. O shopping center que vai inaugurar no dia 30 mostra que os futuros frequentadores serão só brancos, ricos e felizes. Pô, num Estado em que o percentual de negros e pardos chega a mais da metade da população... E aí, UNA, IMENA, Centro de Cultura Negra, Associações Quilombolas, Movimento Hip Hop, etc...???
OUT-DOOR – Enquanto isso os monstrengos de propaganda vivem a enfear a cidade nas estradas, nas vias principais e secundárias e em prédios públicos e particulares. Nos estados mais ricos e mais avançados nas suas gestões públicas esse tipo de poluição visual já foi banido há muito tempo. Tudo em nome da beleza das cidades. Mas por aqui em Macapá...
 
MAUS MACAPAENSES – Munícipes, se é que podemos chamá-los assim, continuam depositando porcarias nas lixeiras viciadas do Buritizal, próximo ao tal terreno do Zelito, onde deverão construir casas populares. O lado norte do estádio Milton Corrêa também é depósito de ossadas e carcaças de animais, vindos de açougues e matadouros clandestinos. Antes depositavam no lado oeste, que agora está interditado para carros. Olha aí, PMM, a fiscalização com aplicações de sanções bem pesadas para esses maus macapaenses.
 
PNEUS VELHOS – Começou de novo nas praças e logradouros a proliferação de uma “arte” de reciclagem de pneus velhos. Em nome da sustentabilidade e do meio ambiente fazem umas coisas de tão mau gosto que elas passam a ser “soluções ambientais” e “verdades estéticas” de grande criatividade.
 
ESPIGÕES – Da minha janela vejo crescerem os edifícios da nova Macapá. Há apenas quatro anos os prédios eram todos baixinhos e lineares. Um dia só vou ver o rio Amazonas se habitar ou passar pela orla.

DE VOLTA PRO SEU ACOCHEGO – Dominguinhos se foi. Quem será seu herdeiro musical agora? Instrumentista de primeira, assim como Sivuca, Hermeto Pascoal e o próprio Luiz Gongaza, o sanfoneiro pernambucano cumpriu sua missão musical com grande competência neste Brasil de diversidades rítmicas. Requiestat in pace.

ARTES VISUAIS – Estreia no dia 22 de agosto o programa de artes visuais a ser apresentado pelo professor da UNIFAP Rostan Martins e pelo jornalista Osvaldo Simões Filho na Rádio Universitária FM, 96,9. Rostan, que é mestre e doutor em Semiótica pela PUC-SP, objetiva fazer a diferença, iniciando logo pelo dia do Folclore.
JORNALISTAS – Transcorreu sem estresse a eleição para a escolha dos representantes do Amapá no Sindicato Nacional dos Jornalistas – SINDJOR. Dos 46 jornalistas aptos a votar, somente 22 compareceram às urnas. O resultado foi: 12 votos para Wolney Oliveira e 10 para Alcinéa Cavalcante. A ausência dos jornalistas prova a falta de compromisso da categoria para com ela mesma.

DESFILES ESCOLARES – Já começaram os preparativos das bandas marciais e musicais das escolas públicas da capital para os desfiles escolares de setembro. A tradição das bandas escolares remonta desde o tempo da Banda do Mestre Oscar que acompanhava os estudantes (na época, só masculinos) do Ginásio de Macapá, hoje chamado de Escola Estadual Antônio Pontes. Nesse tempo a frase rítmica dos tambores tinha até letra. Lembra, Tadeu Pelaes?

INDERÊ!