Publicado no jornal “A Gazeta” de domingo, 14/02/2010
Durante o carnaval as polêmicas e confusões entre escolas de samba se acirram, os blocos se desesperam com o tempo exíguo para o dia dos seus desfiles e os olhos do “suprimo” Pennaforzinho parece que vão saltar das órbitas ao trabalhar na construção das bonecas da Banda, como o faz todos os anos. A preocupação é geral, afinal ao meio disso está uma salutar disputa que congrega milhares de brincantes, comunidades e profissionais de diversas áreas e artes, todos esperando fazer um espetáculo ousado e bonito, em nome de um enredo operístico e bem brasileiro pela passarela do samba.
O rádio é o maior veículo de divulgação dessa atividade. Nessa ocasião se multiplicam os programas específicos e bem formatados. Mas junto deles muitas rádios abrem programas feitos por carnavalescos “pavulagens”, por radialistas “de araques” e por agentes emissores de opiniões esdrúxulas e sem fundamento. Tudo em nome da paixão pelas suas agremiações, que nem sempre correspondem ao que eles falam ou se aproximam de suas verdades históricas. Há, inclusive, ofensas pessoais e coletivas que podem ser resolvidas pacificamente depois do resultado final, ou às tapas dentro do período momesco, e dentro ou fora dos estúdios das rádios. Eu mesmo já vi muita coisa acontecer quando me dispunha a desfilar por escolas em que fiz inúmeros sambas-enredos. Vi muita gente se babar de alegria porque estava sendo homenageada, assim como choro e ranger de dentes porque um carro alegórico se desmantelou na avenida. Vi confusões e disputas físicas realizadas por provocadores profissionais que após o resultado se dirigiam à comunidade rival para ridicularizar os brincantes. Vi amores perdidos em plena avenida, durante a excitação sensual das passistas e destaques e, por fim, vi escolas inteiras sendo arrastadas e engolidas pelo cronômetro, sob pena de perder pontos – a inflexibilidade do tempo. Mas devo dizer, sim, que vi o Rei Momo chorar quando sua escola preferida passou na passarela, feia e desmotivada, como um bando de flagelados se retirando de uma seca implacável. Ela foi rebaixada. Foi triste. Mas voltou radiante sob o canto da Nação amada.
O carnaval é uma instituição empolgante. Quem gosta do samba raramente se afasta. O Rogério, da Universidade de Samba Boêmios do Laguinho, é um exemplo disso. Perdeu as duas pernas no acidente em que morreu o vice-presidente Nilson, nosso amigo conhecido por “Bode”, porém não se afastou e desfilou no ano seguinte em cadeira de rodas e os últimos metros da pista com próteses.
Faltam poucas horas para o desfile da Universidade. Será uma disputa diferente porque todos os anos mudam o regulamento, talvez numa tentativa de acertar que sempre causa confusão e polêmica. Mas as polêmicas são necessárias. Desde que não sejam chinfrins valorizam o carnaval.
Há algumas horas outras escolas passaram na Ivaldo Veras, também contagiando seus públicos fiéis com seus sambas de empolgação e seus carros alegóricos. Elas são, agora, o orgulho dos seus lugares, dos seus bairros, e das famílias dos que fazem o carnaval. Êita, alegria danada! Só quem faz o carnaval é quem sabe da sua motivação e da valorização interior de cada brincante que veste uma fantasia. A transformação se mede pela energia de cada um deles na avenida.
Com polêmica, com pimenta ou não, o importante é brincar e disputar com a certeza de vencer, pois todo o esforço para isso merece ser recompensado. Évoé, Momo! Que vença a Nação Negra com seu maravilhoso enredo “Índio que te quero lindo”, afinal “sou Laguinho, sou raiz/ Sou Boêmios, sou feliz”. Vamos lá, Laguinho.
Já estava tudo armado ô meu compadre (filho da DONA SAÚDE.
ResponderExcluirpara se afirmar que já estava tudo armado é preciso ter provas, acusar é muito fácil, mas provar que é bom ninguém faz. temos que ser mais flexivéis e aceitar quando sofremos uma derrota, mesmo quando essa derrota é hipotetica, já que as notas não foram todas apuradas, por conta da confusão desnecessária.
ResponderExcluirse essa moda de bater pé e fazer birra por conta de uma contariedade ou insatisfação pegar, o Amapá vai ficar muito famoso no âmbito nacional e internacional, já que a mídia adora mostrar baixaria, principalmente quando o cenário é um lugar considerado sagrado para a nossa cultura.
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