quinta-feira, 29 de novembro de 2012

HUMOR


O lado humorista do escritor amapaense Ray Cunha pode ser visto neste conto sádico, onde as personagens viajam direto para a casa do diabo. Fantástico (F.C.) Ray Cunha é escritor e jornalista. Reside atualmente em Brasília.

VILA BELZEBU (*)
Conto de Ray Cunha

Até que o ônibus não estava muito lotado. Pipira conseguiu se apoiar na muleta de um saci Pererê. O motorista ia correndo um bocado quando Mutreta deu o sinal e freou bruscamente. Uma anta veio voando lá detrás e deu uma chifrada num bebê que só estava chupando o dedo. O bebê começou a chorar e pegou uma bofetada.
- Cala a boca, assassino! – disse-lhe a mãe dele, repreendendo-o severamente.
Como o ônibus já estava muito lotado, o casal que ia saltar jogou os três garotinhos, seus filhos, pela janela. Um deles caiu de mau jeito e já ia para baixo das rodas de uma escavadeira Caterpilar quando um soldado da PM o puxou pelas pernas, tornando-se um heroi.
Um pretão de três metros quis tirar um sarro com uma anã e foi atingido com um golpe baixo. Um sujeito com mania de cavalo ia relinchando, mas foi posto para fora com um pontapé na parte esquerda do beiço inferior. O motorista estava com muito ódio de um sujeito que puxou a caneta para anotar a placa do carro, a fim de “posteriormente”, conforme explicou para um vizinho, “queixar-se nos ditames da lei no departamento cabível”.
- Tu és um sem vergonha, seu cretino desavergonhado e purulento. Não sei onde estou que não paro este ônibus, boto todo mundo pra fora e pronto. Ainda te dou uma surra só com meu par de meias, cujo fedor nem hiena aguenta.
O sujeito que puxou a caneta estava visivelmente com medo da barbaridade do motorista.
- Basta a gente olhar para a tua cara, cabra safado, para se ver que a vergonha em ti já foi lambida. Tu estás pensado que é só puxar uma caneta e anotar a chapa, é?
- Vê se tu paras na tua casa; quero conversar com tua mãe! – gritou alguém lá do meio do coletivo.
- Se esse insulto partisse de ti, sujeitinho descarado – disse o motorista para o incauto escrevinhador, - eu te poria os dedos dos pés nessa tua cara insossa. Tu herdaste essa cretinice da tua mãe?
O outro, acovardado e humilhado, pediu pra saltar, mas num gesto inesperado de heroísmo, fincou a caneta no alto da cabeça do motorista. Ao ver o sangue, o chofer começou ter vertigens, até que apareceu uma gueixa com um leque do tamanho de um guarda-sol e começou a abanar o gajo. Ele se recompôs e zarpou.
Nessas alturas começou a trovejar e caiu um baita aguaceiro, que logo encharcou a Margarida. Ela fechou mais que rapidamente a janela, mas quando viu a janela foi aberta de novo. Ela tornou a fechá-la, mas novamente a janela foi aberta. Então Margarida olhou para trás e viu um sujeito com dois fundos de garrafa na cara abrindo a janela da moça.
- Primeiro vou te arrancar dos olhos esses dois telescópios, depois quebro eles e te corto os dedos mindinhos. A seguir, tiro meus sapatos altos e te dou com o salto de ferro só nos lóbulos das orelhas e no osso do nariz.
O rapaz, todo ensanguentado, explicou que não enxergava direito a janela, que só tinha uma das vidraças.
- Meu Deus! Massacrei um intelectual por causa da janela deste ônibus – lamentou Margarida.
Foi nessa hora que jogaram uma pedra no olho do motorista. Ele perdeu a direção do carro e o ônibus brecou certo no fim da linha, onde Belzebu já os esperava de garfo em punho.

(*) Publicado no jornal Inteligentsia. Brasília, setembro de 1994.

CRÍTICA


O INSTANTE DO BRUXO ALUMBRADO

Por Fernando Canto, escritor.

Bolero em Noite Cinza traz a emoção da dança e a virtude da luz pelas fretas das portas. São poemas ecléticos que pulverizam palavras, rebentam estruturas e reconstroem sentidos em fuga. Configura-se aqui momentos de tensão, medo, sátira anárquica, crítica social e até mesmo a pura despretensiosidade poética. São ainda trabalhos de grande generosidade estilística, pois o autor joga sua versatilidade nas entranhas do mundo através de figuras e expressões linguísticas variadas. É, sobretudo, uma forma nova de encarar o mundo e de desvirtuar a realidade que tanto sufoca. Este livro é, portanto, um instante de alumbramento.

UMA CICATRIZ INFAME NA MEMÓRIA

Por Menezes Y Moraes, poeta.

O poeta consegue penetrar no pathos da condição humana, para daí traduzi-lo em poesia marcadamente solidária, radicalmente terna. Do cotidiano mais chué ao dia mais sublime, nos fala o poeta. Quando ele retrata a sua própria alma, nos expondo sinceramente os subterrâneos de seu ser – como todo poeta digno desse nome -, é a alma do seu próximo que ele desenha, intui e sugere. A alma e o corpo (amados e sofridos) do seu próximo e a pintura da incrível existência humana são objetos poéticos deste Bolero. Aqui dança toda a existência humana. O poeta é um crítico implacável do mundo e da sociedade do seu tempo.

 O BERRO DO VELHO JOY

Por Ray Cunha, escritor.

Toda vez que em Brasília digo que sou de Macapá as pessoas prestam atenção em mim como se fosse de outro mundo. E têm razão. Macapá, que entrou na mídia nacional por causa de José Sarney, que pulou de paraquedas na cidade e foi aplaudido pela caboclada, é a capital do estado do Amapá, fronteira com o Caribe, extremo norte da costa brasileira. Portanto o resto do país ninguém sabe e nem quer saber o que se passa lá. Mas no final dos anos 60, um grupo de artistas se reunia diariamente na casa do poeta Isnard Lima Filho. Em 72, com o nome de Joy Edson, o velho Joy estreiava como poeta com Xarda Misturada. Mas tudo estava levando a breca mesmo. Ele não suportava mais a ditadura dos milicos. Quem mandava na cidade eram militares, a Polícia Federal e os filhos dos militares e dos policiais federais. Faziam o que bem entendiam. Aí o velho Joy resolveu escafeder-se daquela rotina enlouquecedora. Acabou com os costados em Brasília, onde tinha parentes e havia mais oxigênio.
Pois bem. O berro do Isnard Lima Filho era alto. Mas o velho Joy começou a berrar alto também e hoje, ao lado do pintor Olivar Cunha, que vive em Vitória, e do contista Fernado Canto, que vive em Belém, forma a trindade artística do Amapá. É um dos artistas mais importantes daquelas terras mergulhadas no torpor.

JOSÉ EDSON DOS SANTOS E O BOLERO EM NOITE CINZA


Um dos livros mais impressionantes do poeta amapaense José Edson dos Santos, que também se assina como Joy Edson, é o “Bolero em Noite Cinza”, publicado em Brasília, em 1994. A escritura ousada e diferente fez com que Edson se tornasse um dos mais importantes poetas do Planalto Central e gozar de um grande e confortável conceito na literatura brasiliana. O poeta mora em Brasília desde 1973, tendo publicado inúmeros livros e feito parte de incontáveis antologias do cerrado brasiliense. Leia a crítica após a leitura dos poemas.

O VAMPIRO DE RAPUNZEL
Essa chuva cinza a noite
Molhando o pássaro imprevisível
Na sua obsessão de horizonte
Sinuosos &
Na arquitetura de querubim.
Alçar sob sílabas bilabiais
O que secreta o nariz de Rapunzel
Relâmpagos e nuvens de enxofre
Perseguem o Lázaro triste e cego
Ruminando a vã filosofia do ego
Na chuva cinza
Desabando na cidade

Meia-noite e um suspiro...
O Vampiro veste seu colete grená
E sai à procura do suspense
Surpresa e horror
Rapunzel em sua Torre de Babel
Beberica o último gole de Fogo Paulista
Desembaraçando as madeixas de menina rica.
Escuta o sax fogoso
Que vem no vento
Ensaia a risada de ninfeta ninfômana
E espera displicentemente
Pelo Príncipe da noite.

Chove a noite cinza
Os querubins se embriagam de veneno
Quando o maldito vagueia o solar:
- Rapunzel, Rapunzel, joga as transas!
Um papelote de cocaína
cai no seu decote
& o sax solene corta o silencio.

O Vampiro reverencia a chuva e
Sobe no elevador do calabouço
Levando uvas no pescoço
Para curar o quebranto de Rapunzel.

A noite cinza de sussurros
Parece um ranger de asas
Um conto de Edgar Allan Poe
E quem não tem vinho nem virtude
Se contenta com o vício
de Baudelaire.

MEU POETÍLICO PÁSSSARO PIRADO JASMIM

Indiferente e pálido
Olhou a claraboia aberta
Sorrateiro penetrou
Como sombra de jiboia e poesia
Revelando o jeito forasteiro e rápido
De esconder suas mágoas

Nunca entrou numa de bater na porta
Prefere a emergência da madrugada
E a mania dialética de entrar
Sem pedir arenga

Enruste a mágoa pelo interfone
Por trás do verso perverso
Dizendo beber a mesma água de onça
Para saciar sua ânsia felina

Restou um gosto barroco e amargo na boca
Dor amor rancor dissabor
Passeio de rimas pobres pela persiana
De recuerdos

Nenhuma rima rica nem soneto ranheta
Para redimir a perda do sonho
A condição sonheteira das imagens
Palavras são parábolas

Ficar cada vez mais
Bêbado bosta pelo avesso
Sufoca o Bukowski dionisíaco
Que habita torto o porto inseguro
De sua solidão selvagem
Onde blasfemam bastardos e bardos
Que silenciam em conflitos e medos

Indiferente e pálido
Olhou a sombra do poema se esvair
Com um leve cheiro de jasmim

Escuta o jazz imaginário do dilema
Seguindo a trilha dos duendes e cogumelos
Quando a cotovia cantou
E acabou a cannabis e a madrugada

Indiferente e triste
Evidenciou a madrugada no rabo
De sua risada calhorda e cínica
Mandando tudo às picas
Até o que de mais poético existe
No seu jeito de ver a aurora
Pelo espelho provisório da vida


AUSÊNCIA OFÍDIA

A cobrinha multicolor
Mordeu meu tendão
Toda extensão minuciosa
A cartilagem da boca
Depois sangrou minhas varizes
Com o corpo ardendo em frenesi
Não pensou na necrobiose louca
Nem na hemorragia
Em minhas entranhas
Suportei a sua ausência ofídia
Por quatro semanas incomensuráveis
Sem nenhuma perfídia ou insensatez
Não foi desta vez que morri
De ler os românticos ou Paulo Valéry
Mas de certa forma
Engordei


BOLERO EM NOITE CINZA

Na noite cinza
Um bolero de soleira
Notívagos e corações solitários
Vestem angústias e divagam
Nos labirintos da cidade

A grande putona da megalomania
Bebe e bufa fuligens de ócio
Benvenido Granda sofeja nos mictórios
Bares sórdidos
Arcanjos pederastas
Ironizam o desenlace das concubinas cocainômanas
& aguardam ansiosos
Mancebos imberbes
Para acariciarem o pomo de Adão
Da solidão cinza
Com seus boleros de perfídia
E sordidez

AMAZONTECH 2012 APRESENTA RESULTADOS

Por Fernanda Picanço

O Amazontech 2012 chegou ao fim e os realizadores do evento, Serviço de Apoio as Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), Governo do Estado do Amapá (GEA), Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e Universidade Federal do Amapá (Unifap), comemoram os resultados positivos. Entre os dias 13 e 17 de novembro, 40 mil pessoas passaram pelo Complexo Meio do Mundo, em Macapá, nas áreas do Monumento Marco Zero do Equador, Cidade do Samba e Sambódromo.

O Amazontech proporcionou ao público visitante palestras, oficinas, conhecimento, inovação, oportunidades de negócios e ações de responsabilidade socioambiental. O evento contou com o patrocínio da CAIXA e Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia (Sudam). De acordo com pesquisa realizada pelo Sebrae, o evento gerou 1.233 (mil duzentos e trinta e três) empregos diretos.

Durante o Amazontech foram arrecadados 3.636 quilos de alimentos, com produtos que compõem a cesta básica como feijão, açúcar, arroz, farinha e outros, transformados em 500 cestas. Esses alimentos são provenientes das inscrições nas oficinas e palestras, e serão distribuindo para as Instituições - Comunidade Terapêutica Renascer, Centro Comunitário Professor Marcos Rocha, Comunidade Evangélica Reviver, Escolinha Movimento Familiar Cristão, Associação dos Deficientes Físicos do Amapá, Associação de Pessoas Vivendo com HIV – AIDS e Direitos Humanos, Centro de Recuperação Lírio do Amor, Centro Espírita Casa de Amor, Irmã Mariza Nicolodi, Associação dos Moradores do Bairro Renascer,  Associação Beneficente O Semeador,  Associação Ministério Betel e Centro da Irmã Betânia.

Rodada de Negócios

Foram registradas as participações de 14 empresas compradoras, principalmente dos estados de São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro e Maceió e 60 empresas vendedoras dos estados da Amazônia, especificamente a participação de 17 empresas amapaenses.

Foram 74 empresas participantes, gerando 235 oportunidades de negócios, com a estimativa total de R$ 2.680.000 (dois milhões, seiscentos e oitenta mil reais), negociados, de acordo com as pesquisas realizadas junto às empresas compradoras.

A Rodada de Negócios teve como objetivo global incrementar a economia de vários setores idealizados, por meio da aproximação da demanda existente e da oferta correspondente, atendendo interesses comuns dos empresários envolvidos, que representavam diversos estados brasileiros.

Capacitações

O Amazontech, também ofertou, gratuitamente, capacitações que trabalharam as principais cadeias produtivas da região amazônica, entre elas, açaí, castanha, cupuaçú, banana, maracujá, abacaxi, hortaliças, flores, bioprodutos, biojóias, plantas, madeira móveis, turismo, cerâmica, manejo de florestas, certificação orgânica, e outros segmentos.

Foram ofertadas 150 opções de capacitações durante o Amazontech incluindo oficinas e palestras, e que resultaram em 7.134 pessoas treinadas. Só na cozinha experimental, uma das atrações, foram 250 pessoas, superando a meta que era de 160. A Cozinha Experimental contou com a parceria das Lojas Center Kennedy, Casa do Sorveteiro e Associação dos Panificadores de Macapá e Santana (Aspams), e proporcionou um verdadeiro show de inovação, criatividade e valorização da culinária amazônida, a partir de receitas criadas com matérias-primas regionais, a exemplo da mandioca, feijão caupi, abacaxi, entre outros.

Turismo

O Estado do Amapá celebra os resultados do turismo durante o Amazontech, segundo o secretário de Estado do Turismo, Sandro Bello, durante o evento os 49 hotéis de Macapá que correspondem a 4 mil unidades habitacionais e obtiveram 100% de lotação. O Amazontech 2012 movimentou a economia local e o trade turístico, como guias de turismo, taxistas, restaurantes, hotéis, agentes de viagens e locadores de automóveis.

O Sebrae capacitou guias de turismo e taxistas de Macapá e Santana, foram  921 chapas de táxis, contabilizando um total de 1.500 profissionais e mais de 500 profissionais que atuam como guias e intérpretes. Os taxistas capacitados pelo Sebrae, receberam um kit taxista contendo boné, guia turístico, porta-revisteiro e o guia bilíngue (português e francês), que contêm expressões básicas de conversação, com tradução e pronúncia, a fim de facilitar o contato com os estrangeiros da Guiana Francesa que circularam durante o evento na capital.

A Coordenadoria Municipal de Turismo (Comtur) em parceria com o Sebrae desenvolveu um guia turístico com informações como endereços e telefones úteis dos hotéis, restaurantes e pontos turísticos de Macapá.

O empresário Luiz Gonzaga Leal, da Cachoeira Turismo, que possui uma frota de transportes, disse em seu depoimento que o evento superou as expectativas.

Já a empresária Margarete Menezes Marques, da Agência Marco Zero Turismo, informou que somente a sua empresa utilizou 11 veículos, entre vans, ônibus e micro-ônibus e mais de 25 guias contratados para o evento.

Como parte da programação, o Monumento Marco Zero do Equador, foi palco do Encontro dos Gestores de Turismo da Amazônia Legal. O evento teve como tema "Transportes na Amazônia Legal como Instrumento de Desenvolvimento Regional", os gestores dos estados convidados e representantes do segmento do Amapá discutiram propostas, planos e ações de sustentabilidade para desenvolver, fomentar e fortalecer o turismo na região Amazônica.

O Encontro teve como resultado a integração entre os estados da Amazônia Legal; integração de turismo náutico para se trabalhar de forma conjunta; reivindicações para a Comissão de Turismo e Desporto da Câmara Federal, Senado, Assembleias Legislativas e Câmaras de Vereadores com relação às questões específicas de transportes aéreo, rodoviário e náutico.

Gastronomia

A Praça de Alimentação contou com a participação de 14 restaurantes que apresentaram variados pratos regionais, superando as expectativas dos empresários em público e faturamento.

Vitrine Tecnológica

No Amazontech, a Vitrine Tecnológica foi um espaço que recebeu a visitação de cerca de 3 mil universitários estiveram visitando a área que teve como principal característica aliar tecnologia agropecuária às artes plásticas, valorizando a cultura amapaense. A vitrine teve o formato da centenária Fortaleza de São José de Macapá, cada baluarte apresentou um sistema de produção, representando a aquicultura, entre eles, o pirarucu, o tambaqui, apaiarí, camarão rosa, tracajá e tartaruga.

Os visitantes visualizaram a Vitrine Tecnológica do topo um mirante de 7 metros de altura e 10 metros de largura. A vitrine foi um espaço de exposição e de experimentos orientados para o agronegócio arquitetado por técnicos da Embrapa e parceiros. Criada numa área que faz parte do Campus da Unifap, localizado atrás da Cidade de Samba, na vitrine foram plantadas mudas de eucalipto, banana, maracujá, cupuaçu, abacaxi, milho, mandioca, feijão, arroz, hortaliças, plantas medicinais, açaí, girassol, capim, leguminosas e sorgo.

Expositores

A exposição empresarial, mercadológica e de instituições de ciência e tecnologia, contou com a participação de 110 empresas expositoras nacionais e internacionais, sendo elas dos estados do Acre, Amazonas, Amapá, Maranhão, Pará, Rondônia, Roraima, Tocantins, Mato Grosso, São Paulo, Paraná, além da participação de quatro (4) empresas da Guiana Francesa.

Dentre os produtos em exposição, estavam móveis ecológicos, artesanato, fabricação de sorvetes com frutas, fabricação de vassouras de garrafa Pet, fabricação de sabonetes, buchas, óleos, gel com produtos naturais, serviços de arquitetura, reaproveitamento de banners, fabricação de orelhão ecológico, além de empresas que estiveram apresentando pesquisas de cunho científico e acadêmico.

Showroom da Beleza

As empresas que se apresentaram no salão de beleza modelo, criado para o evento, tinham como foco o desenvolvimento e uso de tecnologia, que utilizam recursos naturais e renováveis da Amazônia como fator gerador de emprego, renda e melhoria de processos produtivos. As empresas parceiras foram Malleti Móveis de São Paulo e o Instituto Embelleze do Amapá.

Durante o Amazontech foram realizados três (3) workshops por noite, 16 oficinas para cabelo, com duração de 1h à 2h; maquiagem e estética atraiu um público de 30 pessoas a cada workshop, ambas as capacitações despertaram interesses em conhecer os produtos inovadores de cosméticos e beleza. Foram 480 pessoas capacitadas no Showroom da Beleza.

Empório de Artesanato

O Empório foi um espaço montado para exposição e comercialização. O artesanato dos estados dos estados do Amapá, Acre, Amazonas, Maranhão, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins foram expostos, agradando aos visitantes com peças exclusivas, confeccionados com matéria–prima regional e Design diferenciado, alcançando grande volume de comercialização das peças.

Ciência e Tecnologia

A Secretaria de Estado da Ciência e Tecnologia (Setec) realizou durante o Amazontech a I Feira de Ciência, Tecnologia e Educação do Estado do Amapá (Fecte). Neste evento, foram inscritos 31 trabalhos científicos, contemplando três (3) categorias concorrentes: Ensino Fundamental, Ensino médio e Ensino Médio Profissionalizante da rede pública e privada, além da participação de pesquisas de iniciação científica das Instituições de Ensino Superior (IES) do Amapá.

O Governo do Estado do Amapá, por meio da Setec, Secretaria de Estado da Educação (Seed) e Instituto Federal do Amapá (Ifap), reconheceu os melhores trabalhos científicos da Fecte com a entrega do Prêmio Jovem Sustentável Inovador. As instituições premiadas foram – na categoria Ensino Fundamental, a premiada foi a Escola Estadual Irmã Santina Rioli, com o Projeto Uso de Materiais Alternativos na Construção de uma Horta Vertical. Na categoria Ensino Médio quem levou o premio foi a Escola Estadual Mineko Hayashida, e na categoria Ensino Médio Profissionalizante, o premiado foi o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Amapá (Ifap), com o Projeto Ecofont no IFAP – Laranjal do Jarí: Em Busca do Conhecimento e Aceitação.

Concorreram 31 projetos, incluindo pesquisas dos estudantes do Ifap. Os alunos que tiveram os melhores trabalhos ganharam tablets. A escola vencedora ganhou um aparelho amplificador de áudio e um projetor multimídia.

Durante a Fecte houve ainda, o “Espaço Ciência”, onde foram realizadas diversas atividades como oficinas e palestras com o tema “Economia Verde, Sustentabilidade e Erradicação da Pobreza”.

O presidente do Conselho Deliberativo Estadual do Sebrae Amapá, Alfeu Dantas Junior, disse que “durante o evento foram discutidos temas sobre o desenvolvimento da Amazônia, com foco na sustentabilidade, inovação e tecnologia nos negócios”.

Para o diretor superintendente do Sebrae Amapá, João Carlos Alvarenga, inicialmente o Amazontech parecia algo impossível, causou dúvidas preocupações, incerteza e até medo em não podermos realizar um evento de tamanha envergadura, mas o Amazontech aconteceu e aconteceu no Amapá, em Macapá, única capital brasileira no Meio do Mundo, na Linha do Equador e às margens do Rio Amazonas, e de maneira exuberante, não foi só beleza, teve conteúdo, em todos os seus momentos como, Exposição Empresarial,  Portal dos Estados, Exposição Multimídia, Vitrine Tecnológica, trabalho fantástico da Embrapa que encantou a todos que a visitaram, os eventos de capacitação, os Fóruns de Secretários de Ciências e Tecnologia, de Meio Ambiente, de  Turismo e de Reitores, finalizando com a Carta de Macapá, documento que conterá todas as proposituras do Amazontech 2012.

Segundo o chefe geral da Embrapa Amapá, Silas Mochiutti, "no Amazontech tivemos a participação de mais de 20 unidades de pesquisa da Embrapa, possibilitando que o público conhecesse as tecnologias, produtos e serviços gerados pela instituição, para o desenvolvimento de negócios sustentáveis na Amazônia. Foram apresentadas palestras, oficinas, exposições, cultivos e criações que poderão ser adotadas pelos produtores agroextrativistas e utilizadas em políticas públicas na região. Este grande evento somente foi possível pela parceria com o Sebrae, Unifap e Governo do Estado do Amapá", afirma.

O Secretário de Estado da Ciência e Tecnologia, Antonio Cláudio de Carvalho, declara que o Amazontech 2012 é um evento para ficar na história. “Além de tudo está sendo comentado como legado do Amazontech 2012, esse mega evento que teve um papel imperativo para o setor de ciência, tecnologia e inovação do Amapá, pois funcionou como catalizador para que pudéssemos realizar em nosso estado fóruns importantes como: Fórum Nacional dos Secretários Estaduais de Ciência e Tecnologia, Fórum Nacional de Presidentes de Fundação Estadual de Amparo à Pesquisa, Fórum de Secretários de Meio Ambiente dos Estados da Amazônia, Fórum de Secretários e Gestores de Turismo da Amazônia e do Fórum de Reitores das Universidades da Região Norte.Para o setor de CT&I, o Amazontech 2012  ação marcante, digna de registro histórico”, relata secretário de Estado da Ciência e Tecnologia, Antonio Cláudio de Carvalho. 

Para o Reitor da Universidade Federal do Amapá, José Carlos Tavares Carvalho, “o Amazontech se caracterizou como um evento que buscou discutir o desenvolvimento sustentável da Amazônia e seus ideais para a região, isso vai diretamente ao encontro da missão da Unifap, que apesar do seu curto tempo de existência, não se furta em contribuir com o progresso do estado”, finaliza.

O CLIMA EM NOSSO PLANETA ESTÁ MUDANDO MUITO MAIS RÁPIDO DO QUE O ESPERADO

terra_olhoOs últimos relatórios do IPCC apontam que o clima em nosso planeta foi subestimado. Os estudos indicam que o clima está mudando muito rápido, bem mais do que se previa, onde o ritmo da elevação do nível do mar nas últimas décadas é muito maior do que se esperava.

Vale salientar que o IPCC coordena estudos e reuniões para o debate sobre as mudanças climáticas de pesquisadores de dezenas de países, entre eles o Brasil. O último relatório apresentado foi o mais preciso apresentado até hoje, onde o mesmo concluiu que o aquecimento causado por gases poluentes, previstos por cientistas que vem estudando o caso desde os anos 60, continua em ritmo de 0,16 graus centígrado por década, seguindo muito perto as previsões publicadas pelo IPCC.

Os pesquisadores apontaram também que as prévias de elevação do mar seriam de um aumento de 2 milímetros por ano, mas os satélites apontaram uma elevação de 3,2 milímetros por ano, ou seja, quase que o dobro do esperado. Sendo assim, concluí-se que o aquecimento global está maior do que se esperava, ou seja, nós seres humanos não estamos nem ai pro clima, ou pelo menos é o que parece.(Fonte: Oficina Da Net)

ACADÊMICOS QUE CONCLUEM GRADUAÇÃO PODEM PARTICIPAR DO PRÊMIO SEBRAE DE MONOGRAFIA

Por Denyse Quintas

O Prêmio Sebrae de Monografia é um projeto inédito no Sistema Sebrae. As inscrições são gratuitas e estão abertas no período de 15 de novembro a 15 de dezembro de 2012. O prêmio tem como objetivo proporcionar a aproximação entre as Instituições de Ensino Superior (IES) e às Micro e Pequenas Empresas (MPEs), por meio do mapeamento das reais necessidades das empresas e facilitar o acesso dos pequenos negócios aos conhecimentos científicos que são gerados nas faculdades.

Os acadêmicos podem desenvolver monografias, individualmente com o tema O empreendedorismo e seus reflexos no cotidiano amapaense’.

Segundo o diretor de administração e finanças do Sebrae, Waldeir Ribeiro, participam universitários devidamente matriculados na rede de Ensino Superior do Estado do Amapá, concluintes no ano de 2012. “Precisamos cada vez mais aproximar as nossas faculdades do mercado de trabalho, e para isso temos que incentivar nossos alunos que estão cursando o ensino superior a conhecerem mais sobre a nossa realidade e a refletirem de que forma estamos construindo a nossa sociedade, pois em breve serão eles que estarão comandando o destino do nosso estado”,   disse o diretor do Sebrae, Waldeir Ribeiro.

De acordo com o diretor Waldeir, fica vedada a participação de pessoas que trabalhem no Sebrae, além das demais entidades que, de alguma forma, participem ou apoiem a viabilização do concurso, membros da Comissão Julgadora, incluindo as empresas ou entidades nas quais estes membros trabalhem ou sejam afiliados e dos responsáveis pela execução do concurso, bem como de seus respectivos cônjuges, companheiros ou parentes naturais ou afins, até 2° Grau, assim como quaisquer pessoas envolvidas diretamente na execução do Concurso.

“Queremos solicitar o apoio dos professores, coordenadores de curso e dirigentes das Faculdades e Universidades do Amapá nesse projeto, pois essa é uma oportunidade maravilhosa para os universitários que estão concluindo sua graduação em 2012, porque além de contribuírem para o desenvolvimento do nosso estado, ainda poderão ganhar valiosos prêmios”, conclui o diretor de administração e finanças do Sebrae, Waldeir Ribeiro.

Premiação

Serão premiados três trabalhos científicos, serão os mais focados e alinhados com a realidade e necessidades das MPEs amapaenses.

1º Lugar: publicação de 1 mil exemplares da monografia; uma bolsa de estudo integral de pós-graduação no Centro de Ensino Superior do Amapá (Ceap), ofertada pela IES; e uma passagem aérea Macapá – São Paulo – Macapá, com hospedagem e translado pagos pelo Sebrae no Amapá, para o autor e o orientador, para participarem do Congresso de Gestão de Conhecimento com a finalidade de divulgação da obra;

2º Lugar: Meia bolsa de estudos de pós-graduação no Centro de Ensino Superior do Amapá (Ceap), ofertada pela referida instituição; dois (2) Notebooks, sendo um (1) para o autor e um (1) para o orientador;

3º Lugar: dois (2) Tablets, sendo um (1) para o autor e um (1) para o orientador.

Informações pelo telefone: (96) 3312-2834 ou acesse o link  http://www.sebrae.com.br/uf/amapa/melhore-sua-empresa/premio-sebrae-monografia

terça-feira, 27 de novembro de 2012

A POROROCA ESTÁ SUMINDO (*)

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Texto de Hélio Pennafort

Vários rios amapaenses ficaram conhecidos mais pelo seu lado pororoqueiro do que por sua extensão ou por sua importância sócio-econômica. Tudo por conta das estórias de embarcadiços e estórias de pescadores que corriam por este mundo a fora dando conta de ondas gigantescas que revolucionavam a embocadura dos rios, derrubando árvores, empurrando a ribanceira mais para dentro, espantando a tralhotada e emborcando incautas igarités ou barcos desavisados que achavam de passar naquela hora lá por perto. Fatos reais se misturavam à fantasia. Entre os reais alguns bem tristes. Como o naufrágio de uma pequena canoa-motor-de-popa às proximidades do igarapé Maruani, afluente do Rio Cassiporé, que provocou a morte do médico Lélio Silva e do comissário de policia Deusdeth, que estava na região a serviço do governo do Território. Na embarcação ainda se encontravam a enfermeira Nair Guarany Lemos e dois caboclos que escaparam porque sabiam nadar e tiveram muita sorte. Eles baixavam o Cassiporé em direção à vila de Taperebá. Quase na hora da pororoca passar, encostaram na margem por medida de segurança. Já se ouvia a zoada. Minutos depois, apareceram as primeiras ondas. Quando passaram, acordando o barranco, o Deusdeth insistiu para que todo mundo embarcasse na canoa e seguisse viagem. De nada adiantaram as ponderações da enfermeira Nair e dos caboclos. Lá se foram. Só que o comissário, que pilotava a canoa, subestimou o banzeiro da retaguarda, tão perigoso quanto as ondas de linha de frente. Resultado, a canoa virou. Dr. Lélio e Deusdeth, que não sabiam nadar desapareceram na escuridão barrenta do Cassiporé. Dias depois encontraram os corpos abaixo da vila do Taperebá. A uns 30 quilômetros do local do acidente.

Outro estrago que a pororoca fez foi às proximidades da Ilha do Maracá. Ivanildo dos Santos, Orlando Cordeiro e Antonio Maranhense passavam por ali há três dias, sem nenhum problema. Tripulavam a canoa “Dois Amigos”, usada na pesca da Gurijuba. De repente, eles se viram na maior enrascada da vida. Na época – já lá se vão uns vinte anos -, eu narrei o fato para a Rádio Educadora: “acompanhada de poderosas ondas, a enchente apanhou a canoa de surpresa e a ventania começou por rasgar a vela, quebrar o mastro e, finalmente, afundá-la. Ivanildo, Orlando e Antonio ficaram assim, repentinamente, ao sabor das ondas que de tão altas não deixavam ver o mato”. Agarrados na canoa-de-leme, os náufragos, de inicio, se limitavam a balançar lentamente os pés para garantir a cabeça fora d’água e poupar energias, pois a distância a vencer não era pequena, embora contando com a correnteza para ajudá-los. Ivanildo e Orlando, por serem mais jovens, estavam resistindo bem ao impulso das ondas. Na metade da terrível jornada, entretanto, Antonio Maranhense começou a implorar ajuda dos companheiros. Conta Ivanildo: “Primeiro ouvimos ele pedir para que nos desse a mão para ele ajudar a se sustentar na canoa-de-leme. Depois ele começou a querer nos agarrar, pra vir na costa da gente. Nós vimos que o homem estava desesperado, mas não deu... Se fizesse o que ele queria, morria todo mundo. Largamos ele e viemos embora. Gastamos quase toda a maré (enchente) para alcançar a beira. Ficamos horas e horas de bubuia”. Outro caso entre os inúmeros registrados na Costa Norte amapaense, aconteceu com dois barcos de propriedade do governo. O iate São Luiz, mal atracado no Marcílio Dias, não resistiu à passagem de uma rebarba de pororoca perto do Ariri e foi para o fundo em questão de minutos. Fim humilhante para um vigoroso barco acostumado a enfrentar vagalhões na rota Macapá/Oiapoque, que cobria regularmente. Em pane, vinha sendo rebocado pelo Marcílio quando pegou o rabo da maré. E só não venceu mais esse desafio das ondas porque não tinha um filho-da-mãe para segurar o leme. Ficou indefeso, desequilibrado.

A pororoca avisa com alguma antecedência quando vai aparecer. Escuta-se ao longe um barulho mais ou menos parecido com o que sai quando a gente sopra na boca de uma garrafa. E vai aumentando, aumentando até que aparecem as primeiras ondas, seguidas de um barulho d’água que às vezes mete medo. Imediatamente à passagem das ondas precursoras, o nível do rio aumenta visivelmente. E a força da correnteza vai tocando rio adentro tudo o que derruba ou encontra pelo caminho. Toras de madeira, galhos de árvores, troncos de miritizeiros. Feita a desarrumação costumeira, a pororoca desapareceu no dobrar do primeiro estirão, o rio já encheu mais um metro. A aos poucos a tranquilidade volta ao lugar. Essa descrição é de quem assistiu ao fenômeno na embocadura de um rio. Dentro dele, numa parte que seja relativamente estreita, além da zoada e do borbulhar, escuta-se também o quebrar dos galhos e o cair das árvores que não estejam bem fincadas.

A mais famosa das pororocas movimenta a foz do rio Araguari. Mormente nos três primeiros meses do ano quando aparecia com toda a aterradora exuberância. A sua fama chegou ao Japão. Uma das principais redes de televisão japonesa, a NHK, mandou sua equipe acampar numa das fazendolas do Araguari. Levou imagens sensacionais que causou espanto à japonesada. Amaral Neto, no tempo em que se dedicava ao jornalismo, também levou daqui boas reportagens sobre a pororoca, um fenômeno que ainda hoje é desconhecido até mesmo pela maioria dos amapaenses e quem não a viu quando era grande, paciência.

Chegam notícias de seu desaparecimento paulatino. Principalmente a do Araguari, por culpa do assoreamento do rio, segundo os entendidos. Pode ser. Porque até hoje ninguém informou com detalhes o que é uma pororoca. Dizer que é o encontro da água do rio com a água do mar é papo furado. Se fosse assim, todos os rios tinham a sua pororoca. Por enquanto a explicação mais aceitável é que ela seja o resultado da formação topográfica do leito do rio com a força da maré no início do fluxo. Isso justifica até o fato de a pororoca às vezes crescer, às vezes diminuir de intensidade. A força da maré, afinal, recebe também influência da lua. Só que agora ela está sumindo mesmo.

Adauto Pantoja mora na fazenda Bom Amigo, na foz do Araguari. Sua casa serviu de base de operações para a equipe da TV NHK e da Rede Globo. “Está havendo muita mudança com a pororoca. Ela já foi muito porruda agora está pequena. E antes era mais forte em março e abril. Já esse ano cresceu mais em fevereiro. Mas para o que era, esta diminuíndo muito”, disse Adauto. Francisco Paulino Rodrigues, o Careca (40 anos), nasceu no Cassiporé e desde os dez anos trabalha embarcado. Começou numa canoa a vela de seu pai, Dico Batista, fazendo viagem para Oiapoque levando melancias, jerimuns, porcos e galinhas. Hoje tem um barco motorizado e dedica-se a pesca no litoral. “Eu já me alaguei uma vez no Bailique quando fui surpreendido por uma pororoca muito menor do que a que tinha no Araguari. Faz algum tempo. O erro foi meu que não coloquei a canoa no canalão. Fundeei numa parte mais ou menos rasa e quando a pororoca apareceu fez o estrago. Mas deu para eu recuperar o barco e não aconteceu nada com os tripulantes”. Falando com desenvoltura enquanto descarrega o peixe na doca do Igarapé das Mulheres. Careca garante que a pororoca do Araguari esta diminuindo em olhos vistos. “Quando ela estava no pique, alcançava até mais de cinco meros de altura. Hoje talvez nem chegue aos dois nos dias em que ela apareceu maior.” Consumindo até quinze dias em cada jornada de pesca, Careca acha uma explicação para o desaparecimento da pororoca do Araguari: “O rio, na foz, está bem raso. E continua secando. Daí ela perde a força porque a pororoca precisa de uma quantidade certa de água para crescer. Nem muito fundo, nem muito raso.”

(*) Publicado no jornal “A PROVINCIA DO PARÁ”, página JORNAL DO AMAPÁ Nº 321 – MACAPÁ, 03 DE NOVEMBRO DE 1991

POEMAS DE PAULO TARSO BARROS


Paulo Tarso Barros

O SUPREMO DEFENSOR DA TERRA


Há de se revelar brevemente
o supremo defensor da Terra,
o amante exuberante da vida,
o paladinos
dos rios,
das florestas,
dos bichos
e de todas as plagas do planeta.

Ele não será um semideus
ou um extraterrestre,
um bruxo cheio de sortilégios
nem tampouco um guerreiro quixotesco
a cavalgar pangarés de sonhos
e a exterminar pesadelos poluídos.

Há de se revelar brevemente
o supremo defensor da Terra,
o ser amoroso, fraterno e altaneiro
que brotará pelos quadrantes
e caminhará pelos continentes,
estará presente nas galerias polares,
nos desertos mais causticantes
e na magnitude dos oceanos
e pelos córregos mais bucólicos.

Ele, o supremo defensor da Terra,
transformar-se-á aos poucos
no filho mais dedicado e amoroso
e a natureza, mãe de infinitos milagres,
doará o mais puro oxigênio
do seu pulmão maternal e fará crescer
florestas, perenizará rios e
salvaguardará as espécies da extinção.

Há de se revelar brevemente,
dentro de cada um de nós,
esse ferrenho defensor da natureza.
E a polifonia do amor triunfará
sobre todos os seres
e todas coisas vivas.

Tenho esperanças de que há de se revelar,
dentro de cada um de nós,
o incomensurável instinto filial,
o apego ao ninho ancestral,
ao barro e ao verbo que nos construíram
sob o divino olhar de poeta do Criador.

POESIA


Na dúvida,
esqueça a poesia.
Poesia é obsessão
incessante,
incêndio aparentemente trivial
que vira fogo contumaz.

Na dúvida,
não leia:
ou pelo menos não desencante
o sonho, a música, a alma
intangível dos poemas universais
que dão sentido ao fugaz existir.

Na dúvida, esqueça a poesia.
Poesia é sangue
eternamente puro,
eternamente efervescente,
o sentir que sente e permanece:
poesia.

O rio da minha infância

Deságua sonhos e visões
Na curva indelével da memória.
O tempo, que é percepção,
Abstrato e conceitual,
Inunda os dias meus,
Pororoca minhas lembranças mirins,
Seca e  extingue, às vezes,
Os escassos momentos de alegria
- fazendo blitze nos pesadelos arcaicos.

Sou como um peixe volátil
Que foge das iscas fáceis,
Do arpão assassino e famélico,
Da cachoeira e dos redemoinhos traiçoeiros
que destroçaram veleiros da Antigüidade.

O rio da minha infância,
Se não é minhas lágrimas,
Com certeza é o meu cálice doce e suave,
Sem espumas, que apenas me faz fechar os olhos
E voltar-me, com outros olhos,
Para um lugar cada vez mais distante
A dissolver-se, como as brumas da noite torta,
Por entre os fantasmas olvidados e caducos ...

O rio da minha infância,
Miúdo e tão abundantemente infinito,
Corre entre as veias do meu corpo,
envelhece com suas lágrimas,
Pois esse rio tão metafísico e sutil
É mesmo as minhas lágrimas!